Mansões de mais de R$ 30 milhões com piscinas, cinemas, salas de jogos, inúmeras suítes e sem muros. As casas luxuosas de Jurerê Internacional já se tornaram uma atração à parte no bairro planejado e movimentam um mercado seleto, mas importante para o setor imobiliário no Norte da Ilha, em Florianópolis. Nos últimos anos, o interesse de compradores pelos imóveis de alto padrão transformou até mesmo regiões vizinhas, como Cacupé, em novos redutos de milionários na Capital.
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A história sobre como Jurerê se tornou abrigo das mansões milionárias começa décadas atrás. A região, inicialmente conhecida apenas como Praia do Forte (hoje nome da praia vizinha), pertencia ao Estado e começou a ser habitada após ser repassada a um construtor naval. O acordo envolvia uma troca por terras na região da Ponte Hercílio Luz.
Na década de 1950, as terras da região foram adquiridas por um grupo de empresários que anos depois criou a Imobiliária Jurerê — nome indígena que acabou batizando a região. A sociedade envolvia até o ex-governador Aderbal Ramos da Silva. Nos anos 1970, os investidores criaram um loteamento na região, com parte das terras recebendo até mesmo um projeto urbanístico do famoso arquiteto Oscar Niemeyer.
A Jurerê do jeito que é conhecida hoje começou a tomar forma um pouco mais tarde, a partir da década de 1980, quando o grupo Habitasul adquiriu os terrenos. A empresa de empreendimentos imobiliários elaborou um novo loteamento, focado em um público de maior poder aquisitivo. O investimento recebeu o nome de Jurerê Internacional, para diferenciar da área já existente na parte Leste da praia, no lado próximo a Canasvieiras. O nome começou a dar status à região.
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O vice-presidente de Compra e Venda do sindicato patronal da habitação de Florianópolis e Tubarão (Secovi), Marcos Alcauza, lembra que a região era considerada longe da cidade e com acesso difícil, já que a SC-401 ainda era incipiente. O novo loteamento, portanto, tornou-se o primeiro empreendimento de praia planejado de Florianópolis.
— Antes não se focava em vocacionar, planejar um público específico. A Habitasul trouxe um conceito de empreendimento planejado aliado a sustentabilidade, algo inovador para a época, com captação de água, permeabilidade das ruas para não inundar, paisagismo, alamedas para pessoas caminharem — conta.
Veja fotos de mansões e de Jurerê Internacional
O público-alvo do novo loteamento foi formado por gaúchos de alta renda que tinham Florianópolis como desejo de moradia. O momento era favorável porque a recente chegada da Eletrosul a Florianópolis trouxe à capital catarinense um grande número de funcionários, resultando em um boom na procura por imóveis.
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Os primeiros imóveis de Jurerê Internacional eram considerados casas boas, mas não mansões. Aos poucos, a região seguiu atraindo turistas de alto padrão e até mesmo moradores de Florianópolis de alta renda. Investidores locais e de outras regiões começaram a construir casas em padrão cada vez mais elevado para vender a empresários interessados na região. O processo fez a região ganhar um status de “Miami dentro de Florianópolis”, tornando Jurerê Internacional um paradeiro de milionários.
Padrão de mansões surgiu aos poucos
O dirigente explica que a transformação do bairro foi ocorrendo naturalmente ao longo do tempo.
— Não consigo imaginar uma “fagulha”, um momento exato que começou a mudar de um bairro de casas boas de classe média alta para essas mansões. Acho que foi um processo natural na medida que ele se posicionou como o melhor bairro de praia de Florianópolis, e os turistas de altíssimo poder aquisitivo começaram a escolhê-lo para fazer suas casas. Aí, numa seleção natural, cada vez pessoas de maior poder aquisitivo, fazendo uma casa melhor que a outra, até atingirem o nível de se tornarem mansões — conta Alcauza.
Segundo ele, até hoje quando são erguidas novas casas na região, a intenção do proprietário e do arquiteto costuma ser fazer uma moradia acima do que existe no local. As casas seguem um conceito aberto, sem muros.
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— Não partiu do mercado fazer mansões para o cliente de alto padrão comprar. O cliente de alto padrão aquisitivo começou a comprar terrenos ou casas mais antigas e fazer uma mansão. Quando se percebeu que havia essa demanda, alguns construtores começaram também a construir para já vender a casa pronta, mas entendo que o movimento partiu primeiro da demanda, que acabou criando a oferta para supri-la — conta o vice-presidente do Secovi.
