Pegou de surpresa a transação bilionária envolvendo duas gigantes da tecnologia. Ao comprar a divisão de celulares da Nokia, uma das líderes mundiais, a Microsoft promete entrar de vez no concorrido mundo dos smartphones. A notícia é boa para os consumidores já que o negócio – em tese – fortalece uma terceira via em um mercado bastante polarizado. A disputa, no entanto, não se dá no tamanho ou no formato do telefone, mas no sistema operacional que cada um utiliza.
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Enquanto a Apple produz o próprio aparelho e investe no seu sistema operacional iOS para atrair usuários, a coreana Samsung, atual líder nas vendas de celulares, utiliza o sistema criado pelo Google, o Android.
Com a aquisição, a Microsoft passa a contar com um braço próprio de produtos para expandir a oferta de seu próprio sistema operacional. O movimento segue a estratégia do Google, que comprou a Motorola, no ano passado, para ganhar força frente à Apple, que sempre trabalhou software e hard-ware de forma integrada.
Durante o anúncio da aquisição da Nokia nesta terça, na Finlândia, a empresa de Bill Gates divulgou planos de triplicar sua participação no mercado de celulares e de smartphones para 15% dentro de cinco anos. O objetivo é vender 1,7 bilhão de aparelhos até 2018, obtendo um lucro de US$ 45 bilhões, de acordo com documentos apresentados para investidores.
Para Tuong Nguyen, analista da consultoria Gardner, o sucesso do negócio é incerto e depende de muitos fatores. O principal deles é tornar o sistema da Microsoft mais popular. Com tradição no mercado de computadores, a empresa chegou um pouco atrasada na era dos smartphones e parece ter dificuldade para achar um nicho de negócio: não tem a exclusividade da Apple e nem a popularidade do Android.
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– A demora custou caro, mas é tudo muito dinâmico. É um mercado de transformações muito rápidas. Quem para para descansar fica para trás. E aí está a oportunidade – diz Nguyen.
De acordo com especialistas, falar em avanços tecnológicos ainda é cedo, mas a liberdade para criar os próprios aparelhos pode sinalizar melhorias no produto. Vendida por US$ 7,17 bilhões, a Nokia estava longe de viver o auge nos negócios. Depois de ser líder na venda de aparelhos por mais de uma década, a empresa tomou decisões ruins e viu sua participação no mercado despencar nos últimos cinco anos. A principal delas envolve justamente a escolha pelo sistema operacional.
Enquanto a maioria dos fabricantes optou por se aliar ao sistema Android, criado pelo Google, os finlandeses decidiram seguir o caminho de Steve Jobs e criar um sistema próprio, o Symbiam. O plano, no entanto, não deu certo e a companhia foi obrigada a procurar uma parceria depois de amargar prejuízos durante vários trimestres. A escolha, feita dois anos atrás, foi a Microsoft.
– Já existia um alinhamento comercial, mas eram duas diretorias pensando de maneira separada. Agora é um passo novo, o que é bom, principalmente em um momento em que a venda de smartphones supera a de telefones convencionais. Trazer novidade ao cliente passa a ser prioridade – avalia Dane Avanzi, advogado e especialista em telecomunicações.
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Em maio, a venda de smartphones ultrapassou pela primeira vez a de celulares tradicionais no Brasil segundo a consultoria International Data Corporation (IDC). O levantamento aponta ainda que as vendas desses aparelhos cresceram 110% em relação ao mesmo período do ano passado.
– Celular acaba se tornando objeto de prioridade para as pessoas, que utilizam o aparelho para várias coisas. Falar tem cada vez menos relevância. O que importa são os aplicativos e isso passa pela escolha do sistema operacional. Certamente a Microsoft já se deu conta disso – completa Avanzi.
Com a compra, o sistema operacional da Microsoft tenta ganhar mercado. Veja os três sistemas existentes
Android
Ponto forte
É o sistema operacional mais utilizado no mundo. Sua plataforma é licenciável, o que significa que qualquer fabricante que atenda aos pré-requisitos do Google pode usá-lo em seus aparelhos. Por isso, é possível encontrá-lo dos smartphones básicos e baratos até os mais caros e modernos.
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Ponto fraco
O Google Play, loja virtual do Android, também conta com milhares de aplicativos e se equipara à App Store do iOS em volume. No entanto, devido ao seu modelo aberto, é mais suscetível a soft-wares maliciosos que podem danificar o aparelho.
iOS
Ponto forte
Pioneira no modelo de loja virtual, a Apple tem uma oferta gigantesca de aplicativos, com recursos dos mais variados e o selo de qualidade da empresa, que é bem criteriosa ao disponibilizá-los em seu canal de vendas.
Ponto fraco
Dos três sistemas citados, somente o iOS é encontrado apenas nos aparelhos da própria marca. Ou seja, para ter o sistema é preciso comprar um iPhone. Para ter tanta exclusividade, porém, é preciso desembolsar mais. O preço costuma ser bastante salgado.
Windows Phone
Ponto forte
Assim como o Android, o Windows Phone também está presente em diferentes marcas. Porém, há uma diferença: a Microsoft é mais exigente em termos de hardware de que o Google. Fazendo isso, a companhia garante a fluidez do sistema mesmo em smartphones mais modestos.
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Ponto fraco
O principal problema é sua loja de aplicativos. Como o sistema é recente e menos utilizado, a Windows Phone Store não chega perto da oferta de aplicativos das concorrentes.
*Colaborou Vagner Benites