A industrialização e a chegada das máquinas motivaram o êxodo rural dos alemães. Essa saída do campo levou ao inchaço dos centros urbanos, que como consequência trouxe desemprego e fome. Para escapar disso, muitos escolheram deixar a Europa para buscar uma vida melhor, e encaravam três longos meses de viagem em meio ao frio, à falta de alimentos, medicamentos, em situações por vezes deploráveis. Mas nem sempre o fato de desembarcar em uma terra nova era sinônimo de prosperidade.
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A partir de 1840 chegavam à Alemanha boatos de que imigrantes germânicos estavam passando por dificuldades no Brasil. Alguns relatos indicavam até condições desumanas vividas por aqueles que queriam buscar uma realidade diferente das dificuldades enfrentadas na Europa.
Isso motivou a Sociedade de Proteção aos Imigrantes do Sul do Brasil a mandar Dr. Blumenau pela primeira vez às terras tupiniquins, a bordo do veleiro Johannes, em 30 de março de 1846, no Porto de Hamburgo. O objetivo era de averiguar essas supostas situações. Mas o jovem Hermann, então com 26 anos, tinha outra ideia em mente: a de estudar e conhecer as colônias existentes no Rio Grande do Sul para, então, projetar uma colônia-modelo no país.
Blumenau estava em Hamburgo, cidade portuária, local em que construiu a vida social. De lá embarcou e viveu pouco mais de três meses dentro do veleiro para chegar às terras brasileiras no início de agosto daquele ano. O jovem, então com 26 anos, desembarcou no porto de Rio Grande, onde começou o trabalho de estudos das colônias existentes na região Sul do país.

Foi justamente por visitar in loco esses locais, que Hermann percebeu erros e acertos. Esses aspectos negativos e positivos o fizeram imaginar como seria a construção de uma “dorf” – um tipo de vilarejo ideal – destinada à vida de imigrantes em harmonia.
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– Dr. Blumenau por conta dessa experiência que teve nas colônias do Rio Grande do Sul, do Paraná e de Santa Catarina, percebeu prós e contras e, naturalmente, usou a ser favor nas ideias da formação da colônia – explica a diretora do Patrimônio Histórico da cidade de Blumenau, Sueli Petry.
Um ano depois de chegar ao Porto de Rio Grande, Dr. Blumenau começou a elaborar a construção de um local que fosse lar para imigrantes europeus, mais especificamente os alemães. Essa ideia, inclusive, chegou a ser apresentada à corte que achou que ela fosse “útil e vantajosa”, conforme consta no livro “Colônia Blumenau no Sul do Brasil”.
O problema é que a proposta não foi aprovada pela Assembleia Legislativa, deixando Hermann Blumenau a ver navios. Sem apoio do governo imperial ou até mesmo do Império Alemão, ele teve de buscar recursos para adquirir terras e tirar o sonho da colônia-modelo do papel.
“É muito lamentável que nenhum poder alemão tentou interessar-se, realmente, por este assunto de extrema importância. Isto é, unir os emigrantes em uma colônia livre, onde não se sentissem tão distantes de sua pátria, evitando que ficassem dispersos em vários regiões, sobre o domínio de um governo estrangeiro”, escreveu Hermann Blumenau no artigo A Emigração e a Colonização Alemã.
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Viagem de canoa motivou escolha pelas margens do Itajaí-Açu
Depois da negativa dos recursos para a construção da colônia, Hermann Blumenau voltou para Desterro, atual Florianópolis, e chegou a passar alguns meses em São Leopoldo, Três Forquilhas e Torres, no Rio Grande do Sul. Em terras gaúchas, recebeu a proposta de administrar uma localidade com 2 mil imigrantes recém-chegados, mas recusou. A ideia de formar a própria colônia era mais forte e isso o motivou a procurar o lugar ideal para comprar terras e estabelecê-la.
Entre dezembro de 1847 e janeiro de 1848, Dr. Blumenau se encontrou com Ferdinand Hackradt, seu sócio, e iniciou uma viagem pelo Rio Itajaí-Açu. O canoeiro responsável por levar a dupla era Ângelo Dias, um conhecedor da região, o que deu confiança para os dias difíceis em meio à mata que viriam pela frente.
Passaram pela região do Morro do Baú, hoje Ilhota (que então era uma colônia belga), atravessaram Gaspar, até que atracaram próximo ao Ribeirão da Velha. De lá, seguiram para o Bom Retiro, Garcia, Salto, Passo Manso, Fortaleza, Rio do Testo. Ambos gostaram do local e chegaram até a estender a viagem nas proximidades do que hoje é Indaial.
De acordo com a historiadora Sueli Petry, diretora do Patrimônio Histórico de Blumenau, tanto Hermann quanto Hackradt gostaram muito do que viram na região. A existência de um solo que possibilitava plantações e a fauna e flora existentes foram fatores motivadores para a escolha daquele vale, às margens do Itajaí-Açu, para a formação da colônia. Mas faltava um pequeno problema: conseguir dinheiro para comprar essas terras.
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Podcast
O terceiro episódio da série De Hermann a Blumenau, veiculada na Atlântida FM, você pode conferir abaixo: