Basta surgir nuvens carregadas para a dona de casa Ana Claudina Pereira, 41 anos, ficar apreensiva. Cada vez que chove, entra água na casa onde mora, na localidade de Furadinho, no bairro Pontal, em Palhoça. Os moradores da região dizem que o problema surgiu desde que foi construída uma nova tubulação pluvial sob a rodovia, que faz parte das obras de duplicação da BR-101 Sul.
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A água escorre do Morro do Cambirela e passa por baixo das duas pistas por meio dos canos de bueiros. Segundo Nelson Paiva Júnior, diretor da Defesa Civil de Palhoça, cerca de 30 casas ficaram ilhadas na segunda-feira à noite por duas horas, e a água entrou em outras sete.
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Assim que a água começou a invadir a área de serviço, Ana tomou uma medida drástica: fez um furo no muro que fica nos fundos do quintal.
– Isso aqui está uma desgraça. Comprei e instalei 12 tubos de bueiro no quintal e não adiantou. Qualquer chuva forte entra água e traz muitos danos. Desta vez, fiz um buraco no muro, mas teve que ser pequeno para não prejudicar o vizinho – lamenta.
Na casa ao lado, a auxiliar de serviços gerais Marileide Ribeiro, 39 anos, conta que, em maio, foi necessário trocar todo o carpete da residência:
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– Toda vez que chove, tenho que ir no portão colocar tábuas para desviar a água, que vem do novo bueiro que instalaram. Se ninguém tomar providências, nós mesmos vamos comprar cimento e tapar o buraco.
Para ajudar a diminuir os danos, o aposentado Ademir Francisco Eleutério, 58 anos, se dedica a limpar nas ruas a sujeira levada pela chuva.
Crianças são retiradas de creche
Quem também sofre são as cerca de 70 crianças da Creche Vô Zezé. Quando chove muito, as professoras ligam para os pais, que buscam os pequenos às pressas. Segundo o presidente do Conselho Comunitário, Flávio José Souza, já foi enviado ofício com fotos para a prefeitura e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e até agora nada foi resolvido. Moradores também entraram em contato com o Consórcio SIM (formado pelas empresas Sulcatarinense, Iecsa e Momento), responsável pela duplicação do trecho, e não foram atendidos.
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Contraponto
O Dnit, por meio da assessoria de imprensa, informa que os alagamentos não ocorrem por causa das obras de duplicação. Afirma ainda que hoje existe um número maior de bueiros e que, como o problema ocorre depois que passa a rodovia, o sistema de drenagem do município é que precisa ser adequado à capacidade de água.
Mas, de acordo com o secretário de Infraestrutura de Palhoça, Fabiano Ferreira, o Dnit criou este problema e precisa ajudar a resolvê-lo. Ele disse que já tentou entrar em acordo com o órgão estadual, mas sem sucesso. Agora, vai solicitar uma audiência novamente para tentar resolver a questão.
Problemas em outros pontos da marginal
Não é só a localidade de Furadinho que enfrenta problemas de alagamentos desde que as obras de duplicação da BR-101 Sul começaram. Na rua Maria da Silva Mendes, próximo à cachoeira, também em Pontal, as irmãs Iara Campos, 58 anos, e Claudete Campos, 55 anos, ficam angustiadas a cada enxurrada. As casas onde moram ficam próximas de um córrego que transborda.
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– Toda chuva é o mesmo transtorno. No início de maio até derrubou nossa cerca e o muro do vizinho. A água entrou em várias casas e estragou móveis. Ficamos ilhados. Não temos nem como sair daqui. Ninguém quer comprar porque sabe que vira um rio – lamenta Iara.
A vizinha Erine Sabadini, 58 anos, até desistiu de alugar um imóvel com capacidade para alojar 30 pessoas.
– Há tempos lutamos por melhorias aqui. Pedimos uma tubulação maior e até agora nada. Essa que existe não dá vazão. Com o lixo acumulado, que muitos não respeitam e jogam por aí, a água se espalha e deixa isso aqui totalmente alagado – diz.
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No mês passado, a duplicação da BR-101 trouxe outro tipo de transtorno para os moradores do Pontal. Nove casas que ficam às margens da rodovia foram danificadas na explosão de uma rocha de 60 metros de comprimento por 10 metros de largura.
Na ocasião, foram usados cerca de 200 quilos de explosivos. O Consórcio SIM, responsável pelo serviço, explicou que o motivo do acidente foi uma fissura não identificada, nem por sonda, em parte da rocha. A empresa foi obrigada a consertar os estragos e foi penalizada pela Defesa Civil de Palhoça com o pagamento de 90 cestas básicas para famílias carentes. Os consertos no km 223 só devem ser concluídos depois que a necessidade de novas detonações na região for totalmente descartada. Segundo o Dnit, a data das explosões ainda não foi agendada.