A poucos dias do início da Copa do Mundo, muitos catarinenses já se preparam para acompanhar os jogos. Os olhares se voltam não apenas aos gramados russos, mas para fora deles. Antes de a bola rolar, um dos assuntos que ganham as rodas de conversas é sobre como os principais atletas chegarão para a competição. E os torcedores, em que condicionamento estão para o Mundial?

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Confira a tabela de jogos da Copa da Rússia

Evitar excessos e cuidar com o estresse e alimentação são atitudes que podem ajudar a garantir a saúde em dia ao longo dos 32 dias de Copa do Mundo. Afinal, com a Seleção Brasileira também entra em campo um time de peso: churrasco, cerveja, batata frita e pipoca. Caso o Brasil chegue à final, serão sete jogos, ou pelo menos 630 minutos, de muita confraternização, bebida e frituras. A nutricionista Carla Zanelatto reforça que o importante é apostar em uma alimentação equilibrada, sem radicalismos:

– Torcedores acabam optando por refrigerantes, cervejas e alimentos como pizzas, hambúrgueres industrializados e salgados fritos, que geralmente são ricos em gordura saturada e pobres em nutrientes. Além disso, o elevado consumo desses alimentos pode levar, ao longo do tempo, ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares e aumento de ‘colesterol ruim’.

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A especialista diz que o importante é não exagerar. Então, se o torcedor for tomar cerveja, que o consumo seja moderado e intercalado com água. Isso mantém a hidratação e ameniza os sintomas da ressaca no dia seguinte.

Na hora de torcer, também é importante manter o cuidado com o coração. A adrenalina aumenta os batimentos cardíacos e a pressão arterial. Os considerados grupos de risco, como aqueles que têm doença cardíaca, hipertensos, diabéticos, quem já teve AVC e idosos, devem estar com o tratamento em dia, sem esquecer dos remédios durante as comemorações.

– Para o indivíduo que não faz uso da medicação adequada, exagera na bebida, vai para conglomerados, todo esse somatório aumenta a probabilidade de infarto, AVC, insuficiência cardíaca aguda e potencializa a arritmia – explica Stephan Lachtermacher, coordenador da Unidade Cardio-Intensiva clínica do Instituto Nacional de Cardiologia (INC).

Recentemente, em 27 de maio, um torcedor do Internacional (RS), de 73 anos, teve uma parada cardíaca e morreu após a vitória de virada da equipe sobre o Corinthians, em Porto Alegre. Segundo o Corpo de Bombeiros, cinco pessoas foram atendidas depois da partida com suspeitas de problemas cardíacos. Alguns estudos, como um feito em Munique, na Alemanha, após a Copa do Mundo de 2006, mostrou que o risco de um ataque cardíaco ou outro problema cardiovascular em homens foi três vezes maior nos dias em que a seleção alemã jogou. Mas o cardiologista e intensivista Fernando Graça Aranha defende que esses torcedores poderiam ter alguma reação ou risco em qualquer outro evento que gerasse algum tipo de emoção:

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– Essas pessoas passam mal porque já têm alguma outra doença não descoberta, às vezes até sabida, mas não estabilizada.

Com os cuidados necessários, não há contraindicações à torcida. Aliás, a Copa representa, inclusive, uma oportunidade para reunir amigos e família.

– Para mim, Copa é reunir todo mundo e nos divertirmos juntos. Vai além do futebol – resume o torcedor catarinense Jean Rodrigues.

Folga bem-vinda

Na sala do DJ e representante comercial Pedro Celso Damásio, 57 anos, a foto dele em um estádio de futebol ocupa lugar de destaque. Ele acompanhou, sentado na arquibancada norte-americana, o tetracampeonato da Seleção Brasileira. Depois de 24 anos, ainda lembra com detalhes a conquista. Das quartas de final, recorda do terceiro gol, feito por Branco em cobrança de falta, diante da Holanda.

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Também guarda na memória o lance contra a Suécia, na semifinal, em que Romário usou a cabeça para balançar a rede quase no fim do jogo. E, é claro, do pênalti perdido pelo italiano Roberto Baggio na decisão.