Na esteira desse crescimento vieram novos investimentos, como os beach clubs, as casas de shows e os estabelecimentos para suprir a demanda crescente pela praia. O fenômeno Gustavo Kuerten, a divulgação das praias na mídia nacional e o sucesso dos clubes de praia de Jurerê, que chegaram a estampar a capa de um caderno do jornal norte-americano The New York Times. Tudo contribuiu para aumentar o frisson de pessoas de outros estados e países em torno de Florianópolis.
O mote de segurança pública, com um posto policial na entrada do loteamento, também fez parte dos atrativos de Jurerê que chamaram os moradores de alta renda.
Ao contrário da maioria das regiões de praia ocupadas em SC, Jurerê Internacional seguiu o conceito do loteamento antecessor criado na região vizinha e abriu mão de uma avenida atlântica, em favor da preservação da vegetação existente. Foi pioneira também na criação de sistemas de distribuição de água e coleta e tratamento de esgoto exclusivos do bairro.
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Os detalhes luxuosos da “casa de revista” à venda por R$ 28 milhões em Florianópolis
O mercado de Jurerê hoje
Mais de 40 anos após o lançamento de Jurerê Internacional, as mansões milionárias formam uma atração à parte na praia mais cobiçadas da Capital. Mais do que isso, esses imóveis formam um mercado de imóveis segmentado e que ainda atrai interessados de todo o país nos imóveis de luxo. Em uma pesquisa em um site referência na venda de imóveis, Jurerê Internacional tem nove das 10 casas mais caras à venda em Florianópolis — todas com valor acima de R$ 30 milhões.
A corretora de imóveis Juliane de Oliveira, CEO da Jurerê North Hunters, explica que a procura por mansões milionárias em Jurerê ocorre pela pouca disponibilidade de terrenos para venda na região.
Segundo ela, a maioria dos que vendem as mansões continua em Jurerê. Em geral, negociam o imóvel antigo para comprar um terreno e construir outra mansão, mais moderna. O mesmo vale para os compradores: muitos compram as casas antigas para reformar ou mesmo derrubar e construir novas, com conceitos de arquitetura mais atuais.
— Uma casa de 20 anos atrás você vende por R$ 3 milhões, R$ 3,5 milhões. Você compra um terreno e constrói uma casa nova de R$ 10 milhões — explica.
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A valorização de Jurerê faz com que imóveis na região, como apartamentos menores ou salas comerciais, sejam frequentemente aceitos como “moeda de troca” nas negociações das mansões e casas de luxo.
O que buscam os compradores?
Com a disponibilidade de casas de alto padrão em Jurerê Internacional, o que buscam os compradores? Juliane explica que o principal apelo é pela arquitetura dos imóveis, um dos motivos que inclusive incentiva a construção de novas residências na região.
— Casas com conceito mais arredondado hoje não se vê. Eles [clientes] gostam de um conceito mais quadrado, mais atual, em formato de caixa, com vidro, fachada ou lateral de madeira breeze… — exemplifica a corretora.
O interior dos imóveis também é valorizado.
— Cozinhas abertas, estilo americano, living totalmente aberto, cozinha com saída para piscina, elevador dentro de casa (que é algo que sinaliza um público mais velho). Sala que comunica com todas as outras áreas da casa. Cômodos grandes, modernos — explica, ao citar o que mais é procurado pelos compradores.
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Embora ainda movimente o mercado imobiliário e atraia interessados pelas mansões, Jurerê começa também a dividir espaço com empreendimentos focados em outros perfis, como imóveis menores e áreas de serviços focados na convivência.
Mansões em Cacupé
Mais um bairro entrou recentemente como sonho de consumo dos donos de mansões milionárias: Cacupé. Neste caso, outros atrativos influenciaram em atrair moradores de renda alta para a região.
As belezas naturais, o pôr do sol diferenciado, as opções de bares e o apelo histórico são alguns dos diferenciais que incentivaram a busca pela região, que fica a cerca de 15 quilômetros de distância de Jurerê Internacional.
O vice-presidente de Compra e Venda do Secovi, Marcos Alcauza, explica que o fato de ser caminho para Jurerê, mas relativamente mais próxima do Centro de Florianópolis, também contribuiu para tornar atrativa a região de Cacupé e também das vizinhas Sambaqui e Santo Antônio de Lisboa.
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No Cacupé, pesquisas em sites de imobiliárias mostram mansões à venda por até R$ 19 milhões. Novos empreendimentos também são lançados mirando o público de alto padrão.
A corretora da Jurerê North Hunters, Juliane de Oliveira, confirma que a questão logística contribui para o sucesso das mansões no Cacupé.
— É a vista, no caso dos locais que têm vista para o mar, e o fato de ser mais perto do Centro, do aeroporto, das escolas em que os filhos estudam, enfrentar menos trânsito durante a semana — pontua a profissional.
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