Está prevista para a tarde desta segunda-feira, na Comissão Especial de Revisão e Atualização de Leis contra Incêndio da Assembleia Legislativa, a votação do anteprojeto de prevenção supervisionado pelos deputados estaduais.

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Além de ser uma chance de avaliação das propostas para melhorar a frágil estrutura existente de legislação e fiscalização – está aí a prova da tragédia na boate Kiss -, a data abre espaço para comparação com outros exemplos. Entre eles, o de Rhode Island.

Localizado no nordeste americano, o pequeno Estado vivenciou em 2003 uma tragédia em moldes muito semelhantes à de Santa Maria. Devido às cem mortes em um incêndio na casa noturna The Station, Rhode Island criou uma legislação severa a ponto de servir como parâmetro para as instalações olímpicas de Pequim, em 2008.

Implantada em janeiro de 2004 e atualizada em 2012, a lei de prevenção do Estado americano prevê pontos que, por enquanto, não aparecem de forma específica nos esboços dos deputados na Assembleia e na Câmara Federal. Também contempla temas polêmicos por aqui, como a exigência federal de contratação de seguros contra incêndio e de responsabilidade civil.

Trata-se de um item abordado ainda em março pelo diretor do órgão estadual de prevenção, Tom Coffey – Zero Hora foi a Rhode Island conferir as mudanças causadas pelo incêndio. Coffey sugeriu uma consulta às seguradoras. Segundo ele, a instalação de sprinklers (“chuveirinhos” automáticos) nas edificações diminui o prêmio do seguro, e essa economia pode financiar os equipamentos de segurança – sem contar o ganho no valor comercial do prédio. A exigência e os custos com as seguradoras desagradam entidades como o Sindicato da Hotelaria e Gastronomia de Porto Alegre.

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Por enquanto, o anteprojeto na Assembleia cita a classificação das edificações conforme o risco de incêndio e a necessidade de itens obrigatórios de segurança. Segundo um especialista ouvido por ZH e que compareceu às reuniões da comissão, falta detalhar de forma mais clara o Projeto de Prevenção Contra Incêndio. No formato proposto, não aborda projetos de detecção e alarme, iluminação de emergência e distribuição de extintores, entre outros aspectos.

Caminhos no Legislativo

– Às 17h, o anteprojeto vai a votação na Comissão Especial de Revisão e Atualização de Leis contra Incêndio da Assembleia Legislativa. Também será avaliado um relatório com conclusões e recomendações.

– Votam 12 deputados integrantes da comissão.

– Se aprovado, o anteprojeto vira projeto. Depois de tramitar nas comissões, é votado no plenário da Assembleia.

– Ainda não há data prevista para isso.

– Se aprovado pelos deputados, o projeto precisa ser sancionado pelo Executivo para virar lei e entrar em vigor.

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Exemplos aplicados

Um esboço de Código Nacional de Segurança contra Incêndio, elaborado por um grupo de trabalho da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), serviu como base para o anteprojeto gaúcho. A proposta da Senasp, porém, ainda não foi regulamentada. Também foram consultados o decreto 420/98 de Porto Alegre, de proteção contra incêndio, e a lei estadual de São Paulo.

Deputados propõem criação de um conselho estadual

Em relação à divisão de responsabilidades, o anteprojeto da Assembleia mantém as inspeções de prevenção de incêndio com os bombeiros – eles reclamam da dificuldade de cumprir o volume de serviço. Os deputados gaúchos propõem criar um conselho estadual de caráter normativo e consultivo, regulamentado pelo Executivo.

Em Rhode Island, a elaboração das leis cabe aos 11 membros do Fire Safety Code Board of Appeal & Review, órgão vinculado à secretaria de Administração. São técnicos indicados pelo governador: entre eles, está o state fire marshall, responsável pelo cumprimento e fiscalização das leis, com poderes de indicar quantos fiscais considerar necessário.

Compare as legislações

O que está em vigor para prevenção de incêndio em Rhode Island (EUA) e as propostas dos deputados estaduais e federais para as legislações gaúcha e brasileira

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1 – PREVENÇÃO e NORMAS

RS/BRASIL

– A lei federal deverá abranger cinemas, teatros, salas de espetáculos, bares, boates, prédios públicos e qualquer outro cuja ocupação seja igual ou superior a cem pessoas simultaneamente.

– Levará em conta normas da ABNT, do Inmetro e do Conmetro, com leis municipais ou estaduais mais restritivas.

– A prefeitura deverá estabelecer normas de prevenção e combate a incêndio e desastres.

– No Estado, tabelas anexadas ao projeto de lei estabelecerão a classificação das edificações (baixo, médio ou alto risco de incêndio) e as exigências (itens obrigatórios de segurança conforme a classificação). Haverá controle de materiais de acabamento, além de saídas de emergência e equipamentos).

– Capacidade de lotação vai servir como referência para dimensionar rotas de saída, saída de emergência, controle de fumaça e brigada de incêndio.

