Como o Technovation mudou a vida de centenas de meninas em Florianópolis

A gente vê grupos de mulheres sendo criados todos os dias, cada um tentando contemplar diversas necessidades, e a sensação é de que estamos cada vez mais ocupando espaços dos quais não fazíamos parte, certo? Infelizmente, os resultados não são tão positivos assim.

O que os números nos mostram, em se tratando de mulheres atuando no setor de tecnologia, é o contrário. De acordo com estudo da Softex sobre mulheres na TI, elas vêm perdendo participação — em 2007 ocupavam 24% dos postos de trabalho neste segmento, sendo que este número diminuiu para 20% em 2017.

Em nível regional, temos os dados da Coperve, que organiza os vestibulares da UFSC. Segundo a comissão, são cada vez menos mulheres participando do processo seletivo e consecutivamente, entrando nos cursos de tecnologia. Em 2018, foram aprovadas na primeira chamada para o curso de Ciência da Computação um percentual de 2,9 mulheres, enquanto 97,1% foram homens.

Pensando em preparar a próxima geração de desenvolvedoras e empreendedoras em tecnologia, a competição mundial Technovation Challenge estimula meninas de 10 a 18 anos a desenvolverem habilidades de tecnologia, empreendedorismo e língua inglesa, ao longo de 12 semanas, de fevereiro a abril.

Neste ano, rodamos a quarta edição da competição em Florianópolis, com 108 meninas inscritas e mais de 60 mentoras, mulheres que conduzem os times durante esta jornada e que também atuam no setor tecnológico, dedicando seu tempo a este trabalho voluntário.

O Technovation apresenta para as alunas uma infinidade de oportunidades que existem no setor da tecnologia. Mas quanto mais vamos conhecendo as meninas e suas histórias, mais vamos entendendo que a competição se trata de algo bem maior: mostrar para elas como podem desenvolver todo o seu potencial. E noto como as mentoras também aperfeiçoam as suas habilidades ao transmitir seus conhecimentos.

Uma das maiores dificuldades que enfrentamos para fazer o Technovation acontecer é conseguir patrocínio, principalmente para alimentação. As meninas chegavam às 13h30 ao local do projeto e muitas delas, para conseguir entrar no ônibus que fazia o transporte, muitas vezes não almoçavam. Quando chegava no meio da tarde, a maioria já não conseguia prestar atenção em mais nada, pois estava com muita fome.

Por outro lado, vi também muita gente querendo ajudar. Tivemos parceiros que acreditaram no nosso trabalho e forneceram bolsa de estudos em escola de programação e tecnologia no valor de R$ 10 mil, além de um computador e um celular para serem sorteados entre as participantes e o transporte da maior parte das meninas, da escola até os workshops. Além disso, conseguimos patrocínio para a produção das camisetas, copos e certificados, que são tão importantes para as meninas se identificarem com o programa.

E tenho ainda a agradecer a parceira que pagou o coffee do próprio bolso, para que as meninas pudessem se preocupar apenas em aprender, bem como às pessoas que vieram ministrar workshops e atuar como juradas e jurados, de forma voluntária, com muita entrega e profissionalismo.

Tech SC: fique por dentro do universo da tecnologia em Santa Catarina​​

De forma mais que especial, agradeço às mentoras que dedicaram as suas tardes de sábado para o Technovation e guiaram as meninas para que elas não desistissem da competição. E claro, às meninas que toparam se desafiar nesta jornada tão exaustiva, mas que traz o conhecimento como recompensa, além de novas e fortes amizades.

Além da infinidade de lições que aprendemos, destaco alguns momentos que me marcaram durante esta quarta temporada:

— A menina que ganhou o primeiro computador de sua vida, primeiro também da família inteira, em um sorteio no dia da apresentação dos pitches;

— Aquela outra que começou a frequentar o programa com 10 anos de idade e que andou de elevador pela primeira vez na sede do Sebrae, onde o projeto é realizado. Hoje, aos 14 anos, trabalha na equipe de desenvolvimento de uma das maiores empresas de tecnologia do Brasil;

— A garota que estava com depressão e seu time foi o vencedor da categoria na temporada anterior, nos mostrando que o Technovation também pode ser sobre salvar vidas.

Deixo alguns questionamentos: como nós, mulheres, podemos nos ajudar de uma maneira mais eficiente? Como podemos auxiliar as futuras gerações a enfrentarem este mundo de oportunidades que o setor tecnológico pode oferecer? E vou além: como as empresas podem ajudar e se beneficiar desta mão de obra que não está participando do processo de inovação?

Ainda não tenho todas estas respostas mas eu e a equipe da qual faço parte estamos muito orgulhosas com as conquistas da nossa dedicação pra fazer estas mudanças acontecerem e vamos acompanhando e vibrando com a cada conquista das meninas e mulheres que passam pelo programa.

E se você quer fazer parte desta iniciativa, seja como embaixadora, mentora ou patrocinador, entre em contato conosco! A temporada 2020 já está saindo do forno, com muitas novidades e com uma equipe empenhada em fazer a mudança que queremos ver na nossa sociedade.

*A Júlia foi convidada pela Tech Power para escrever sobre sua experiência no Technovation. A Tech Power é uma iniciativa que busca ampliar a participação e liderança feminina no setor tecnológico da Grande Florianópolis por meio da comunicação. O projeto foi criado por mulheres que trabalham na Dialetto, empresa de assessoria de imprensa e marketing digital especializada em tecnologia. Saiba mais.