Com apenas oito anos de idade, Vitor Zendron viu o destino ser transformado pelo acaso. O garoto, que nunca nem sequer havia tocado um instrumento musical, se deparou com a oportunidade de aprender piano depois de uma freira oferecer aulas na escola em que ele estudava.
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O encontro foi o suficiente para mudar a trajetória do rapaz, já que a descoberta de um talento “adormecido” levou o blumenauense até a Europa e o tornou, aos 26 anos, um prodígio do piano mundo afora.
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Na Suíça desde 2020, Vitor retornou ao Brasil nesta quinta-feira (19) para participar das semifinais do Festival Internacional de Piano do Rio de Janeiro. Ele foi selecionado entre 65 inscritos e compete a etapa ao lado de outros oito musicistas de seis países diferentes.
A agilidade nas mãos demonstra o porquê de Vitor ter sido escolhido para o evento que chega à 3ª edição neste ano. Como se os dedos passeassem pelas teclas, o blumenauense parece brincar em frente ao gigante instrumento de madeira que não aparenta assustá-lo (veja o vídeo abaixo).
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Para alcançar esse patamar, no entanto, o estudo teve de virar parte da rotina do jovem pianista. Depois do primeiro contato com as aulas no Colégio Sagrada Família, em Blumenau, o garoto começou a frequentar o Teatro Carlos Gomes, também na região central da cidade.
A partir daí, Vitor conheceu o repertório clássico do piano, onde criou afinidade com obras de Mozart, Chopin e Beethoven — compositores que, até hoje, são referências dentro do universo da música. A facilidade em dominar as teclas logo fez o garoto se destacar em concursos e festivais do ramo artístico.
— É uma oportunidade de mostrar o nosso trabalho para gente influente, organizadores de concertos. Para se fazer conhecer — comenta Vitor.

Aos 19 anos, o blumenauense foi viver na Alemanha para fazer um bacharelado em Música. Quatro anos depois, se mudou para Genebra, também por causa dos estudos. Atualmente, ele está no segundo mestrado, focado na carreira de concertista.
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Durante a trajetória até aqui, porém, não bastou apenas força de vontade e talento para desbravar as possibilidades do piano. Vitor destaca que houve um fator determinante para o sucesso do jovem rapaz desde o momento em que decidiu seguir esse caminho: o suporte da família.
O incentivo do pai e apoio incondicional da família
Além da freira que levou as aulas de piano até a escola em que Vitor estudava quando criança, outra pessoa teve papel fundamental na história do blumenauense. Isso porque quem sugeriu que o menino se arriscasse na área da música foi, na verdade, o pai do garoto, Orivaldo da Cunha.
Apesar de já demonstrar interesse pelo instrumento desde a infância, o começo da relação entre o menino e o piano não foi da maneira que se imagina, o que exigiu certa “paciência” dos educadores — e dos pais.
— Eu hesitei bastante nos primeiros anos. Mas porque eu era criança, mesmo. Tinha preguiça de estudar e aí o professor pegava no pé — conta, aos risos.
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Mesmo assim, Vitor faz questão de ressaltar a paciência da família e o respeito que tiveram enquanto o garoto ainda vivia um processo de descoberta com a música. Relembra também que os pais, que moram em Blumenau até hoje, nunca o pressionaram a construir uma carreira de sucesso ou criaram expectativas em relação ao futuro do filho.
O que, para Vitor, foi essencial para alcançar o que conquistou até aqui.

— Sempre tive um apoio incondicional deles. Até porque, no Brasil, querendo ou não, viver da música é uma coisa muito insegura, incerta. Muitos pais não aconselham de jeito nenhum o filho a seguir na área. Mas, comigo, desde o momento em que eu percebi que queria fazer isso, eles disseram que me ajudariam no que eu precisasse — comenta.
Expectativas para o festival do Rio de Janeiro
As semifinais do Festival Internacional do Rio de Janeiro ocorrem neste domingo (22) e na segunda-feira (23), onde Vitor irá interpretar obras de Prokofiev, Beethoven e Scriabin.
Os candidatos, que têm entre 17 e 30 anos, concorrem a prêmios que somam R$ 120 mil — sendo R$ 60 mil para o primeiro colocado; R$ 30 mil ao segundo; R$ 15 mil para o terceiro; R$ 10 mil a quem receber o Prêmio Nelson Freire ao Melhor Pianista Brasileiro e R$ 5 mil para o Prêmio do Público.
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O evento tem direção artística da pianista Lilian Barreto e a grande final está marcada para 28 de outubro. Caso fique entre os três finalistas, Vitor irá apresentar, junto a Orquestra Sinfônica Brasileira, o “Concerto Nº 1”, de Chopin, oportunidade que ele define como a realização de um sonho.

Apesar da responsabilidade que isso representa, o blumenauense carrega consigo a calma e o legado da família, onde o importante não é ganhar ou perder, mas viver o que o acaso proporciona a cada um.
— Estou me sentindo tranquilo, trabalhei bastante nos últimos meses em cima do repertório que vou tocar. Mas só quero ir lá e aproveitar, sabe? Dar o meu melhor. Viver um bom momento pra mim e propiciar um bom momento também para os espectadores — finaliza.
*Sob supervisão de Augusto Ittner
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