Na sala de aula, Caroline*, 16 anos, é tímida. Não fala se não é questionada e, quando puxam conversa, limita-se a responder o estritamente necessário, desviando o olhar com as bochechas ruborizadas. No Twitter, ela tem uma conta anônima onde posta tudo o que realmente gostaria de dizer. Desfia palavrões, ameaças e confidências estou muito gorda, quero desaparecer, da próxima vez te dou um soco…
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O tipo de comportamento mostrado pela adolescente preocupa parte das comunidades acadêmica e escolar.
– Atualmente, muitos jovens estão assumindo uma personalidade para cada perfil, cada situação. Na escola, são uma pessoa. Na internet, várias outras – alerta a pedagoga Rafaella Perrone Tubino, coordenadora pedagógica de uma escola particular de Porto Alegre.
Especialistas já projetam algumas consequências desse tipo de atitude.
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– Alguns estudiosos acreditam que, a médio e longo prazo, esses jovens possam apresentar perturbações mentais – alerta a doutora em educação Maria Luisa Merino Xavier.
Porém, não é preciso se desesperar: o fato de seu filho usar a internet não o torna necessariamente problemático. O problema maior é com quem passa a maior parte do tempo livre conectado, bem como aqueles que têm mais propensão psicológica, genética e social a apresentar distúrbios. Ainda assim, a professora-doutora Sueli Damergian, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), ressalta que nenhum adolescente está imune aos perigos do mundo online:
– Eles estão em fase de transição, então, podem ser facilmente desencaminhados. Se nós, adultos, nos conhecemos pouco e não sabemos até onde somos capazes de ir, imagine eles. A internet tira o tempo de autoconhecimento. Aquele momento em que ele poderia estar voltado para dentro, se perguntando como poderia melhorar, na verdade está teclando, colocando tudo para fora, de forma automática.
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Para o bem e para o mal
Gabriela*, 17 anos, culpa justamente o imediatismo pelos erros que já cometeu nas redes sociais. Algumas vezes, quando se perturba com alguém, desabafa publicando “indiretas” pelo Twitter.
– Já arrumei briga no colégio, e já arrumaram comigo, por causa de comentários nas redes sociais. Quando se está com cabeça quente, é complicado. Quando paro para pensar, já postei alguma coisa e, em um segundo, todo mundo já viu – reflete.
Para o professor de comunicação Alex Primo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que pesquisa cibercultura e mídias sociais, a internet apenas potencializa comportamentos – para o bem ou para o mal. Na internet, diz ele, “não há filtro moral”. Um comentário maldoso que ficaria apenas em um pequeno grupo de pessoas acaba tendo divulgação muito maior do que a esperada. A boa notícia é que a ferramenta também pode ser usada para expandir boas ações. Incentive seu filho.
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*Os nomes foram modificados para preservar a identidade dos adolescentes.
Reconheça se seu filho está com problemas na internet
Você sabe quais são os vários perigos da rede: pedófilos à espreita, incitação à violência, ao uso de drogas e encontro de todos os tipos de criminosos e práticas delinquentes.
Porém, por outro lado, há uma série de sites que incentivam o ensino, auxiliam no aprendizado e são ótimos para diversão. Portanto, o primeiro passo é orientar bem o seu filho ao tipo de material que ele acessa. Depois, sempre mantenha um diálogo aberto para que ele possa confiar em se abrir para você caso tenha um problema.
No entanto, alguns adolescentes têm mais dificuldade em falar. Por isso, você pode contar com uma pequena lista, elaborada pela professora Sueli Damergian. Nela, constam alguns sinais de que algo não está indo bem.
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Principais sinais
:: Perda de interesse por assuntos que costumavam chamar atenção do adolescente
:: Declínio no desempenho escolar
:: Apresentação de comportamento estranho, alienado da realidade
:: Arruma compromissos toda hora
:: Passa muito tempo no computador