*Por Ben Casselman, Jim Tankersley e Jeanna Smialek

San Diego, Califórnia – Quando os economistas da nação se reuniram aqui no início de janeiro, o evento parecia diferente do que fora nos últimos anos. Havia uma mulher para ajudar as vítimas de assédio sexual e abuso. As entrevistas de emprego não eram mais realizadas em quartos de hotel, onde as candidatas se sentiam desconfortáveis fazia muito tempo. Havia uma longa lista de painéis de discussão sobre racismo e sexismo na profissão.

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Havia até mesmo – alguns participantes notaram com prazer – longas filas para o banheiro feminino. Muitos economistas celebraram essas mudanças como um sinal de progresso após um ano de revelações – em matérias de primeira página e pesquisas com os membros do grupo – sobre sexismo, racismo e assédio na área.

Mas outros enfatizaram a necessidade de uma ação ainda mais agressiva para abordar essas questões, particularmente a discriminação racial. E líderes do grupo disseram que precisariam de anos de trabalho contínuo para começar a minar as barreiras estruturais que atrasam o desenvolvimento de mulheres e homens não brancos no setor.

"Certamente, há um problema – já o identificamos", disse Ben Bernanke, ex-presidente do Federal Reserve, cujo mandato de um ano como presidente do grupo, a Associação Americana de Economia, terminou em cinco de janeiro. "Progresso em matéria de resultados, é muito cedo para dizer, obviamente. O progresso em matéria de processo acho que foi enorme."

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Em uma entrevista, Bernanke e a nova presidente, Janet L. Yellen, sua sucessora também no Fed, disseram que a associação logo vai finalizar os procedimentos para investigar violações de seu código de conduta e punir os infratores. Uma queixa formal já foi apresentada, disseram eles.

Bernanke afirmou que outras medidas podem ser necessárias para diversificar as estruturas de poder da profissão, ainda dominadas por homens brancos (embora a maioria do comitê executivo da associação, com a ascensão de Yellen, seja do sexo feminino). Esforços adicionais podem incluir a classificação dos departamentos de economia universitários em seus esforços de diversidade e garantir a diversidade racial e de gênero nas posições de cúpula nas principais revistas, que podem fazer ou encerrar a carreira de economistas ao rejeitar ou publicar suas pesquisas.

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(Foto: Sandy Huffaker / The New York Times )

A economia está lidando com essas questões como outras disciplinas acadêmicas estão enfrentando suas próprias considerações. Em 2018, a Academia Nacional de Ciências publicou um relatório que encontrou assédio sexual generalizado em ciências, engenharia e medicina. Estudiosos proeminentes em ciência política, governo, direito e outros campos foram acusados de assédio sexual. Mas as diferenças de gênero e raça na economia são mais amplas – e mais persistentes – que em muitos outros campos.

A falta de diversidade na economia, particularmente nas fileiras superiores, não é novidade. Mas a disciplina foi forçada a enfrentar seus problemas por causa de uma série de incidentes nos últimos anos. Em 2017, uma estudante de economia, Alice Wu, publicou um artigo documentando discriminação, assédio e bullying em um popular fórum on-line do setor. No ano seguinte, Roland G. Fryer Jr., famoso economista de Harvard, foi acusado de assediar e intimidar mulheres em seu laboratório de pesquisa afiliado à universidade. (A Harvard suspendeu Fryer no ano passado.)

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Na reunião da associação de economia no ano passado – menos de um mês depois que o "The New York Times" publicou detalhes das alegações contra Fryer –, algumas das mulheres mais proeminentes do campo compartilharam histórias de assédio e discriminação. E, em março, a associação publicou os resultados de uma pesquisa mostrando que economistas do sexo feminino e de minorias enfrentaram preconceito, assédio e até mesmo agressão sexual.

A associação tomou uma série de medidas em resposta a essas revelações. Adotou um novo código de conduta e alterou seus estatutos para permitir sanções contra membros que o violam. Contratou um ombudsman para ouvir reclamações e um novo conselheiro geral que tem o poder de investigar acusações de má conduta. Criou forças-tarefas encarregadas de abordar os problemas da profissão e recrutar mais mulheres e pessoas de cor, e um comitê permanente para lidar com questões enfrentadas por economistas gays, lésbicas e transgêneros.

