Joinville chega aos 169 anos da fundação da colônia que deu origem à cidade sob a marca da dança, a mais forte entre todos os títulos que a cidade já recebeu. Ela se tornou a Capital Nacional da Dança em lei federal sancionada em 2016, mas é como "Cidade da Dança" que é conhecida desde os anos 1980. Essa sensação ainda pode ser pouco percebida entre os moradores da cidade, mas a força desta arte em Joinville reverbera pelo país e para o mundo.
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Dentro do Balé do Teatro Bolshoi, na Rússia; do Royal Ballet, na Inglaterra; e do New York City Ballet, nos Estados Unidos, há bailarinos com pelo menos um ponto em comum: passaram por Joinville e esse momento foi definidor para que chegassem às maiores companhias de balé do mundo. Em boa parte dos teatros onde há grupos profissionais de dança e em companhias independentes, pequenas e grandes, no Brasil e no exterior, a situação é a mesma: Joinville está no currículo, seja na lista de premiações ou na formação profissional.
Este “fenômeno” começou há pouco menos de 38 anos, quando as cortinas do teatro da Sociedade Harmonia Lyra abriram-se pela primeira vez para o Festival de Dança de Joinville; e foi ampliado há 20 anos com a instalação da Escola do Teatro Bolshoi, uma espécie de filial da academia de dança aberta em Moscou em 1776 que tornou-se definidora da tradição do balé na Rússia.
Não há registros da data, mas, em algum momento de 1974, começavam as aulas da Escola Municipal de Ballet de Joinville (EMB). Ela uniu-se às escolas de música e de artes dentro da Casa da Cultura de Joinville, com aulas parcialmente subsidiadas pela Prefeitura de Joinville, e tornou-se o grande centro de formação de dança clássica e de jazz da cidade. Atualmente, também oferece aulas de sapateado.

Foi ali, na sala da direção da Casa da Cultura, que o então coordenador da EMB, Carlos Tafur, chegou animado em um dia de agosto de 1983, sugerindo que a instituição de ensino sediasse um encontro de dança até o fim do ano. Então diretora da Casa da Cultura, a produtora cultural Albertina Tuma decidiu que este não era um evento para ser idealizado em um curto período de tempo nem para ser limitado às escolas e grupos da região, e o marcou para julho do ano seguinte. Na época, os poucos eventos consolidados ficavam no eixo Rio-São Paulo, e os estudantes de dança do Brasil tinham poucas oportunidades para subirem ao palco além das tradicionais apresentações de fim de ano das próprias escolas.
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— Queríamos que ele já nascesse grande, e acabamos, mesmo, tirando do eixo Rio-São Paulo, a marca dos grandes festivais. Fico muito feliz em ter conseguido, junto com o Carlos, fazer o Festival de Dança tão ousado e forte, já desde a primeira edição — recorda Albertina.
Mesmo assim, quando julho de 1983 chegou, a grande preocupação era se as pessoas realmente se deslocariam até uma cidade pouco conhecida no Sul do Brasil apenas para fazer uma apresentação no Teatro da Sociedade Harmonia Lyra. Para piorar, Santa Catarina vivia uma das piores enchentes de sua história recente, e havia estradas fechadas que levaram grupos catarinenses e gaúchos a darem a volta e retornarem para casa porque não havia acesso até Joinville. Surpreendentemente, a rua Quinze de Novembro, endereço das apresentações, nem mesmo alagou, e 660 bailarinos dançaram balé, jazz, “folclórico” e “moderno”, competindo pelos primeiros lugares de cada categoria.
— Na sexta edição, o festival já era internacional. E o que eu senti, como sinto, agora, com o evento que coordeno atualmente, o Pianístico, foi que a cidade abraçou o Festival de Dança — afirma Albertina.

Em 2004, a participação de 4.500 bailarinos inscritos no evento impressionou até o Guinness Book, o Livro dos Recordes, que incluiu o Festival de Dança de Joinville no verbete “maior evento de dança do mundo”, considerando seu número de participantes. Na edição do ano passado, este número já havia dobrado: 9 mil pessoas se inscreveram para vir ao Festival de Joinville para participar de apresentações – entre palco aberto e mostras competitivas — e fazer pelo menos um dos quase 100 cursos oferecidos ao longo dos 12 dias de evento.
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— Hoje, ser premiado no Festival de Joinville, para o currículo de uma companhia ou de um bailarino, tem um peso muito grande. A régua [de exigências] vai subindo a cada ano. Os jurados em Joinville são altamente qualificados e rigorosos, e queremos que seja assim, porque passar a mão na cabeça não ajudará em nada. Para classificar e dançar no palco principal, tem que ser muito bom, no meio de mais de 3 mil concorrem; e para ganhar, tem que ser alguém que poderá dançar em qualquer lugar do mundo — analisa o presidente do Instituto Festival de Dança, Ely Diniz.
Uma cidade para abraçar o Bolshoi
Em 1996, o Balé Bolshoi de Moscou realizou uma turnê pelo Brasil, mas parecia impossível que Joinville fosse uma das cidades incluídas no programa. Apesar de o Festival de Dança estar em sua 14ª edição, a cidade ainda não tinha estrutura melhor do que um ginásio de esportes que era transformado em teatro em julho para a programação de dança. Contrariando todas as regras e expectativas, a Noite de Abertura do Festival de Joinville contou com os bailarinos da tradicional companhia russa que, mesmo apresentando no palco "improvisado" do Ginásio Ivan Rodrigues, voltaram para casa impressionados com a reação da plateia.
Era o início de uma história improvável, que aconteceu porque, nas palavras do diretor da Escola Bolshoi Brasil, Pavel Kazarian, houve uma feliz coincidência. Na Rússia, o então diretor do Balé Bolshoi, Alexander Bogatyrev, desejava replicar a metodologia de ensino da Escola Coreográfica de Moscou para outros países. Do Brasil, o então prefeito de Joinville, Luiz Henrique da Silveira, soube negociar para que, entre pedidos que chegavam de vários países, o Brasil fosse o escolhido para sediar este projeto.
— Ele vendeu essa ideia de futuro, que um dia Joinville seria a Capital da Dança. É claro que aqui tem um histórico muito bonito, desde quando os joinvilenses hospedavam os bailarinos. Então, foi vendida essa ideia de que Joinville era um lugar onde o Bolshoi seria abraçado — analisa Pavel.
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A Escola Bolshoi já formou 377 bailarinos e, atualmente, atende 240 crianças e jovens, com idades entre nove e 20 anos, para os oito anos de formação (quatro de curso básico e quatro de curso técnico). Prestes a comemorar as duas décadas de inauguração, que serão celebradas com dois grandes espetáculos de balé no Centreventos Cau Hansen nos dias 14 e 15 de março, a instituição pode confirmar que Joinville tinha base forte para o projeto social com foco na formação de “artistas cidadãos” que podem, se assim quiserem, seguir carreira como bailarinos profissionais ao chegarem à maioridade.
Prova disso são as estrelas que protagonizarão "Don Quixote" e "O Quebra-nozes" no próximo fim de semana: o joinvilense Erick Swolkin e a maranhense Bruna Gaglianone, do Balé Bolshoi de Moscou; e Amanda Gomes, do Ballet da Ópera de Kazan. Todos eles, ex-alunos da escola sediada em Joinville.
— Não temos os números de outras escolas para fazer uma afirmação de que Joinville é a cidade de onde saem mais profissionais contratados para o exterior. Mas o número que temos, de 75% de empregabilidade, surpreende até mesmo os diretores russos — afirma Pavel.
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