As potências europeias e a China expressaram a sua intenção de preservar o acordo nuclear o Irã, do qual os Estados Unidos se retiraram na terça-feira (8). Mas com o país mais poderoso do mundo voltando a impor sanções, o que eles poderão fazer?
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– O que fazer agora? –
Após o anúncio do presidente americano, Donald Trump, a União Europeia (UE) busca persuadir Teerã a continuar no acordo. Alemanha, França e Reino Unido, os três países europeus signatários do acordo e conhecidos como E3, lançaram uma iniciativa diplomática para tranquilizar o Irã sobre o seu compromisso.
Os chanceleres dos três países europeus têm previsto se reunir com representantes iranianos na segunda-feira, depois de uma conversa nesta quarta-feira entre o presidente francês, Emmanuel Macron, e seu homólogo iraniano, Hassan Rohani. A questão será levada, inclusive, a uma cúpula europeia na semana que vem em Sófia.
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As autoridades europeias também falarão com China e Rússia, os outros signatários do acordo, para coordenar uma resposta, embora um diplomata da UE já tenha advertido que isso não deve ser visto como uma tentativa de “isolar” Washington.
Apesar da importância desses gestos políticos, o Irã exige garantias concretas de que protegerão as trocas comerciais retomadas com o acordo, ainda que Washington imponha novamente as sanções.
“Temos que falar de incentivos para que o Irã se mantenha no acordo. Isso significa que precisamos encontrar os meios de absorver o impacto econômico da reimposição das sanções pelos Estados Unidos”, explicou um diplomata europeu à AFP.
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– Estratégia –
Londres, Berlim e Paris mantiveram em segredo os detalhes de sua estratégia, mas um relatório do grupo de especialistas International Crisis Group (ICG) esboçou medidas que poderiam tranquilizar as empresas que trabalham com o Irã e ajudar os responsáveis iranianos moderados a persuadir os partidários de uma linha dura de continuar no acordo.
Os países da UE poderiam recorrer a suas agências públicas de investimento para cobrir os riscos que as empresas poderiam enfrentar por comercializarem com o Irã, sugere o ICG.
Ao mesmo tempo, os países do E3 poderiam apoiar conjuntamente projetos de infraestruturas no Irã por meio de suas agências de desenvolvimento.
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Outra opção, sobre a qual funcionários europeus falaram nas últimas semanas, seria converter o Irã em um país elegível para receber empréstimos do Banco Europeu de Investimentos (BEI), dando a Teerã o acesso ao financiamento internacional em euros para eludir as sanções americanas às transações em dólares.
“Podem tentar fazer negócios em outras moedas, como o euro, mas são necessários bancos ativos neste campo”, explica um diplomata europeu. “Não é fácil para os bancos que fazem negócios com os Estados Unidos. Por isso fizemos pensando no BEI”, acrescenta.
Mas evitar as transações em dólares seria, não obstante, “muito, muito complicado no mundo real”, advertiu o ex-chanceler francês Hubert Védrine, em declarações à rádio France Inter.
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– Alternativa a la cubana? –
A ideia pairou sobre Bruxelas nas últimas semanas: a UE poderia resistir às sanções americanas, adaptando uma regulamentação de 1996 criada inicialmente para contornar a lei Helms Burton, que aplicava sanções às empresas que negociavam com Cuba.
O regulamento permite às empresas e aos tribunais europeus evitar se submeter às leis de sanções adotadas por países terceiros e estipula que as decisões de tribunais estrangeiros baseadas nessas leis não têm efeito na UE.
O efeito dessa lei, cuja eficácia não foi realmente comprovada, seria mais simbólico do que econômico, segundo uma fonte europeia.
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“Se uma empresa opera no grande mercado americano e no pequeno mercado iraniano, não se beneficia muito do fato de que seus negócios estejam protegidos na Europa e no Irã, mas não nos Estados Unidos”, estima esta fonte.
Contudo, “isso poderia ajudar empresas de médio porte especializadas no Oriente Médio”, acrescentou.
– Efeito paralisante –
Washington concedeu um período de seis meses para que as empresas liquidem as suas operações no Irã antes de voltar a impor sanções, mas nesta primeira fase já existe um ceticismo quanto à eficácia de qualquer contramedida que a UE e os seus aliados possam tomar.
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Norbert Roettgen, chefe de política externa do partido da chefe do governo alemão, Angela Merkel, disse que as empresas simplesmente não querem correr o risco de cair em desgraça com os Estados Unidos.
“Quem investir no Irã será duramente atingido pelas sanções americanas e esse custo não poderá ser compensado”, declarou à revista alemã Der Spiegel. Antes do anúncio de Trump, os funcionários da UE admitiram que já estavam vendo um “efeito paralisante sobre os operadores comerciais”.
* AFP