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– Deverá haver um brigadista de incêndio, conforme ocupação.

– Casas noturnas têm de contar com saídas, plano, sinalização e iluminação de emergência, alarme de incêndio, hidrante e controle de materiais de acabamento. Chuveiros automáticos e controle de fumaça variam conforme critérios específicos.

EUA

– O código abrange diferentes tipos de edificações, incluindo escolas, igrejas e casas noturnas.

– Conforme a capacidade, casas noturnas devem ter sprinklers, extintores, saídas sinalizadas e alarme de incêndio que desliga o som ambiente e liga as luzes. Todos os locais de aglomeração com capacidade superior a 300 pessoas têm de ter sprinklers.

– Materiais como cortinas e assentos devem ser resistentes ao fogo. É proibido usar itens não certificados.

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– Restaurantes com capacidade inferior a 300 pessoas têm de ter sistemas de alarmes, luzes de emergência e sinalização e funcionários treinados em gerenciamento de público.

– Funcionários em locais de aglomerações têm de informar, antes de show ou evento, saídas de emergência e rotas de evacuação. Casas noturnas precisam de um plano de emergência aprovado, com um funcionário treinado em serviço.

2 – CONCESSÃO DE ALVARÁS

RS/BRASIL

– Em níveis estadual e federal, o alvará de prevenção de incêndio fornecido pelos bombeiros vira pré-requisito para concessão de alvará de funcionamento pela prefeitura.

– Plano de prevenção será definido no Estado por seis itens, com tramitação máxima de 30 dias.

– Validade do alvará de incêndio será de um a três anos, conforme o risco do imóvel. Não haverá licença provisória.

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EUA

– Lei diferencia bares e restaurantes das casas noturnas.

– Análise de projetos pelo órgão estadual não deve levar mais de 30 dias. Em casos complexos, 40 dias.

– Certificado de ocupação, concedido após vistoria, tem de conter 12 itens.

– Alterações só podem ser feitas após análise completa da documentação do prédio.

3 – TRANSPARÊNCIA

RS/BRASIL

– Nos projetos estadual e federal, os alvarás de prevenção de incêndio do bombeiros devem ser disponibilizados pela internet. Também devem constar responsável técnico, datas de emissão e fiscalização, requisitos de funcionamento e lotação.

– Informações sobre o andamento do plano de prevenção, no Estado, poderão ser pedidos a qualquer momento.

– Lei federal prevê sistema nacional unificado com estatísticas sobre incêndios.

EUA

– Os processos estão disponíveis para consulta no site do Fire Safety Board, órgão subordinado à secretaria estadual de Administração.

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– O órgão se reúne uma vez por semana, com encontros abertos: todas as terças-feiras, às 13h, no One Regan Court, em Cranston.

4 – FUNCIONAMENTO E FISCALIZAÇÃO

RS/BRASIL

– Pela nova lei federal, os bombeiros têm poder de advertir, multar, interditar e embargar os estabelecimentos em desacordo com a lei. No Estado, os bombeiros só atuarão até a interdição, com o embargo a cargo da prefeitura.

– Será proibido o uso de comandas.

– Vistorias anuais para locais classificados como de reunião de público com risco de carga de incêndio médio e alto. A cada três anos para outras ocupações.

– Interdição por bombeiros ou prefeitura pode ser imediata, se houver risco iminente.

EUA

– Prazo de dois anos para se adaptar à atualização do código, válido desde janeiro de 2013.

– Um fiscal pode vetar imediatamente um local com condições de perigo à vida, como uso de pirotecnia (proibida onde cabem menos de mil pessoas), sprinklers fora de condições e ausência ou bloqueio de saídas de emergência.

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– Dono recebe lista por escrito com as adequações necessárias. Se neste período houver novos problemas, tem 12 meses para corrigi-los, a partir do primeiro aviso.

– Fiscais têm de fazer cursos periódicos.

5 – PUNIÇÃO

RS/BRASIL

– Lei federal prevê crime permitir ocupação superior à capacidade.

– Pela lei federal, quem descumprir normas de prefeitura e bombeiros pode cumprir pena de seis meses a dois anos, com multa.

– Prefeito e oficial dos bombeiros podem ser punidos por improbidade administrativa.

– No Estado, as multas devem ser pesadas, e a definição dos valores ficará com o Executivo. A gravidade das infrações será regulamentada, e as penalidades serão cumulativas.

– Bombeiros notificam e multam e interditam, enquanto a prefeitura embarga um estabelecimento.

EUA

– Inspeções são surpresa. Multas podem chegar a US$ 1 mil na terceira ocorrência, com audiência na Justiça.

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– Estabelecimentos citados nos anos anteriores podem não ter alvarás renovados.

– Descumprir a lei pode valer até seis meses de prisão.

– Quem se recusar a ser fiscalizado paga multa entre U$ 25 e US$ 100 e pode ser preso por até 30 dias.

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