Eles vieram de lugares com culturas e língua diferentes em abril de 2014 para cuidar do outro. São argentinos, bolivianos, colombianos, mexicanos, uruguaios e venezuelanos que desde o ano passado moram em Blumenau e integram o programa Mais Médicos. Neste intercâmbio, os estrangeiros deixam de lado barreiras do idioma e imprimem técnicas, aprendizados e ações que se somam ao modelo da rede pública de saúde.
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Entre esses profissionais estão Juan Manuel Fernandez Perez e Viviana Gisela Knappe. Pediatras de formação, o casal argentino veio junto para Blumenau. Ele é o médico responsável pela Estratégia de Saúde da Família (ESF) Haroldo Ewald, no bairro Itoupavazinha, e ela responde pela ESF Ivanilde Bernardi, na Água Verde.
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No postinho Haroldo Ewald, a enfermeira coordenadora Ana Paula Machado conta que Juan é bem visto pela comunidade e pela equipe, que com ele iniciou uma nova rotina de atendimentos. Normalmente a enfermeira é quem faz o acolhimento dos pacientes antes das 9h e a triagem, para então mandar a pessoa para o médico se for preciso. Mas Juan a acompanha na triagem para agilizar o processo e aumentar o número de consultar diárias, além de se aproximar da comunidade.
– O doutor trabalha em equipe, se esforçou para aprender as rotinas do SUS e os encaminhamentos, que são diferentes da origem dele – conta Ana.
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Com paciência para falar lentamente a mistura de português e espanhol, Viviana ressalta que escutar e conversar com os pacientes é um ponto essencial das unidades de saúde da família.
– Percebemos que os problemas nem sempre são de saúde, mas às vezes sociais. O paciente tem algum problema e acaba indo para o posto em busca de alguém pra ouvir o que ele tem a dizer – explica.
A atenção é recompensada. Nas duas unidades os pacientes elogiam o atendimento dos argentinos e falam que o sotaque não é uma barreira.
– Ele dá atenção, é muito bom. Tomara que fique muito tempo aqui – diz Nélson Fidelis, morador da Itoupavazinha.
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Proximidade maior com a comunidade
A estrutura das ESFs ajuda a melhorar o relacionamento do médico com os colegas e pacientes, avalia o professor João Gurgel, que dá aula no mestrado em saúde coletiva na Furb:
– Na ESF o médico não fica na sala receitando remédio, ele precisa ouvir e ter contato com a família. É um desafio para o estrangeiro porque ele precisa entender a realidade da comunidade, mas é um contexto que facilita o processo de adaptação.
Blumenau tem hoje 15 profissionais do Mais Médicos atuando em unidades de ESF. Os outros três que vieram ao município pediram dispensa por motivos pessoais, de acordo com o médico supervisor do programa na cidade, Rafael de Franceschi. Ele ressalta que os médicos supriram a demanda de postos de saúde que estavam sem profissionais. Blumenau fez parte da terceira etapa do programa.
Da Espanha para o Vale
Ela nasceu em Cochabamba, na Bolívia. De lá, foi estudar na Espanha, onde concluiu o mestrado. Com os estudos finalizados, a médica Gianira Saenz Alcocer, 30, pretendia voltar ao país natal, mas acabou parando no meio do caminho: decidiu ter uma experiência a mais no Brasil e se encontrou em Blumenau. Desde o ano passado, ela atende na ESF Gustavo Tribess, no bairro Tribess, onde criou laços com pacientes e trouxe experiências do estudo na Europa.
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Do seu mestrado, a médica trouxe ao Brasil um atendimento que até então não era feito na unidade de saúde. A formação em desarollo infantil, no termo em espanhol, é focada em transtornos de desenvolvimento para crianças entre zero e seis anos, como síndrome de down e autismo.
– Na Espanha isso faz parte do atendimento público, mas aqui embora tenha o Caps (Centro de Atenção Psicossocial) não havia um acompanhamento contínuo dessas crianças – conta.
Sobre as diferenças nos sistemas de saúde, a médica ressalta que na Bolívia não existe um seguro de saúde e que o paciente que precisa de atendimento tem que pagar a consulta particular:
– Não tem a figura do clínico geral lá. Se o paciente tem dor de cabeça já vai direto para um neurologista.
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Cubano orienta sobre gravidez na adolescência
Os casos de adolescentes grávidas em um bairro de Gaspar chamaram a atenção da secretaria de Saúde da cidade. Para tentar conscientizar as jovens, profissionais das unidades de saúde do município iniciaram projetos com visitas às escolas do bairro Barracão, para levar às salas de aula informações de prevenção e riscos da gravidez na adolescência. O projeto inicialmente era feito por enfermeiras, mas ganhou um sotaque diferente com a chegada do médico cubano Eriosvel Ochoa Reina.
Um dos sete intercambistas do Mais Médicos em Gaspar, Eriosvel ajudou a intensificar os programas de conscientização nas escolas. Hoje, ele vai aos locais de ensino pessoalmente compartilhar os conhecimentos da sua pós-graduação feita antes de chegar ao Brasil, que tinha como foco de estudo exatamente os riscos da gravidez precoce.
De acordo com a Secretaria de Saúde, ele não é o único estrangeiro a incentivar projetos nas comunidades de Gaspar. Os sete médicos do programa – cinco cubanos, um argentino e um brasileiro – são elogiados pela atuação. Para a coordenação do Mais Médicos no município, todos os postos de saúde que têm profissionais do programa contam com diferenciais destacados.
O professor João Gurgel ressalta que os médicos cubanos possuem uma qualificação a mais quando atendem no sistema de saúde brasileiro:
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– A formação médica em Cuba é muito focada em atenção básica e saúde da família, que é o ponto principal das ESFs. Isso torna o profissional muito mais preparado para atender num posto de saúde no Brasil. O ponto mais importante não é o fato de ser estrangeiro, mas sim a formação diferenciada de cada país.