O desembargador catarinense Victor Luiz dos Santos Laus ainda proferia seu voto sobre a apelação apresentada pela defesa do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva no caso do tríplex do Guarujá (SP), às 17h10min desta quarta-feira, quando a torcida dos militantes em Porto Alegre por um resultado menos desastroso para o ex-presidente foi por água abaixo. O calor escaldante do dia inteiro se transformou em uma chuvarada que acabou com o pouco movimento que persistia no Anfiteatro Pôr do Sol, onde os manifestantes estavam acampados desde terça-feira. A derrota por unanimidade complicou as pretensões do petista de concorrer ao Planalto em outubro e mudou a palavra de ordem dos movimentos que o apóiam.

Continua depois da publicidade

A 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4a Região (TRF4) não apenas manteve a condenação a Lula por lavagem de dinheiro e corrupção passiva, determinada pelo juiz Sergio Moro em julho de 2017, como aumentou sua pena para 12 anos e um mês em regime fechado. Com o placar unânime de 3 a 0, restou aos advogados do petista entrar com embargo de declaração (que, em teoria, somente esclarece pontos da sentença, sem alterar a decisão), além de recorrer aos supremos tribunais de Justiça (STJ) e Federal (STF). Enquanto os recursos não forem julgados, Lula pode disputar as eleições de outubro. A candidatura dele deve ser lançada nesta quinta-feira. A previsão é de que até setembro haja uma decisão definitiva.

Por mais que no chamado “Acampamento pela Democracia” imperasse um clima de “cartas marcadas” quanto ao julgamento, o dia começou animado no local. O prometido telão que exibiria a sessão ao vivo foi substituído por informações esparsas sobre o andamento dos pronunciamentos dos desembargadores, divulgadas pelos oradores do alto de um caminhão de som. Mas os relatos, esparsos, pessimistas e ouvidos somente por aqueles que estavam próximos ao veículo, serviram para esvaziar o interesse pelo desfecho judicial. Os demais (a organização estimou em 40 mil pessoas), espalhados pelo terreno e pela avenida Edvaldo Pereira Paiva, preocupavam-se com outras causas.

No grande bazar de reivindicações encontradas na aglomeração, havia gente defendendo direitos para LGBTs, petroleiros (facilmente identificáveis, com suas jaquetas alaranjadas), aposentados, professores, funcionários públicos e trabalhadores da saúde, entre outros. Uma das poucas fontes sobre o julgamento era uma caixa de som em cima do bagageiro de um carro. No entanto, nem o pequeno grupo que escutava com atenção o primeiro desembargador a falar, João Pedro Gebran Neto, aguentou por muito tempo – e aí é impossível precisar se por causa do sol, das mais de três horas de palavreado em tom monocórdio do relator da operação Lava Jato no TRF-4 ou por já desconfiar do seu veredito.

Decisão causou desânimo na caravana de SC

Continua depois da publicidade

O 2 a 0 decretado pelo desembargador Leandro Paulsen deu a largada para a despedida – mais por causa da hora em que a maioria das caravanas se programou para voltar para casa do que por significar a condenação de Lula. A essa altura, a movimentação se limitava a um canto do parque, embalada por cantores nativistas no caminhão de som. Na vez de Laus votar, a delegação da Grande Florianópolis, composta por 13 ônibus, já se preparava para ir embora. O vento que antecedeu o temporal chegou a derrubar os pilares que sustentavam as lonas sobre as barracas.

– Não há outra atitude a tomar que não seja continuarmos mobilizados. Vamos lutar para mostrar a sociedade que isso é uma farsa. Tanto que não temos plano B. É Lula até o fim – afirmou o vereador da capital, Lino Peres (PT), resignado.

Laus teceu um voto didático. Disse que a acusação tinha provas documentais e testemunhais e aderiu à posição dos colegas de turma. Era o derradeiro: 3 a 0.

– Temos de formar convicção com provas verossímeis. Ao longo do processo, elas resistiram à defesa. Ficou demonstrada a acusação que vem a juízo – afirmou Laus.

Continua depois da publicidade

Ao cabo do julgamento, o tribunal manteve o restante da sentença de primeira instância, condenando os executivos da OAS Agenor Franklin Magalhães Medeiros e Leo Pinheiro mas reduzindo a pena, e absolvendo os demais quatro réus, entre eles o ex-presidente do Instituto Lula Paulo Okamotto.

Os problemas de Lula com a Justiça, no entanto, não se encerram neste julgamento. O ex-presidente ainda é réu em cinco processos, foi denunciado em outras duas ações penais e responde a um inquérito.