Promessa de novela, tentativa de venda de carro e suco adulterado. Estes são só alguns dos elementos do enredo que culminou na morte do ator catarinense Jefferson Machado, de 44 anos, segundo revolou o Fantástico neste domingo (4). Duas pessoas foram indiciadas pelo crime: Jeander Vinícius da Silva Braga, que foi preso nesta sexta-feira (2), e Bruno Rodrigues, que é considerado foragido.
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De acordo com a delegada Elen Souto, da Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), a morte do ator foi premeditada por Bruno cerca de 45 dias antes do assassinato. Ele e o ator teriam se conhecido em 2020 em um aplicativo de relacionamento.
O amigo se apresentava como assistente de direção de TV e, no último ano, teria prometido a Jeff o papel em uma novela. Para isso, passou a cobrar alguns valores em dinheiro para garantir a escalação na suposta produção.
— O Jeff se apresentou como a vítima perfeita para o Bruno. Ele tinha o desejo de se tornar ator, tinha recém saído de uma outra profissão e esse sonho começa a se tornar realidade pro Jeff a partir do final de 2022 quando o Bruno pede a transferência de R$ 18 mil em quatro parcelas para que ele conseguisse essa vaga na novela — diz a delegada.
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Foi a partir das transferências que o crime começou a ser planejado, segundo a polícia. Em 30 de novembro, Bruno teria iniciado as negociações para aluguel de uma casa, que seria usada para esconder o corpo de Jeff no fim de janeiro.
Durante as conversas, ele teria dito que “doido queria fazer a locação para usar a kitnet de motel”. O negócio foi fechado em 12 de dezembro e, segundo a dona do imóvel, o aluguel foi feito em nome de Jeff.
Conforme um áudio divulgado pelo Fantástico, na época, Jeff questionava o amigo sobre o papel na novela:
“Bruno, não desiste de mim, cara, me dá uma força, entendeu? Eu queria muito trabalhar e também preciso, né, Bruno? Meu dinheiro já acabou, entendeu? Eu vou tentar até conseguir. Me dá uma previsão”.
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O amigo, então, teria dito a Jeff que o início das gravações aconteceria em 26 de janeiro — três dias depois do assassinato. Conforme a delegada, como Jeff não começaria na novela no dia combinado, ele iria cobrar o dinheiro pago e desqualificaria o amigo, que se apresentava como diretor.
Bruno chegou a trabalhar na Globo até 2018, mas foi demitido. A emissora informou que repassou a polícia todos os detalhes do desligamento.
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Ainda de acordo com a delegada, o segundo indiciado, que foi preso na sexta-feira, começou a fazer parte da trama quando o plano começou a ser executado. Jeander, que é garoto de programa e pedreiro, contou à polícia que foi chamado por Bruno para abrir um buraco no quintal da casa que teria sido alugada por Jeff, que também era seu conhecido. Abertura seria usada para instalar uma cisterna e custaria R$ 500.
— Ele fica cavando o buraco, onde seria depositado o baú do Jeff, do dia 20 ao dia 23, razão pela qual os vizinhos do kitnet disseram que tinham visto Jeander nos arredores antes mesmo do dia 23 — diz.
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Suco adulterado e suposta gravação de vídeo
A morte do ator, segundo a polícia, ocorreu em 23 de janeiro. Por volta das 15h, Jeff estava em casa, acompanhado de Bruno e Jeader. Em depoimento, o garoto de programa disse que tinha ido ao local para gravar um filme erótico. Durante o encontro, a delegada explica que Bruno teria feito um suco natural e teria colocado na bebida uma substância para entorpecer o ator.
— O próprio Jefferson, que era extremamente naturalista, sente um gosto estranho no suco e pergunta se o Bruno tinha colocado alguma coisa dentro, porque estava com um gosto amargo — pontua.
Depois, conforme a investigação, os três subiram para um quarto, onde o suposto filme seria realizado. Jeander contou no depoimento que teria ido ao banheiro e, nesse momento, Bruno teria estrangulado o ator. Ao sair do cômodo e encontrar Jeff desacordado, Bruno teria dito ao garoto de programa “agora você está comigo nessa e vai até o fim”.
