Fernanda Maas conheceu cedo a dura realidade de um desastre natural. Moradora da Itoupava Norte, em Blumenau, ela recorda com tristeza quando chorava, ainda pequena, por medo de a casa desabar na tragédia de 2008. Não aconteceu, mas deixou um sentimento ruim. Uma década depois, o projeto Defesa Civil na Escola cruzou o caminho dela e mudou a trajetória da jovem. Hoje, aos 21 anos, ela cursa faculdade de Geografia e tem um sonho especial:
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— Pretendo trabalhar na área geológica, para evitar que mais desastres como aqueles aconteçam.
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O projeto pioneiro da prefeitura de Blumenau começou em 2013 e logo se tornou referência em Santa Catarina. Cinco anos mais tarde, com o trabalho nas escolas consolidado, cinco alunos foram convidados para representar a cidade na conferência mundial sobre conscientização dos riscos e desastres naturais, no Japão. Fernanda, à época estudante do colégio João Widemann, que fica na rua onde ela mora desde a infância, foi uma das escolhidas. Junto dos colegas, passou por meio ano de preparação.
Por si só já seria uma experiência incrível para a então adolescente, mas o destino reservava mais.
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— Por um ano e meio fui jovem aprendiz na Defesa Civil de Blumenau e ajudava no projeto nas escolas. Algumas vezes cheguei a dar umas aulinhas — recorda animada.
Ver de perto a questão dos desastres ambientais ser tratada com as crianças a fez perceber a carência de informação da população sobre o assunto, por isso escolheu o caminho da Geologia na vida profissional.
— É interessante como esse assunto debatido em sala de aula me fez refletir muito sobre poder ajudar a comunidade prevenir os riscos. Tudo acabou ficando muito na minha cabeça e me inspirou bastante. Foi onde encontrei o que gosto muito de fazer, que é geologia. Eu não sei se não fosse esse aprendizado se eu teria pensado nessa opção de curso — diz a acadêmica.

Ela aprendeu na escola e leva para a vida
Agente comunitária de saúde, Isadora Rohling, de 19 anos, caminha diariamente pela Escola Agrícola para levar atendimento aos moradores. No vaivém do trabalho, percebe as construções em áreas de risco e os sinais no solo e na vegetação quando algo pode não estar bem. É um olhar que foi treinado dentro da escola Norma Dignart Huber, na região da Coripós, uma das comunidades castigadas pela tragédia de 2008 em Blumenau. Ela mesma e família acabaram impactadas à época.
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— Nossa rua ficou interditada por semanas. Chegava cesta básica para nós com máquinas. Eu presenciei coisas horríveis. Lembro de estar com o meu pai e ver um poste deslizando — recorda.

A catástrofe daquele ano serviu de marco para a Defesa Civil de Blumenau, que ganhou uma nova estrutura para combater um perigo até então desconhecido. Ao longo desse processo, a prefeitura entendeu que era preciso intervir nas crianças, para formar uma geração mais consciente à preservação da vida e à minimização de danos em situações de calamidade.
Ao que tudo indica, a semente começa a dar frutos.
— Foi um aprendizado muito importante não só para os alunos, mas para toda a comunidade saber como prevenir, como agir quando acontece, porque aqui é uma área de risco. Quando vejo alguém novo na região construindo, faço o alerta. Se vejo algum sinal de perigo, oriento a procurar a Defesa Civil — afirma Isadora.
A jovem gostou tanto do projeto que ano seguinte à participação no Defesa Civil da Escola ingressou em outra iniciativa pioneira de Blumenau: o programa de Agentes Mirins da Defesa Civil. As duas iniciativas acontecem de forma contínua na cidade, multiplicando conhecimento, como explica a Luciana Schramm Correia, coordenadora dos projetos.
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Em uma década de trabalho, o Defesa Civil nas Escolas já percorreu 81 unidades de ensino, contemplando quase 6 mil alunos em Blumenau.