Quando a dança clássica foi criada, durante o Renascimento, não era permitido às mulheres participar de apresentações públicas. Por isso, apenas os homens subiam ao palco para protagonizar as representações dramáticas que deram origem ao balé. Cinco séculos depois, ter bailarinos em cena é um desafio para muitas companhias: o preconceito que envolve meninos aprendendo a dançar faz com que o número de profissionais seja muito pequeno, principalmente no Brasil. Na contramão deste movimento, existe a Cia. Masculina de Dança Jair Moraes, de Curitiba, que se apresenta na terça-feira no Teatro Juarez Machado, em Joinville. Apenas uma bailarina passará pelo palco para apresentar o espetáculo “Tubo de Ensaio – Reconfigurado”, e ela é convidada especial. Nas dez coreografias que fazem parte do programa, são os homens que estão sob a luz dos holofotes.

Continua depois da publicidade

A Cia. Masculina de Dança nasceu a partir de um projeto social da Escola de Balé do Teatro Guaíra, na capital paranaense. Em 2003, o professor e coreógrafo Jair Moraes – que era maître da companhia principal – atendeu a um pedido da instituição para dar aulas para um grupo de garotos de dez a 14 anos. Eram crianças de baixa renda, alguns deles em situação de risco, que queriam aprender street dance. Com a formação clássica de quem foi aluno de Tatiana Leskova e dançou no Municipal do Rio e de São Paulo, Jair Moraes preferiu pensar em um projeto diferente.

– Respondi que street dance eu não poderia ensinar, mas que faria um trabalho com base no contemporâneo. Então comecei um trabalho de pesquisa voltado para o corpo masculino – conta Jair.

Confira as últimas notícias de Joinville e região.

Salvo raras exceções – como a Escola Bolshoi, em Joinville – o baixo número de meninos estudando dança faz com que seja impossível formar turmas exclusivamente masculinas. Com isso, a maioria dos bailarinos não tem uma formação pensada especialmente para eles. No caso do projeto que deu origem à companhia, Jair produziu métodos para desenvolver a musculatura de garotos que não tinham perfil físico, nem experiência prévia para virar rapidamente protagonista de espetáculos de dança.

Continua depois da publicidade

Para o professor, todos os corpos têm potencial para dançar, desde que sejam bem direcionados. Em 13 anos de trabalhos, a companhia se renovou sem nunca recusar alguém que estivesse disposto a aprender. Atualmente, a companhia tem bailarinos com idades entre 18 e 25 anos. O trabalho é duro – há aulas e ensaios todas as noites, com trabalho extra em alguns fins de semana – mas tem gerado resultados que orgulham seu idealizador. Boa parte dos garotos chegou à universidade, com a maioria seguindo pelo caminho das artes, tornando-se professores ou bailarinos de companhias brasileiras.

Espetáculo de força

– É um desafio trabalhar só com meninos, encontrar coreografias para eles. Geralmente, há uma menina no palco e o papel do bailarino é esperar para levantá-la para o alto – avalia Jair Moraes.

Ele fala com a certeza da experiência: quando a Cia. Masculina de Dança começou, o repertório era totalmente criado por ele. Como a companhia é independente e não possui recursos permanentes, não há verba para pagar coreógrafos. Com o tempo, artistas voluntários começaram a montar trabalhos especialmente para o grupo.

No espetáculo “Tubo de Ensaio”, as criações foram feitas em parceria entre os bailarinos da companhia e coreógrafos de outros grupos de dança do Paraná, costurando uma obra que passeia entre o clássico e o contemporâneo. A força do corpo jovem dos bailarinos encontra uma aliada na experimentação proposta pelas pesquisas realizadas em aula.

Continua depois da publicidade

Além da apresentação noturna, a companhia realiza um ensaio aberto com a presença de alunos da rede pública de ensino durante a tarde, com o espetáculo Busca, que foi totalmente criado pelos dançarinos. Ele é a contrapartida social em Joinville, que faz parte do Projeto Aplausos, de Darling Quadros, contemplado pelo Mecenato do Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura, da Fundação Cultural de Joinville.

Agende-se:

O quê: “Tubo de Ensaio – Reconfigurado”, da Cia. Masculina de Dança Jair Moraes.

Quando: terça-feira, às 20h30.

Onde: Teatro Juarez Machado (anexo ao Centreventos Cau Hansen, na avenida José Vieira (Beira-rio), 315).

Quanto: R$ 40, com meia-entrada para estudantes, professores e idosos (até 40% da lotação) e para titular e um acompanhante do Clube do Assinante RBS.