Silenciados os protestos que balançaram a Turquia do primeiro-ministro islâmico Recep Tayyip Erdogan, o país reviveu na segunda-feira episódios de tumulto e bombas de gás lacrimogêneo com a reação ao julgamento do chamado caso Ergenekon.

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Entre 275 acusados, 13 pessoas foram condenadas à prisão perpétua por tentativa de golpe de Estado, entre eles, o ex-chefe do Estado-Maior entre 2008 e 2010, general Ilker Basbug.

A acusação que gerou o megaprocesso remonta a junho de 2007, quando a polícia recebeu um telefonema anônimo alertando para a presença de explosivos em um apartamento em Istambul. No local, propriedade de um oficial, foram encontradas 27 granadas e armas. O julgamento ficou conhecido como caso Ergenekon, referência a um mítico vale que teria sido o berço do povo turco e também nome da rede acusada de tentativa de golpe, semeando o caos com atentados e operações de propaganda.

A promotoria sustenta que a condenação termina com a impunidade histórica do chamado “Estado profundo”, uma rede de militares, políticos laicos e nacionalistas, empresários e líderes civis que, ao longo de décadas, recorreram a métodos antidemocráticos para se manter no comando. A oposição alega que se trata de “caça às bruxas” contra forças laicas por parte do governo islâmico de Erdogan, que, nos últimos anos, demonstrou inclinação autoritária.

O país tem tradição de golpes militares – foram quatro desde 1960. Quando Erdogan assumiu, em 2002, deu início a uma luta para debilitar a cúpula militar, então poderosa e receosa da ascensão do islamismo.

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Em setembro passado, a Justiça já havia condenado à prisão 322 oficiais de alta patente das Forças Armadas por tentarem depor Erdogan em 2003, em um episódio que pretendia supostamente gerar caos na Turquia para deixar a via livre para o Exército tomar o poder. Os três generais condenados nesse caso foram sentenciados à prisão perpétua, mas deverão ficar menos de 20 anos presos.

Ontem, cerca de dez mil manifestantes contrários ao governo e à sigla de Erdogan, o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), reuniram-se diante do tribunal de Silivri, onde foram registrados confrontos com a polícia, que lançou gases lacrimogêneos para dispersá-los. Exibindo bandeiras nacionais e retratos de Mustafá Kemal Atatürk, o pai da república laica, os manifestantes pediam o fim do fascismo e a renúncia do primeiro-ministro.

Entre os demais condenados à prisão perpétua estão o ex-chefe da polícia Sener Eruygur e o ex-comandante do primeiro regimento Hursit Tolon, assim como sobre o jornalista Tuncay Özcan e o chefe do pequeno Partido dos Trabalhadores (PT, nacionalista), Dogu Perinçek. O conhecido jornalista Mustafá Balbay, do jornal de esquerda Cunhuriyet, eleito durante sua prisão deputado pelo principal partido opositor (CHP, pró-laico), foi sentenciado a 35 anos de prisão.

Em um relatório divulgado em 23 de julho pelo Partido Republicano do Povo, de oposição ao governo, a Turquia figurava como o país com mais jornalistas presos no mundo, com 65 repórteres detidos acusados de colaborar com organizações terroristas.

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