As obras de R$ 80 milhões do novo complexo da Secretaria de Segurança Pública (SSP) estão prontas na Avenida Ivo Silveira, bairro Capoeiras, parte continental de Florianópolis. São três torres de seis a oito andares, uma delas com heliponto, numa área construída de 30 mil metros quadrados. Diferentemente do previsto e planejado durante a etapa inicial, o local não abrigará todos os comandos da área, pois os da Polícia Militar e Departamento Estadual de Trânsito (Detran) não deverão ser transferidos para o espaço. As datas para a ocupação e inauguração também estão indefinidas.
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Entre o final de 2014 e começo de 2015, o governo do Estado e a SSP divulgaram em notícias institucionais que a nova sede da segurança pública abrigaria os comandos da PM, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, Instituto Geral de Perícias (IGP) e Detran, pois a “administração da Segurança Pública está espalhada por 19 pontos na Capital, o que compromete a integração das ações, a comunicação entre as instituições e o atendimento à comunidade”.
Outro forte motivo para o investimento declarado pela pasta na época é a economia que trará aos cofres do Estado com alugueis de cerca de R$ 600 mil mensais. Hoje, conforme a SSP, irão para o complexo da Ivo Silveira as unidades da SSP, a Delegacia Geral da Polícia Civil, o comando do Corpo de Bombeiros e a direção-geral do IGP.
A transferência mais polêmica gerada com a construção da sede própria unificada da segurança é o comando da PM, que terá apenas um gabinete auxiliar na nova sede. Houve manifestação e calorosa reação contrária de oficiais com à saída dos militares de sua sede, na Rua Visconde Ouro Preto, no Centro, em frente à praça Getúlio Vargas. A unidade naquele local é considerada a mais valiosa, especialmente pelo valor histórico — há quase dois séculos está abrigada naquele local.
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Por meio do setor de comunicação, a PM disse que, em razão do contexto histórico, não há intenção da corporação em sair do atual quartel, o que é um consenso entre os oficiais a forte ligação com a edificação. O comando ressaltou ainda que a atual sede abriga diretorias, comando-regional e é anexa ao 4º Batalhão, mas que algumas unidades que não estão situadas em prédios próprios poderão ser transferidas para o novo complexo da segurança. Uma delas deverá ser a corregedoria da PM, atualmente na avenida Mauro Ramos.
Previsão de construtora é entregar a obra neste mês
Sobre o comando dos Corpo de Bombeiros, atualmente na rua Almirante Lamego, no Centro, o gabinete do comandante-geral informou que irá para o novo complexo, assim como várias seções administrativas diretamente vinculadas à sua estrutura. A SSP também anunciou que o comando dos bombeiros será transferido para o novo espaço da segurança.
O Detran informou por meio da assessoria de imprensa que não irá para o novo complexo por ter estrutura muito grande e que não caberia nas torres da Ivo Silveira. A princípio, conforme a assessoria, nenhuma unidade da estrutura do Detran será remanejada para a sede da segurança, mas se cogita a ida da Comissão de Leilões. O Detran fica no Estreito em edifício locado, cujo valor não foi informado. Em 2011, o Diário Catarinense mostrou que o valor mensal da locação do prédio do Detran era de R$ 149 mil. A atual sede da SSP fica na rua Artista Bittencourt, no Centro. Em março de 2011, o aluguel pelo uso do prédio da SSP era de R$ 85 mil mensais.
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A Construtora Hoepcke informou que a obra do novo complexo foi concluída no prazo (30 de junho) e que a entrega do imóvel vai até o dia 31 de julho, prazo para a regularização, entre documentos como habite-se e alvarás. A empresa foi a vencedora da licitação para a construção, cujos recursos foram do Pacto Por Santa Catarina (R$ 65 milhões) e de verba própria da SSP (R$ 15 milhões). A obra teve início em 1º de setembro de 2012.
Desde a década de 1980, esta é a quinta mudança da sede da SSP, que já teve como endereço o 4º Batalhão da PM na rua Nereu Ramos; Rua Esteves Júnior (atual prédio da Justiça Eleitoral), Avenida Mauro Ramos e Rua Artista Bittencourt (endereço atual).
Entorno de violência e tráfico
Entre as redondezas das modernas torres que abrigarão a segurança pública catarinense há uma realidade preocupante que envolve violência, tráfico de drogas, moradores reféns de mandos e desmandos de traficantes, denúncias de prostituição infantil e consumo de drogas.
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Isso porque o complexo está bem próximo ao Morro da Caixa, uma das comunidades que sofrem com a falta de estrutura e de ações sociais, além de ser palco nos últimos anos de assassinatos e confrontos com morte envolvendo as polícias. À noite, nos últimos anos, policiais chamavam a via perto dos acessos às biqueiras (pontos de venda de drogas) como feira livre diante do constante movimento que havia de traficantes oferecendo entorpecentes aos motoristas.
Nos últimos meses, o clima tem sido de uma aparente tranquilidade na região, que já foi considerada uma das mais críticas pelas autoridades. A reportagem andou pelas redondezas e a maioria dos moradores e comerciantes ouvidos demonstrou contentamento e expectativa com a vinda dos novos vizinhos da segurança.
A reivindicação ainda frequente relatada é a construção de uma área de lazer para a comunidade, que inexiste. Houve pedidos também por redutores de velocidade na recém alargada avenida. As torres da segurança ficam ao lado da igreja de São Judas e de revendas de veículos.
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— Dá dó de ver tantos jovens envolvidos. Eles mandam na área, ninguém se mete e não tem problema. O problema é quando vem alguém de fora — diz uma idosa que mora há mais de 40 anos no Morro da Caixa.
A SSP informou que a partir da inauguração será ampliado o policiamento na região e haverá monitoramento constante do entorno com câmeras.