A cadeira da pasta da Cultura não é inteiramente estranha a Raulino Esbiteskoski, que a ocupou, de forma interina, entre abril e maio do ano passado. A indicação, sim, causou surpresa: o que o presidente da Promotur, conhecido empresário do ramo de vestuário, fazia à frente da Fundação Cultural de Joinville?
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Desde o início de janeiro, a história é outra, mas não completamente. Esbiteskoski não está só de passagem. Ele é o efetivo comandante da Secretaria de Cultura e Turismo, uma das novidades da reforma administrativa do prefeito Udo Döhler.
A desconfiança, porém, ainda vigora entre os atuantes e defensores do setor cultural da cidade, e com razão, visto que as credenciais do novo secretário parecem estranhas a ele. Esbiteskoski, por sua vez, não só vê similaridades entre as duas áreas como acredita que possam andar juntas, como afirma nesta entrevista ao jornal “A Notícia”.
Nela, ele também admite não ser íntimo da cultura, mas diz que irá cercar-se de funcionários “de carreira” no setor e trabalhar junto com o Conselho Municipal de Política Cultural (CMPC).
A Notícia – Existe uma desconfiança natural de artistas e produtores da cidade em relação ao seu nome por causa da sua pouca intimidade com a área, por ser um empresário e estar mais ligado ao turismo. O que pode dizer a respeito?
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Raulino Esbiteskoski – Eu acho que as duas coisas (cultura e turismo) são muito similares, funcionam juntas. O que eu fiz primeiro? Reuni o conselho e fui ouvir o desejo dele, o que o conselho esperava de mim. O conselho está aí para contribuir. Me comprometi a fazer um trabalho junto com ele, porque eu sozinho não vou conseguir fazer. Estou procurando pessoas que estejam envolvidas com a cultura. O prefeito me deu liberdade para formar a minha equipe.
AN – Sendo mais direto: onde o senhor enxerga a intersecção da cultura e do turismo?
Esbiteskoski – Não vou dizer que em todo evento elas andam de mãos dadas, mas se você for observar, muitos eventos, como a Feira do Príncipe, envolvem cultura e turismo. É o caso também do Festival Universitário da Canção, em setembro, no Centreventos, junto com o Festival de Botecos, no Expocentro Edmundo Doubrawa. Vejo que há muitos eventos da cultura que passam a ser do turismo também. Mas vamos continuar com nossos museus, feiras de arte…Tudo o que já vinha sendo feito, continuará existindo.
AN – Qual foi a sua primeira medida como secretário?
Esbiteskoski – Estou, primeiro, procurando assimilar as coisas. Eu tinha uma equipe formada no turismo, e aqui existe uma outra equipe, muito maior, com 240 funcionários. Primeiro, preciso conhecer essas pessoas, trazê-las para o meu lado para fazermos um trabalho juntos. É muito complexo. Passando a reforma, acredito que até fevereiro eu consiga montar a equipe para, aí então, sentarmos e fazermos um planejamento de trabalho.
AN – O prefeito manifestou o desejo de “descentralizar” a cultura, popularizá-la, levá-la aos bairros, e um exemplo disso é a construção de uma segunda Casa da Cultura. O senhor já conversou com o prefeito sobre isso?
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Esbiteskoski – Não conversei, mas ouvi o prefeito dar essa entrevista e concordo. Acho que esse é o caminho. Tem que levar a cultura para os bairros. Hoje, a Casa da Cultura chegou ao limite, e tem como você descentralizar algo. Pelo que já vi, pelo que conversei, ali não há espaço (físico) para criar mais nada.
AN – O Simdec é um mecanismo de incentivo importante para joinville, mas passou por problemas recentes. O que o senhor pensa sobre o Simdec?
Esbiteskoski – Já me inteirei um pouco sobre o Simdec, acho que ele tem que dar uma repaginada. É uma ferramenta muito importante e temos de melhorar. Não avaliei ainda de que forma, não existe um plano, mas vamos avaliar a situação com a equipe.
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AN – Outro ponto crítico é a Cidadela Cultural, que, além da importância para a cultura, também é um equipamento dito turístico. Na sua opinião, a Cidadela tem salvação?
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Esbiteskoski – Tem, sim, mas precisa haver um investimento muito grande, até porque, com a saída do turismo da Expoville, a Seprot (Secretaria de Proteção Civil e Segurança Pública) deve se transferir para lá. Aquele espaço (na Cidadela) deve sobrar. Mas aquilo está muito complicado. Existe um valor histórico, turístico, que dá para explorar, mas temos que tentar achar recurso para restaurar, e ainda não tenho ideia de onde podemos buscá-lo. O próprio conselho tem um projeto para nos apresentar e temos que avaliar. Com a saída da Seprot, temos que buscar algo o quanto antes para resgatar a memória da Cidadela.
AN – Aliás, o seu primeiro contato com o conselho foi bastante proveitoso…
Esbiteskoski – Eu sou um cara muito espontâneo. A primeira coisa que fiz foi me reunir com o conselho e ouvi-lo, conhecê-lo. Não fiz mais do que a minha obrigação. Tanto que participei com eles da votação na Câmara, vi que saíram satisfeitos com a reforma (administrativa) e de eu ter ido ouvi-los. Espero poder participar das reuniões do conselho e receber subsídios para me ajudar.
AN – Por tudo isso, podemos resumir que o senhor admite não ter tanta familiaridade com a cultura, mas está tentando se cercar de pessoas da área?
Esbiteskoski – Exato. Se eu disser para você, hoje, que domino 100% a cultura… Sou muito franco. Mas como já passei 60 dias aqui dentro e sei que é muito complexo, estou tentando me inteirar. Quando assumi a Promotur, também não entendia nada de turismo. Tinha uma visão de mercado, de comércio, mas fui assimilando as coisas. E se fui convidado para continuar, é porque o prefeito estava satisfeito com o meu trabalho. Espero fazer agora, com as duas secretarias juntas, o mesmo que fiz lá atrás com o turismo.
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AN – O senhor é um consumidor de cultura? Vai a shows e espetáculos?
Esbiteskoski – Não vou dizer que sou assíduo, mas vou a shows e espetáculos. Agora, vou ter que participar mais.