O candidato do Partido Social Liberal ao governo de Santa Catarina, Comandante Moisés, não apareceu entre as três primeiras colocações em nenhuma das pesquisas de intenção de voto. No pouco tempo de propaganda eleitoral gratuita e, sobretudo nos debates, apresentou-se como o representante de Jair Bolsonaro no Estado. No último confronto de ideias, realizado pela NSC Comunicação cinco dias antes do primeiro turno, reafirmou diversas vezes que era o único candidato do capitão reformado no Estado, em resposta a Gelson Merisio (PSD), que declarou seu voto ao presidenciável do partido de Moisés na reta final de campanha.
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Para o segundo turno, Moisés vai seguir a campanha no mesmo tom, insistindo que é ele o catarinense que tem os ideais de Bolsonaro. Mas algo na estratégia do comandante deve mudar. Isso porque na terça-feira (9) o candidato do PSL à Presidência disse que não vai assumir um lado no segundo turno de Santa Catarina.
— Temos um candidato, um comandante (Moisés) que foi para o segundo turno, mas, respeitosamente, Santa Catarina foi o Estado com a minha maior votação. Se eu assumir um lado, vai cair minha votação. A votação mais importante para nós é para presidente da República – declarou Jair Bolsonaro em entrevista à Rádio Jovem Pan.
A neutralidade do presidenciável, que teve 65,8% dos votos válidos em Santa Catarina, não preocupa seu correligionário Moisés. Segundo ele, está “sacramentado”: as eleitores sabem quem representa as ideias de Bolsonaro nas eleições catarinense.
— As pessoas não têm dúvida de quem é o candidato ao governo do Estado, pelo PSL. A sociedade já está ciente, já está entendendo que não cabe meia mudança. A mudança tem que ser total. E a gente tem que se alinhar com o governo federal — afirmou Moisés, lembrando da votação expressiva que o partido teve no Estado.
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E ainda recordou das gravações do capitão reformado para sua campanha e disse que não acredita que perderá votos caso o militar da reserva não apareça nos programas do segundo turno.
— Logo após que eu estive com Jair Bolsonaro gravando, ele sofreu aquele incidente. A partir dali, nós começamos a nadar de braçada aqui em Santa Catarina. Tivemos o resultado que tivemos. Temos nossa individualidade. E a gente está apresentando ao eleitor catarinense, que é um eleitor arguto, inteligente, essa mudança de verdade — disse.
Veja como militares de SC reagiram a declaração na coluna de Ânderson Silva no NSC Total
A estratégia de Gelson Merisio
A fala de Bolsonaro tampouco causou mudanças na estratégia do outro concorrente ao executivo catarinense, Gelson Merisio. O candidato do PSD gravou um vídeo a dez dias do primeiro turno assumindo seu voto em no PSL para a Presidência.
– Neste momento fundamental que atravessa nosso país, não podemos nos omitir, cada um de nós terá que se posicionar de uma forma muito clara. Ou olhamos para trás, ou damos uma chance a mudança. Por isso, por uma questão de coerência com o que de deseja Santa Catarina, voto Bolsonaro – justificou Merisio.
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Sobre Bolsonaro ficar neutro em solo catarinense, Merisio não se manifestou, mas sua equipe disse que a estratégia de campanha vai continuar a mesma.
“Contradição à fidelidade partidária”
Para o professor de Gestão de Políticas Públicas da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) Eduardo Guerini, a neutralidade de Bolsonaro demonstra uma contradição à fidelidade partidária e pode atrapalhar até a própria estratégia de campanha do presidenciável em Santa Catarina.
– Pode-se observar que o PSL não tem disciplina programática e, ao mesmo tempo, está se constituindo como partido após o resultado do processo eleitoral – afirma Guerini.
Guerini enxerga a possibilidade de o eleitor catarinense de Bolsonaro não entender a lógica do candidato, e até interpretar como uma traição ao representante do PSL no Estado. Tentando manter o palanque das duas candidaturas ao governo, Bolsonaro pode afastar o voto dos que rejeitam a política tradicional. Pelo histórico, o professor acredita que o militar pode até voltar atrás do que disse e expressar o apoio à Moisés.
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Segundo o professor, a estratégia dos dois surtiu efeito porque o catarinense resolveu romper com os principais partidos.
– O Moisés está mais fiel a sua narrativa e ao PSL, sem vínculo com as narrativas políticas tradicionais. A declaração de voto de Merisio garantiu a passagem para o segundo turno, mas agora não é um elemento de vantagem contra o partido do próprio Bolsonaro. O voto é de rejeição aos partidos políticos tradicionais – avalia.
Como se posicionaram os partidos derrotados
Os partidos das coligações que foram derrotadas no primeiro turno das eleições estaduais em Santa Catarina já começaram a definir quais candidatos devem apoiar na segunda etapa da disputa. No domingo, os eleitores catarinenses definiram que Comandante Moisés (PSL) e Gelson Merisio (PSD) devem seguir concorrendo ao cargo de governador do Estado.
Dentre as legendas consultadas, a maioria ainda não definiu quem vai apoiar, mas as reuniões estão marcadas. Muitas delas ocorrem ainda nesta quarta-feira (10). Partidos posicionados mais à esquerda no espectro ideológico decidiram pedir aos eleitores para que anulem o voto, com exceção de PT e PCB, que ainda irão se manifestar.
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Décio Lima (PT)
– A reunião para discutir a posição do partido ainda não tem data definida.
Ingrid Assis (PSTU)
– Partido orientou a militância a votar nulo.
Leonel Camasão (PSOL)
Partidos da coligação: PSOL, PCB
PSOL
– No estado, o partido está sugerindo voto nulo aos eleitores.
PCB
– O partido terá reunião na sexta-feira (12) para decidir.
Jessé Pereira (Patriota)
Coligação: PMN
Patriota
– Informou que deve definir o apoio até amanhã
PMN
– Não retornou os contatos.
Mauro Mariani (MDB)
Coligação: MDB, Avante, PSDB, PTB, PTC, PRTB, DC, PR, PPS.
MDB
– Filiados estão liberados para declarar apoio ao candidato que desejarem.
Avante
– Haverá reunião hoje para definir o apoio.
PSDB
– Decidiu liberar os correligionários para votarem em quem quiserem
PTB
– Ninguém do partido foi encontrado.
PTC
– A executiva vai definir o possível apoio na noite desta terça-feira.
PRTB
– Partido vai apoiar o Comandante Moisés.
DC
– Dirigentes vão se reunir na noite de quarta-feira (10) para decidir.
PR
– Legenda vai se reunir quarta-feira (10) com o senador eleito Jorginho Mello, presidente do partido, para definir o apoio.
PPS
– O partido ainda está em processo de avaliação para definir quem poderá apoiar no segundo turno.
Rogério Portanova (Rede)
– Partido ainda não se posicionou. Terá uma reunião nesta semana, mas sem data definida.
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