"O que ouvi muitas vezes é que este é o momento, precisamos aproveitá-lo", disse M. V. Lee Badgett, professora da Universidade de Massachusetts Amherst, que é copresidente do novo Comitê sobre o Status de Indivíduos LGBTQ+ na Profissão de Economia.

Alguns economistas, particularmente os mais jovens, estão pedindo uma reformulação mais radical da estrutura da disciplina. A economia acadêmica continua dominada por pesquisadores que participaram e trabalham em algumas instituições de elite. Relativamente poucos economistas, particularmente em programas superiores, vêm da classe trabalhadora ou têm pais que não fizeram faculdade.

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"Diversidade não significa trazer pessoas com pele mais escura que usam exatamente os mesmos modelos e fazem exatamente as mesmas perguntas e chegam às mesmas conclusões. Abraçar a diversidade significa se abrir às novas questões e novas formas de ver o mundo que acabarão por melhorar a ciência econômica", disse Cecilia Conrad, economista que agora é executiva da Fundação MacArthur.

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(Foto: Sandy Huffaker / The New York Times )

Conrad, que é negra, falou em um painel intitulado "Como a economia pode resolver seu problema racial?". A discussão sobre raça e racismo foi mais proeminente na agenda deste ano, depois que os organizadores foram criticados no ano passado por terem negligenciado essas questões.

"No ano passado, foi a conferência de gênero, este ano é a conferência de raça", disse Lisa D. Cook, economista da Universidade Estadual do Michigan e uma das mulheres negras mais proeminentes do campo. Gênero e raça, acrescentou ela, andam de mãos dadas – a pesquisa da associação no ano passado descobriu que mais mulheres negras relatam sofrer discriminação do que qualquer outro grupo.

Cook também é uma das quatro mulheres recém-eleitas para o comitê executivo. Economistas, incluindo muitos jovens ativistas, disseram que a nova liderança tinha feito a diferença, e creditaram a Bernanke e Yellen a mudança do ritmo tipicamente lento da associação, tornando-a mais agressiva.

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Há também sinais de uma mudança cultural mais ampla. Muitos participantes disseram que se sentiram mais confortáveis para levantar questões sobre a diversidade em seus departamentos, por exemplo, e uma lista crescente de escolas adotou regras destinadas a melhorar o tom das aulas de economia, que alguns descreveram como tóxicas.

"O problema não está resolvido, absolutamente", disse Anna Gifty Opoku-Agyeman, pesquisadora de Harvard que, como aluna de graduação, foi cofundadora do Sadie Collective, grupo cujo objetivo é trazer mais mulheres negras para a economia. "Mas estamos vendo que o campo em si está, em um nível muito alto, tomando medidas para falar sobre diversidade e inclusão de uma forma mais ampla."

Embora os economistas estejam mais dispostos a falar sobre questões gerais de discriminação, muitos continuam relutantes em vir a público com alegações mais específicas. Leto Copeley, advogada indicada a ombudswoman da associação, contou que pessoas a haviam procurado com casos de abuso grave, mas estavam com medo de falar publicamente.

Yellen disse que "não há um dilúvio de pessoas se apresentando" com alegações. "Há uma preocupação. Na academia, você está realmente falando sobre relações de poder, quando as mulheres estão sendo assediadas por homens que são importantes para a carreira delas", afirmou.

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Em um almoço em quatro de janeiro, membros da Associação Nacional de Economia comemoraram o 50º aniversário do grupo. A organização foi fundada como o Comitê de Economistas Negros em dezembro de 1969, em uma reunião improvisada no meio da convenção da profissão em um hotel de Nova York. Vários fundadores falaram durante o almoço, elogiando as conquistas dos economistas negros, mas lamentando que muito mais era necessário.

Um dos fundadores, Bernard E. Anderson, professor emérito da Escola de Administração Wharton da Universidade da Pensilvânia, disse que foi incentivado pelo recente foco na diversidade da Associação Americana de Economia e de seus líderes. Ele lembrou que, quando seu grupo se encontrou pela primeira vez naquele hotel em Nova York em 1969, os líderes de associação chamaram policiais da cidade.

"Eles acharam que éramos um bando de radicais que queriam conturbar a convenção, quando tudo o que queríamos ser era economistas", disse Anderson.

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