Um ano. É este o prazo estimado pela superintendência do Complexo Portuário do Itajaí-Açu para que alguns dos maiores navios do mundo possam ser operados nos terminais de Itajaí e Navegantes. A obra, de proporções faraônicas, prevê o deslocamento do molhe Norte e o alargamento do rio na área em frente ao Centreventos – o que inclui desapropriações no Bairro São Pedro, em Navegantes.
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Enquanto a prefeitura de Navegantes contesta o modelo escolhido pelo porto, a superintendência apela para a urgência da obra: a estimativa é que, sem a nova bacia, os terminais percam 65% em movimentação em dois anos, com redução de receita de R$ 66 milhões ao mês e mais de 24 mil famílias afetadas na cadeia portuária.
A justificativa para o projeto é o aumento no tamanho e na capacidade dos navios. O Complexo Portuário opera, de forma experimental, embarcações com até 306 metros de comprimento e 46 de largura na parte da frente. Mas já há navios com mais de 335 metros trafegando pela costa brasileira. Em 2012, os gigantes eram apenas três. Até o fim de 2013, a previsão é de que o número chegue a 44.
Entre as empresas que passarão a operar com navios maiores este ano há 10 armadores que atuam em Itajaí – como as gigantes Maersk e MSC. Outros portos brasileiros já comportam grandes embarcações, como Itapoá e Paranaguá (PR). Este ano, os terminais locais perderam quatro serviços por não oferecerem condições adequadas para receber embarcações maiores.
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– Nosso canal chegou ao limite. Ninguém está brincando com isso, é uma obra fundamental social e economicamente para a região e, se não fizermos, estaremos fora do mercado – diz o superintendente do complexo, Antônio Ayres dos Santos Junior.
Os estudos de viabilidade para a nova bacia de evolução iniciaram em 2010, e quatro possibilidades foram levantadas de lá para cá. Duas foram descartadas por condições desfavoráveis de vento e correnteza. Restaram como opções o uso de uma área verde, ao lado do porto, ou o alargamento na região do bairro São Pedro – considerado a alternativa mais adequada pelos técnicos da empresa holandesa Arcadis, que ficaram responsáveis pela análise.
Além da abertura da nova área de manobras, a proposta prevê reforço de estruturas, obras nos molhes e retificação do canal de acesso aos portos – que serão feitas numa segunda etapa, até 2015. Assim que a nova bacia estiver pronta, os navios entrarão pelo canal, vão girar 180º e seguir de ré até os berços de atracação. A manobra foi testada pelos práticos do Complexo Portuário em simuladores, na Holanda.
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A previsão é de que a nova bacia de evolução chegue a um custo próximo dos R$ 300 milhões. Parte da obra será paga com recursos obtidos pelo Governo do Estado, e o restante dependerá do Governo Federal. Há ainda a possibilidade de financiamento da iniciativa privada – a exemplo dos projetos, que foram pagos em uma parceria entre a Portonave e a APM Terminals, arrendatária do Porto de Itajaí.
Navegantes contesta posição da nova bacia
O prefeito de Navegantes, Roberto Carlos de Souza (PSDB), avalia que o projeto da nova bacia de evolução não leva em conta a situação das cerca de 90 famílias que terão que deixar suas casas, no Bairro São Pedro, para dar lugar à obra. Ele diz que pediu à superintendência do Complexo Portuário que avalie a possibilidade de reposicionar a nova área de manobras:
– Em Itajaí não haveria tanto impacto, pegaria áreas do Saco da Fazenda e da Marejada, e o número de famílias atingidas em Navegantes seria bem menor. Mas isso não foi levado em conta até agora.
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O argumento da superintendência é que a definição do espaço considerou estudos técnicos, com análise de ventos e correntes. O projeto prevê cerca de R$ 50 milhões para desapropriações de terras e imóveis.
– Toda comunidade tem que enfrentar grandes questões, e é o que estamos fazendo. Se não tivéssemos criado condições de competir no mercado, já estaríamos fora – avalia o diretor-superintendente da Portonave, Osmari de Castilho Ribas.
A redução das operações, se houver, promete ser maior em Navegantes, que hoje responde por 66% da movimentação do Complexo Portuário. Juntos, os terminais que operam nos dois lados do Itajaí-Açu representam a segunda maior operação de contêineres no país – atrás apenas do Porto de Santos.
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O projeto da nova bacia de evolução está em fase de elaboração do estudo de impacto ambiental. As audiências públicas devem ocorrer nos próximos meses, e a previsão de entrega dos relatórios é junho.
Segundo o superintendente do complexo portuário, Antônio Ayres Santos Junior, a intenção é que a primeira fase da obra seja licitada até outubro. A pressa leva em conta a urgência de adequação ao mercado e a garantia de recursos do Governo do Estado, que só vale até o fim do ano.
Paralelo às negociações da nova área de manobras, o porto trabalha em uma nova verificação de profundidade, que poderá garantir a homologação da entrada de navios de até 300 metros por parte da Marinha.
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Hoje, todos os navios com mais de 287 metros de comprimento entram no Complexo de forma experimental.