De lá para cá, muita coisa mudou na vida do morador de Balneário Camboriú. Há sete anos, nasceu a primeira neta. Ele começou a carreira de DJ e adotou alguns hábitos mais saudáveis. Com o diagnóstico de pressão alta, diminuiu o sal da comida, evita frituras e alimentos ultraprocessados, e toma remédio diariamente para a doença. Além disso, faz check-up duas vezes por ano.

Com o diagnóstico de pressão alta, Pedro diminuiu o sal da comida, evita frituras e alimentos ultraprocessados
Com o diagnóstico de pressão alta, Pedro diminuiu o sal da comida, evita frituras e alimentos ultraprocessados (Foto: Felipe Carneiro / Diário Catarinense)

A mulher dele, Fátima, 54 anos, começou a fazer comida mais saudável para ajudar o marido, que não pode ganhar peso. Ele emagreceu oito quilos nos últimos dois anos, e ela viu uma oportunidade de negócio. Foi quando começou a vender os pratos. Mas na hora da Copa, eles dão uma folga para as marmitas e partem para guloseimas de festa junina, como pipoca, pinhão e quentão. Dependendo da hora, churrasco e cerveja também entram em campo:

– Por que cuidar da saúde só na época da Copa? Eu cuido da minha saúde o ano todo. Não dá para fazer isso só de quatro em quatro anos – brinca Pedro.

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Torcedor assíduo desde a Copa do Mundo de 1970, o representante comercial costuma assistir a todos os jogos da competição.

Tenta manter a calma, mas, como muitos torcedores, tem mania de técnico e dá instruções a todos os jogadores. Na reta final dos jogos, mal consegue ficar no sofá e costuma andar pela sala.

– Ele fica bem brabo, mas depois passa. Fico com medo da pressão alta. A emoção do futebol nestas horas chega a um limite – conta Fátima.

Mas, segundo especialistas, embora a adrenalina possa aumentar os batimentos cardíacos e até a pressão arterial, há pouco com o que se preocupar, desde que Pedro Celso não deixe de tomar os remédios:

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– A medicação elimina malefícios de doenças, como insuficiência cardíaca e hipertensão arterial. Então, a gente sempre preconiza a manutenção adequada das medicações – reforça o coordenador da Unidade Cardio-Intensiva clínica do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), Stephan Lachtermacher.

O cardiologista Laercio Uemura, professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), lembra que não há nenhuma contraindicação para assistir aos jogos, caso a doença esteja controlada. Mas isso não significa exagerar nas doses de cerveja, na fritura ou no cigarro:

– Eles podem assistir, torcer sem nenhum problema. O importante é que tomem medicamento de maneira correta, que a doença esteja controlada com orientação do médico, afinal não tem como evitar essas emoções em um período como esse.

Já o cardiologista Siegmar Starke defende que não há estudos que comprovem que haja relação de um evento esportivo com algum problema cardíaco. Por isso, a principal orientação é: divirta-se.

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– Seria o mesmo que falar que alguém não pode ganhar na mega-sena porque vai subir a pressão. Então, a minha orientação é para se divertir. Se todos sobrevivemos ao 7 a 1 contra a Alemanha, nada pode ser mais grave do que isso — brinca Starke.

Equipe unida

O bancário Jean Carlos Cardoso Rodrigues, 37 anos, está na contagem regressiva para a bola rolar e poder reunir amigos e parentes – o que, para ele, é parte fundamental da Copa do Mundo. Conta que, nesta semana, vai atrás da decoração em verde e amarelo para a festa.

O morador de Florianópolis diz que nas partidas, principalmente as de fim de semana, a ideia é gritar gol em grupo. Assim como tem feito nos últimos Mundiais, pretende encontrar a turma. A confraternização já começa com um almoço antes do apito inicial.

– Geralmente, recebo os amigos em casa. Na estreia do Brasil, a ideia é reunir pelo menos umas 10 pessoas. Gosto de fazer festa e agito. Para mim, Copa do Mundo é isso: futebol, cerveja, churrasco e amigos.

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Além disso, essas confraternizações colocam as crianças também no clima da competição. Pai de Laíse, 14 anos, e Renan, 10, ele afirma que todo mundo entra na brincadeira. Além das instruções para o juiz e alguns gritos nos momentos de tensão dos jogos, também não pode faltar o barulho da corneta e da vuvuzela. Admite que tenta maneirar no nervosismo, mas nem sempre consegue:

– A gente xinga um pouco, mas evita se exceder por causa das crianças. Quando o jogo está tenso, até saio para dar uma rezada.

O pequeno Renan lembra bem do 7 a 1 contra a Alemanha no último Mundial. Para este ano, espera ver, pela primeira vez, a Seleção Brasileira erguendo a taça:

– Tô muito confiante que o Brasil vai ser campeão.

Jean vai acompanhar a Copa com os filhos Laíse e Renan, além de parentes e amigos
Jean vai acompanhar a Copa com os filhos Laíse e Renan, além de parentes e amigos (Foto: Felipe Carneiro / Diário Catarinense)

Para o psicólogo Eduardo Fraga, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a Copa do Mundo pode ser um meio de gerar esse elo entre as pessoas. Uma oportunidade saudável para manter e aprofundar as relações, mesmo em um dia normal da semana, em meio ao horário de trabalho. Mas, para que tenha esse aspecto positivo, os torcedores devem observar um ponto importante: a harmonia do grupo.

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– Qual o sentido que tem aquele jogo ou aquelas equipes? Dependendo do investimento afetivo que o grupo tem com aquele jogo, pode ser fonte de conflito, de desconforto. Então, o ponto principal, se é algo que vai agregar ou não, é essa harmonia em relação à partida. Porque pode ser riquíssimo ou ser uma desgraça – reforça o especialista.

Rodrigues conta que, na casa dele, o grupo é misturado. Tem os que acompanham todos os jogos, torcem para valer. E aqueles que estão lá para participar e conversar. Mas todo mundo se entende e se diverte junto. Fraga reforça que é importante ter noção que alguns realmente se importam com o resultado. Outros, nem tanto. Por isso, o ideal seria reunir grupos que se assemelham. Porque, dependendo do caso, uma falta não marcada ou uma conversa no meio do lance pode ser o começo da discussão.

– A gente não consegue fazer essa distinção que é futebol. Em vez de discutir ideias, acabamos discutindo pessoas. Se fala mal da Seleção, é como se estivesse falando de mim, como se estivesse me ofendendo pessoalmente. Então, ao invés de agregar, vai gerar conflito – diz Fraga.

Neste ponto, o grupo também pode ter um papel fundamental de servir como uma espécie de juiz. Ajuda a acalmar o outro, ampara e a relaxa os ânimos, explica o especialista.

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Força, foco e Seleção

Desde criança, Juliana Marcelino de Paula, 28 anos, tem uma alimentação saudável. Inspirada pela avó e pela mãe, foi acostumada a comer frutas e legumes. Há um ano, começou a praticar fisiculturismo com o noivo, Álvaro de Castro, 30, e o cuidado com a dieta aumentou.

– Eu comecei, pois queria testar os meus limites, queria ver até onde o meu corpo poderia ir. Hoje tenho os horários certos para comer esses mesmos alimentos, o que faz muita diferença – diz a moradora de Florianópolis.

São sete refeições por dia e ela passou a pesar toda a comida para saber exatamente a quantidade de calorias que está ingerindo e diminuiu a quantidade de sal. Mesmo com os jogos da Copa, eles garantem que querem manter a linha.

Os jogos não interferem em nada. Mas, claro, que fora de casa não é tão regrado – avisa Juliana.

Como devem acompanhar na casa de amigos e, geralmente, com acompanhamento de churrasco, ela diz que come mais carne e salada e deixa de lado o pão nestas ocasiões. Também aproveita para se alimentar antes de sair para os jogos. Assim, não sente tanta fome. Como petisco, devem apostar em castanhas, amendoim torrado e batata chips feita de batata doce. Para beber, como eles não tomam bebida alcoólica, a opção é por suco de limão ou refrigerante zero.

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– A gente não deixa de participar. Vamos aproveitar do mesmo jeito – conta a praticante de fisiculturista.

Há um ano, Juliana começou a praticar fisiculturismo com o noivo, Álvaro
Há um ano, Juliana começou a praticar fisiculturismo com o noivo, Álvaro (Foto: Felipe Carneiro / Diário Catarinense)

A nutricionista Manoela Menegazzo acredita que o caminho para se manter saudável e curtir os jogo é apostar em comidas leves e sem exagero:

– O simples fato de comermos e estarmos assistindo televisão faz com que não prestemos atenção no que estamos comendo, e muito menos na quantidade que estamos ingerindo. Além disso, muitas vezes ficamos nervosos, comemos mais e não prestamos atenção às quantidades.

