A maneira como acessamos notícias mudou profundamente nos últimos anos. Hoje, além de dispor do noticiário de veículos tradicionais como rádio e TV, somos informados por meio dos feeds de redes sociais, pelo resultado das pesquisas que fazemos no Google, por recomendações recebidas de amigos e familiares no WhatsApp. Essas transformações nos hábitos de consumo de informações foram impulsionadas pela tecnologia. Mas qual o impacto de tudo isso para quem produz as notícias? Quais alterações vêm ocorrendo no jornalismo?
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É inegável que o surgimento das mídias sociais trouxe benefícios aos jornalistas. Eles passaram a ter maior proximidade com o público, uma multiplicidade de fontes para as reportagens e a possibilidade de alcance global das notícias. Por outro lado, Google, Facebook e outros gigantes do Vale do Silício dominaram o mercado publicitário, contribuindo com a derrocada do modelo de negócio jornalístico. Eles também propiciaram o agravamento do cenário de desinformação, com a propagação de boatos em escala mundial.
Para o bem ou para o mal, essas plataformas foram incorporadas à rotina jornalística. De acordo com o relatório do Instituto Reuters de 2020, 67% dos brasileiros consomem notícias por meio de mídias sociais. Nesses espaços, o jornalismo compete pela atenção do leitor com os mais diversos tipos de conteúdos, como entretenimento e informações falsas. Para se destacar em meio a tudo isso, os jornalistas adotam técnicas que vão ao encontro da lógica dos algoritmos que regram o funcionamento de sites como Facebook e Google.
O dilema das redes: somos a última geração a vivenciar a era analógica
Como ficar bem posicionado nas buscas? Como conseguir mais engajamento nos posts? Como “viralizar”? Essas são algumas das perguntas que vêm norteando a produção de conteúdo em redações do mundo todo. Painéis que mostram a audiência em tempo real e indicam quais publicações estão “bombando” são utilizados pelos profissionais para escolhas editoriais. Os dados que traduzem o comportamento dos usuários nas plataformas sociais e de buscas são levados em conta para a definição de temas, formatos e linguagem das notícias.
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Considerar os critérios do Google e do Facebook pode se refletir em reportagens que atendam aos anseios do público. Fazer parte das conversas nas mídias sociais é uma oportunidade para que o jornalismo se conecte com os leitores, especialmente com os mais jovens, que muitas vezes não acessam notícias em outros meios. No entanto, não se pode perder de vista o equilíbrio jornalístico constante entre oferecer o que é interessante e o que é importante; aportar informações instigantes e atrativas, mas também relevantes para a tomada de decisão consciente nas sociedades democráticas.
*Ingrid Santos é editora no NSC Total e mestra em Jornalismo pela UFSC. É autora da dissertação “Valores-notícia incorporados ao jornalismo a partir de sites de redes sociais”.
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