Os dois, então, teriam colocado o corpo em um baú antigo e o levado até a casa alugada no carro de Jeff. Em um documento enviado à polícia, Bruno confirmou o envolvimento no caso e que ocultou o cadáver. Porém, teria dito que uma terceira pessoa teria assassinado Jeff. Para a investigação, o objetivo foi ter um álibi.
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Amigo tentou vender carro e casa de ator
Ainda segundo a delegada, Bruno buscou elementos para tentar justificar o desaparecimento do ator à família e aos amigos. Com isso, teria se apropriado do nome de Jeff em diversas ocasiões. Foi ele, por exemplo, quem chamou um táxi para retirar os cachorros da casa do ator.
Como mostrou o Fantástico, o motorista contou em depoimento que recebeu a mensagem de um homem chamado Jeff, dizendo que um amigo iria acompanhar os cachorros até um terreno. A pessoa em questão seria Bruno, que também usou o cartão do ator para pagar a corrida. Os animais foram levados até a casa de um amigo de Jeander, na Zona Oeste do Rio.
Dias depois, desconfiando da situação, ele chamou Bruno para que retirasse os cachorros do local, alegando que eles latiam muito e estavam incomodando a vizinhança. Na data, ao invés de retirar os animais, ele deixou o portão aberto, o que fez que eles fugissem. Dois morreram, um está desaparecido, enquanto cinco foram adotados.
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O encontro dos cachorros, inclusive, foi fundamental para descobrir o desaparecimento de Jeff. Como os animais eram chipados, uma ONG, responsável pelo recolhimento, entrou em contato com o suposto dono. Porém, Bruno teria inventado um nome falso e dito para os membros da organização que viu Jeff abandonando os animais.
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“Nós vimos três cachorros correndo atrás do carro dele. E ele foi embora”, diz o áudio enviado por Bruno no qual a investigação teve acesso.
Além de trocar mensagens com a mãe de Jeff, se passando pelo ator, Bruno tentou vender ao menos três vezes o carro do amigo, segundo a polícia. A venda só não foi concretizada porque o suspeito não encontrou o documento de compra e venda do veículo. Ele também tentou negociar a casa do catarinense, com um preço abaixo do mercado.
Os celulares dos suspeitos também foram fundamentais para o esclarecimento do crime. Bruno, inclusive, teria usado um aparelho sem dados cadastrais durante a execução do crime.
— O homicídio do Jefferson aconteceu entre as 15h30min e as 18h, porque às 18h05min o Bruno, com o seu telefone, liga duas vezes a Caixa Econômica Federal. Ele sequer tinha ocultado o cadáver da vítima e já estava efetuando ligações para atender os seus interesses — diz.
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Outro ponto é que foi Bruno quem registrou o desaparecimento de Jeff na delegacia. Ele, inclusive, teria entrado em contato com a família prestando solidariedade.
— Qualquer informação agora que ajude é importante. Qualquer novidade, qualquer pingo no i, um acento que a gente descobre tem que enviar, entendeu? Para auxiliar nessa procura, nessa pesquisa. É esse o meu papel, é isso que eu to fazendo. Você fica bem aí, cuida da mãe, cuida da sua mãe aí, ela tá melhor? Ela tá bem, tá mais calma? — diz um áudio enviado pela família e divulgado pelo Fantástico.
Para a delegada, Jefferson foi manipulado e acreditava que estava acompanhado de um bom amigo.
Suspeito segue foragido
Até a manhã desta segunda-feira (5), Bruno continuava foragido. De acordo com advogado de defesa, João Maia, o processo é complexo e que “o conjunto de provas, ao longo do processo, é que vai permitir chegar numa conclusão”. Já Jeander foi preso na sexta-feira (2).
Para a mãe do ator, Maria das Dores, a justiça está sendo feita:
— Um já está preso e o outro já vai ser preso. E eles têm que ter o castigo, a punição porque o que eu estou sofrendo, tu não faz ideia. A dor de uma mãe, da perda de um filho e principalmente tragicamente como foi o Jefferson. Justiça e punição, e quero a verdade, por mais cruel que seja.
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