Para combater o estupro e o abuso sexual entre crianças e adolescentes, é importante saber identificar os crimes. Sinas de atenção e a forma de falar sobre a situação são essenciais nesse combate. Por isso, conheça dicas sobre como abordar o assunto e entenda como identificar uma situação de abuso.

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Uma menina de 10 anos foi autorizada a fazer um aborto legal no Espírito Santo, após engravidar do tio que a violentou desde os seis anos de idade. Foram necessários quatro anos para que os abusos cometidos por um familiar, antes considerado de confiança, viessem à tona. E o caso somente foi descoberto porque a criança engravidou.

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Assim como essa menina, que carregará danos irreparáveis por toda a vida, muitas outras são abusadas diariamente no Brasil, onde 63,8% dos estupros registrados tiveram como vítimas crianças e adolescentes com até 14 anos de idade. Também, da mesma forma como ocorreu com ela, outras 75,9% vítimas foram violentadas por pessoas próximas e com algum tipo de vínculo, conforme aponta o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019.

E o fato dessas vítimas não relatarem a violência sexual que sofrem ocorre porque “muitas vezes a criança leva tempo para entender que o abuso não é um carinho”, segundo a delegada Patrícia Zimmermann D’Ávila, que coordena as delegacias de de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (DPCAMI) no Estado.

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– A gente precisa falar de abuso porque é algo que está muito próximo da gente. E eu não posso dizer que há um indicativo, nesses casos, sobre onde esses crimem ocorrem com mais frequência. Ele (o crime) não tem classe social e nem grau de instrução – alerta, ao lembrar de casos que acompanhou.

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Psicóloga e policial civil DPCAMI de Brusque, Aline Pozzolo Batista esclarece que muitas crianças que sofrem violência sexual não apresentam sinais ou sintomas do abuso, justamente por demorarem a compreender o que está acontecendo. Motivo porque, a também idealizadora do projeto “Proteja uma Criança” da Polícia Civil – ao lado da colega de Joinville, Cristina Weber – orienta aos pais a ter uma relação de confiança e de diálogo com os filhos desde muito cedo:

– Esse abuso começa, de modo geral, sem violência física, até que a criança ganha confiança no adulto. Esse adulto vai minimizar a situação do abuso, dizer que é um carinho, que é uma brincadeira e a criança como não entende, vai entrar nisso. Quando ela se dá conta de que tem alguma coisa errada, o abusador começa com as ameaças. E é nesse momento que ela vai passar a apresentar algum sintoma. Quando esse abuso já for mais grave.

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Os sinais que podem ser de agressividade, reclusão, isolamento, depressão ou medo, por exemplo. Mas os mesmos sintomas podem ser desencadeados por outras situações de estresse, segundo a psicóloga, que acredita ter um caminho mais abreviado e efetivo para a proteção dos filhos: diálogo e educação sexual.

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– Se você se atém a observar futuros sintomas, você deixa de fazer o que é mais importante para a prevenção, que é conversar com a criança. A maior ferramenta é o diálogo, fazer parte da relação com criança – orienta.

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Além disso, a especialista reafirma a necessidade de abordar a educação sexual em casa, na escola e nas unidades de saúde:

– A educação sexual começa cedo. Quando se ensina para criança o nome do genital, você está educando, porque pode prevenir um abuso. Você explica para a criança que se os genitais estão escondidas por uma calcinha ou uma cueca é porque ninguém pode colocar a mão. Porque deve estar protegido, é privacidade. 

A policial civil, que realiza junto com a colega um trabalho de orientação para pais e profissionais online, também defende a abordagem do tema em escolas e unidades de saúde, porque se o abusador estiver dentro de casa, ele não vai trabalhar a prevenção com os filhos e nem permitir que alguém o faça.

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– E isso pode ser abordado quando a criança começa a falar. Porque, se ficar para mais tarde, você não previne. A maior faixa etária de vítimas é de cinco anos – orienta.

Perguntas que ajudam a previnir o abuso sexual em crianças e adolescentes

Pergunte diariamente:

– Como foi seu dia?

– O que você fez de legal?

– Com quem brincou? Qual brincadeira?

O que você gostou de fazer? O que não gostou?

– Tem algo que te deixa desconfortável?

Depois de deixar a criança em algum conhecido, pergunte:

– Como foi lá?

– Alguém fez algo que não foi legal? 

– Você gosta de lá? Não gosta?

– O que vocês fazem lá que você gosta?

Ao apresentar sinais de abuso, questione:

– O que está acontecendo?

– Estou percebendo “isso”, como está se sentindo?

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