Para ela, a pior opção também é uma das preferidas dos torcedores: bebida alcoólica com petiscos fritos e gordurosos:

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– Além de ser altamente calórico, o consumo frequente e em grandes quantidades pode provocar doenças no fígado, aumento da pressão arterial, doenças cardíacas e aumento de peso. Temos que lembrar que a Copa está só começando e, se todo dia que você for assistir algum jogo exagerar no consumo de álcool e de alimentos menos saudáveis, sua saúde vai precisar de ajuda no final.

Para a nutricionista clínica e integrante do Conselho Regional de Nutricionistas de Santa Catarina Fabiane Miranda Lima, o mais importante é manter o equilíbrio:

– Essa caloria vazia que a gente chama, que é de açúcar, gordura, bebida alcoólica, é para ser utilizada com moderação, evitar os excessos ou, pelo menos, que não sejam tão frequentes.

Por exemplo, dá para tomar uma cervejinha, comer algum petisco nos jogos do Brasil. Mas nada de estender a folga na alimentação para todas as partidas da Copa.

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Além disso, Juliana e Álvaro vão tentar manter os treinos diários – eles vão à academia de segunda a sábado e, no domingo, aproveitam para fazer atividades ao ar livre, como trilhas. Mas também não precisa sair correndo depois do jogo direto para a academia. O professor do curso de Educação Física da Universidade do Vale do Itajaí Mark Anderson Caldeira orienta o torcedor a apostar em exercícios mais leves e em ambientes abertos, como caminhadas, alongamento e pedal. Isso ajuda a amenizar um pouco os impactos das calorias que serão ingeridas, além de auxiliar no relaxamento.

– A atividade física tem essa propriedade, de baixar um pouco os níveis de ansiedade. A pressão arterial também pode sofrer benesse. No período anterior ao jogo, que a pessoa saia para fazer atividade, suar, se alongar. Assim, como os atletas se preparam antes da partida, os torcedores também merecem um preparativo corporal para o jogo – reforça o especialista.

Por dentro da Copa e em forma

-Não exagere nas bebidas alcoólicas, comidas gordurosas e cigarro

– Mantenha os horários regulares das refeições

– Antes dos jogos, se alimente para não ter muita fome durante a partida.

-Nas partidas de manhã, por exemplo, dá para consumir frutas, cereais integrais e uma fonte de proteína (ovo, queijos brancos, iogurte).

– Se tomar café preto para ficar mais desperto, evite adoçá-lo

– Se for consumir bebida alcoólica, sempre intercale com água. Para cada copo de cerveja ou chope, beba um de água.

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– Beba chás (quentes ou gelados), sucos de frutas naturais ou de polpa, água de coco (prefira a natural), água aromatizada ou água.

-Para os torcedores mais agitados, uma opção é chá de camomila, erva-doce ou suco de maracujá

-Com a ansiedade, muitos ficam comendo sem parar. Palitinhos feitos de maçã, pera, penino ou cenoura podem ajudar a controlar o nervosismo.

-Em bares, substitua os petiscos fritos por tábuas de carnes ou frango, sanduíches, caldinho de feijão e salgados assados

-No churrasco, dê preferência a carnes mais magras como maminha, fraldinha e frango

-Opte pelo amendoim torrado no forno ao invés da versão industrializada rica em sódio

-Para os que tomam remédio, é fundamental manter a rotina mesmo nos dias de jogos

-Faça exercícios físicos leves e ao ar livre antes dos jogos. Isso ajuda a relaxar e manter a forma

Algumas sugestões de petiscos simples e saudáveis:

Pinhão, pipoca com pouca gordura e feita na panela, frutas ou salada de frutas, mix de oleaginosas (castanha-do-brasil, castanha-do-para, nozes, amêndoas), frutas secas, ovo de codorna cozido (evite conserva). Cubos de queijos brancos com tomate cereja e manjericão.

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Fonte: Nutricionistas Manoela Menegazzo, Fabiane Miranda Lima e Carla Zanelatto

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