Estamos vivendo uma crise sem precedentes, que mexe com o dia-a-dia de quase todas as pessoas no mundo e exige mudanças drásticas nos nossos hábitos de saúde, relações sociais e condução dos negócios. Pensando na sobrevivência no curto prazo, qual é o melhor jeito de tomar as decisões necessárias na empresa? Não espero trazer uma receita, mas algumas reflexões que possam ser úteis para outros empreendedores e empresários.
Continua depois da publicidade
> Em site especial, leia mais sobre o coronavírus
1) Identificar o que é possível fazer para ajudar na crise: a empresa tem produtos, serviços, recursos ou competências que podem ajudar? Se sim, precisamos colocá-los a serviço. No Impact Hub Floripa, apoiamos mais de 1.000 empreendedores no desenvolvimento de seus negócios. Como os eventos estão suspensos e os espaços de coworking estão fechados, criamos junto com empresas como Manifesto 55 e a Running Digital conteúdos online para ajudar os empreendedores a identificar oportunidades na internet e fazer reuniões online mais efetivas.
A Lidehra, empresa de gestão de talentos, está disponibilizando algumas horas semanais para apoiar líderes de empresas a tomarem melhores decisões neste momento delicado. Um outro exemplo vem da Automatisa Laser Solutions. Eles decidiram produzir protetores de face para proteger profissionais de saúde e cuidadores, doando uma parte da produção e vendendo a outra.
2) Ser transparente e colocar-se no lugar do outro: se a situação está difícil para nós, é provável que também esteja para o outro. Reconhecendo isso, nós mandamos um email para nossos clientes contando os impactos negativos da crise no nosso negócio, convidando aqueles que podem pagar a ser pontuais e oferecendo desconto para aqueles que precisam. Com isso, esperamos fortalecer as relações em tempos difíceis e reduzir a taxa de cancelamento.
3) Focar no caixa: como não sabemos quanto tempo a crise vai durar, prestar atenção no caixa da empresa é fundamental. Um caminho para isso é adiantar recebimentos de clientes, opção limitada neste momento. Então a hora é de renegociar todos os compromissos e contratos com fornecedores e credores para ganhar fôlego.
Continua depois da publicidade
4) Listar todas as medidas possíveis e definir a ordem de aplicação: quais são todas as decisões que podemos tomar? Aqui vale colocar todas as opções na mesa, calcular os impactos de curto e médio prazo de cada uma e decidir a ordem de aplicação. Assim, por exemplo, uma empresa pode decidir primeiro postergar contratações e investimentos, depois renegociar escopo e prazo com fornecedores e credores, na sequência utilizar benefícios governamentais para redução da folha de pagamento e manutenção do emprego, depois reduzir os maiores salários e só então descontinuar partes da operação e demitir funcionários. Cada empresa avaliará a ordem conforme sua estrutura e valores.
5) Lembrar de quem está em maior vulnerabilidade: na hora de fazer cada passo acima, é importante lembrar dos impactos sociais das nossas decisões e favorecer quem está em maior vulnerabilidade. Junto com a Cactos, nosso fornecedor de limpeza, decidimos reduzir o pagamento mensal mas não cancelar nosso contrato, com o compromisso de manter os empregos. Em cada empresa, temos funcionários, fornecedores e comunidade de entorno que dependem de nós para a sobrevivência. Vale considerá-los de um jeito especial.
6) Ter o propósito em mente: todos nós tomaremos decisões difíceis, que não gostaríamos de tomar e que não tomaríamos numa situação normal. Mas estamos longe de uma situação ideal. Para fazer as pazes com essas decisões, é fundamental lembrarmos do propósito da nossa empresa. Se cuidarmos bem das finanças e das relações, aumentamos nossa chance de sobreviver e continuar cumprindo nosso propósito depois que a tempestade passar.
Finalmente, creio que esta pandemia gerará muitas reflexões. O mundo nos deu um recado claro de que precisamos ser diferentes e reconhecer nossa interdependência. Passada a crise, o que nossas empresas poderão fazer para regenerar os ecossistemas e criar um mundo justo e sustentável para todos?
Continua depois da publicidade