A Oktoberfest Blumenau se consolidou como a maior festa alemã das Américas e atrai centenas de milhares de pessoas todos os anos para os pavilhões do Parque Vila Germânica. Mas, afinal, como a Oktober surgiu? Como a festa tão tradicional na Alemanha chegou a Santa Catarina e como o município do Vale do Itajaí se tornou um destino turístico em outubro? A explicação seria mesmo criar um evento para reerguer o ânimo dos moradores após a enchente? A gente explica.
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A história conta que a Oktoberfest Blumenau estava em pauta na década de 1970. Membros do Conselho Municipal de Turismo e empresários locais eram grandes entusiastas de reproduzir na cidade — conhecida pela origem germânica — o que já existia em Munique. O ex-presidente da Câmara de Dirigente Lojistas (CDL) de Blumenau, Emílio Schramm, conta que em setembro de 1980 esteve na Alemanha para tratar do assunto.
Ele tinha em mãos uma carta escrita pelo então prefeito, Renato Vianna, para se informar sobre como era a organização do evento por lá. À época, a festa não saiu do papel, mas se manteve nos sonhos. Foi só dois anos depois que a Oktoberfest Blumenau ganhou impulso.
Na campanha de 1982, eu estava correndo na busca para ser prefeito. E quando cheguei a área Norte de Blumenau, principalmente na região das Itoupavas, era muito comum alguém nos indagar se, caso eleito, essa festa sairia do papel. Eu, querendo ser eleito, dizia que sim — conta Dalto dos Reis, que recebeu a maioria dos votos e assumiu a prefeitura.
O plano de governo tinha um olhar especial ao turismo por causa da cobrança dos empresários por atrair mais pessoas à cidade. Dalto conta que chamou Antônio Nunes para assumir a secretaria e se encantou ao ver a Oktoberfest nos planos para a cidade. Embarcou rumo à Alemanha e voltou dias depois com todos os detalhes, dos desfiles à sangria do primeiro barril de chope.
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A relação com a enchente
Tudo estava certo para ainda em 1983 sair a primeira edição, mas uma velha conhecida do Vale do Itajaí apareceu.
— Nesse meio tempo, em julho, aconteceu a terceira maior enchente ocorrida em Blumenau em todos os tempos. Em função de Blumenau ter ficado submersa por aproximadamente 32 dias e faltando cerca de um mês para o início do evento, tivemos de cancelá-la e começamos a reprogramá-la para 1984 — recorda Dalto dos Reis.
O que ninguém imaginava é que depois de quatro enchentes em 1983, uma delas elevando o nível do Rio Itajaí-Açu para 15,34 metros, 1984 reservava mais. Em agosto daquele ano, o nível das águas voltou a subir e chegou a 15,46 metros no dia 7. O cenário, mais uma vez, era de destruição.
Um repórter do Jornal de Santa Catarina surgiu na prefeitura querendo saber os estragos de uma nova enchente e me perguntou se a festa seria cancelada pela segunda vez consecutivamente. E eu, relembrando das dificuldades enfrentadas no ano anterior para fazer o cancelamento, disse que não. E talvez aí eu tenha enfrentado a maior dificuldade como prefeito de Blumenau ao longo dos seis anos — confidencia o gestor da época.
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A lenda da festa pós-enchente
Essa proximidade entre enchente e a primeira edição da festa deixou em muitas pessoas a impressão de que a Oktoberfest nasceu para reanimar os atingidos pela força das águas. De fato, não foi. Porém, na prática, o sentimento quando o pavilhão abriu naquele dia 5 de outubro de 1984 era de trazer alegria ao público, calejado pelas cheias que fazem parte da história da cidade.
A ansiedade pela primeira edição não escondia outro sentimento do prefeito.
— O medo maior era o meu, de que não viesse ninguém no dia da abertura da festa. Tinha convidado o governador eleito à época para a abertura e cheguei a pedir para atrasar um pouco a cerimônia, esperando o pessoal que viesse do desfile na Rua XV de Novembro. Eu era o que menos acreditava no sucesso na festa — recorda.
Dalto dos Reis conta em tom de brincadeira que a baixa estatura o impedia de ver quanto de público tinha naquela abertura no pavilhão da então Famosc – como era chamado o Parque Vila Germânica antigamente. Quando subiu em uma mesa pequena improvisada para a sangria do primeiro barril, se deu conta de que o público compareceu:
Olha, foi um sucesso. Só quando eu subi nessa mesa pude ver a imensidão de pessoas que se acotovelavam na porta do pavilhão para adentrar a primeira noite da primeira edição da Oktoberfest. As críticas cessaram. Eu tenho consciência tranquila de que a festa veio dar uma parcela de contribuição positiva naquilo que era uma lacuna nossa.
A festa de 1984 durou 10 dias e foi crescendo com o passar dos anos. Naquele primeiro ano, o evento reuniu 102 mil pessoas no único pavilhão que existia à época com 3 mil metros quadrados. Quando a Oktoberfest Blumenau chegou à quinta edição, em 1988, levou mais de um milhão de pessoas ao evento.
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