A Polícia Civil vai investigar a conduta dos policiais que registraram o boletim de ocorrência da mãe que denunciou um homem de 36 anos após ele ter enviado um bilhete a uma menina de 13 em Palhoça, na Grande Florianópolis. Na anotação, ele pede que a adolescente, que brincava no parque de um condomínio, o chame em um aplicativo de mensagens por ter a achado “muito linda”. Durante o depoimento, agentes teriam corroborado com a versão do suspeito de que a jovem poderia ser confundida com uma “mulher de 18 anos”.

Continua depois da publicidade

Receba notícias de Santa Catarina pelo WhatsApp

De acordo com a mãe da adolescente, na segunda-feira (31), após discutir com o homem que tinha entregado o bilhete, ela foi encaminhada por uma equipe da Guarda Municipal do município à delegacia de plantão de Palhoça. Porém, no local, o agente de plantão registrou o caso como “vias de fato”, ou seja, pela agressão da mulher contra o suspeito. Ao questionar sobre a conduta, o policial teria confirmado a versão dada pelo homem de que a menina poderia ser confundida com alguém com mais de 18 anos.

— Eles registraram um boletim de ocorrência como se fosse agressão e não assédio. Na hora eu questionei: “Como vou registrar uma denúncia contra mim mesma?”. Nisso, ele pediu para outra parceira [agente da polícia] se a minha filha poderia ser confundida com uma mulher, e ela confirmou que sim — explica.

Polícia investiga bilhete entregue a menina de 13 anos por homem de 36: “Te achei linda”

Continua depois da publicidade

A mãe conta que no documento consta que ela seria a autora do suposto crime, enquanto o homem seria a vítima. Além disso, a criança aparece como testemunha do caso.

— No lugar onde teoricamente era para eu ser amparada e minha filha protegida, eu fui descredibilizada e ainda diminuída — complementa.

No dia seguinte, ela enviou um e-mail à Corregedoria da Polícia Civil, questionando a conduta dos agentes. Já na segunda-feira (7), participou de uma reunião com o titular da Delegacia de Proteção à Criança, à Mulher, ao Adolescente e ao Idoso (Dpcami), que informaram que o caso está em investigação.

Catarinense precisa trabalhar 39 horas a mais para comprar cesta básica do que há 5 anos

Segundo a coordenadora das Dpcamis em Santa Catarina, Patrícia Zimmermann, os fatos relatados pela mãe da adolescente serão averiguados. Ela explica que, toda conduta de policiais civis, que vão contra a legislação ou desrespeitam alguém, são alvo de investigação da corporação.

Continua depois da publicidade

— Toda a conduta que é dita como irregular é averiguada. A pessoa pode ter uma advertência verbal, incapacitação. Se for infração administrativa, pode gerar uma investigação administrativa disciplinar — pontua.

O Diário Catarinense entrou em contato com a Polícia Civil para saber mais detalhes da investigação, mas não obteve retorno até a publicação.

“Não pode achar normal”

O caso ocorreu em 31 de outubro em um condomínio de Palhoça. A adolescente brincava no parquinho em frente ao prédio, com outras crianças, quando foi abordada por um menino mais novo que perguntou a idade e o nome dela.

Segundo a mãe da menina, o garoto voltou minutos depois e entregou o bilhete à menina, que dizia “Pode chamar! Te achei lindaaaa… [sic]”, com um número de telefone anotado e corações desenhados.

Continua depois da publicidade

— Ela pegou o bilhete, leu, não entendeu. Viu que o homem a estava encarado. O vigilante do condomínio estava começando o plantão, e ela entregou o bilhete na mão do vigilante. Ele já perguntou para as crianças, foi fazer apuração dos fatos — conta a mãe.

Foi o vigilante que contou à mãe que o suspeito tinha 36 anos e estava no condomínio ao lado. Após receber o bilhete, a mulher, então, foi questionar o homem a respeito do recado.

— Perguntei para ele por que tinha feito aquilo, se sabia que ela era uma criança. Ele falou que ele fez realmente, mas que achava que era uma mulher maior de idade. O “sangue subiu” e eu acabei batendo nele — pontua.

Uma semana após o ocorrido, a mãe conta que a menina ficou desesperada com a situação e que chegou a dizer que estava “acostumada” com este tipo de investida.

Continua depois da publicidade

— Ela disse que já tinha acontecido alguns episódios parecidos, que estava acostumada. Mas ela só tem 13 anos. Eu disse que a gente não pode normalizar, não pode achar normal, o fato de um homem adulto mandar um bilhete para uma criança — diz.

O caso também é investigado pela Dpcami de Palhoça. Segundo a delegada Gisele de Faria Gerônimo,  a mãe da menina e a adolescente já foram ouvidas. O inquérito deve ser finalizado em até 30 dias.

Confira a íntegra da nota da Polícia Civil

A respeito da conduta dos policiais civis, a Corregedoria da Polícia Civil de Santa Catarina informou que está ciente dos fatos e apura a situação.

Em relação à denúncia criminal feita contra o homem, o inquérito policial foi instaurado pela DPCAMI (Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso) da Polícia Civil em Palhoça.

Continua depois da publicidade

Leia também:

UFSC vive tensão e revolta após episódios de nazismo

“Nazistas têm se sentido mais à vontade para agir”, diz especialista