A corrida em busca de uma vacina que proteja a população do coronavírus deu visibilidade para um processo complexo que demanda investimento e tempo. Antes que uma vacina possa ser distribuída, ela passa por diferentes fases de produção. Durante o desenvolvimento, as etapas incluem uma fase inicial de exploração e descoberta, em que os pesquisadores estudam o patógeno causador da doença; a fase pré-clínica, com os primeiros testes em animais; e a fase clínica em que são realizados os testes em humanos, e, mesmo depois de aprovada, o monitoramento de possíveis reações adversas.
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Geralmente, os cientistas precisam de vários anos para garantir o financiamento das pesquisas, obter os resultados e as aprovações. O Brasil é referência mundial em vacinação. Hoje, é autossuficiente na produção das vacinas essenciais que fazem parte do calendário básico de imunização do Ministério da Saúde. O Brasil é também o maior produtor mundial de vacina contra febre amarela e, inclusive, exporta para vários países. Mesmo assim, a falta de investimento em ciência prejudica a pesquisa nacional.
Para a pesquisadora do Instituto de Investigação em Imunologia (iii) e professora da Universidade Federal de São Paulo, Daniela Santoro Rosa, apesar de contar com cientistas extremamente qualificados, os investimentos na ciência ainda precisam aumentar muito para que se alcance o equivalente ao que é aplicado em pesquisa e desenvolvimento (P&D) nos países desenvolvidos.
— No Brasil, o percentual do PIB reservado para P&D é cerca de um terço do que os países desenvolvidos utilizam. Ainda é necessária uma cultura no Brasil de que investir em ciência é sinônimo de progresso.
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Conheça o processo de produção de uma nova vacina

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Níveis de biossegurança
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, EUA) define quatro níveis de biossegurança para os laboratórios (NB-1, NB-2, NB-3 e NB-4). Eles estão relacionados com as condições nas quais os agentes biológicos podem ser manipulados. Essa classificação existe para que se possam garantir os requisitos de segurança e o nível de contenção necessários. No Brasil não há laboratórios de nível 4 para pesquisas relacionadas a humanos. Devido a complexidade, custos e riscos, há apenas 61 laboratórios NB-4 operando, em diferentes condições, em todo o mundo.

Ex: coronavírus
em diferentes condições, em todo o mundo*.
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Santa Catarina possui somente laboratórios que produzem a parte da ciência básica experimental e pré-clínica, de níveis de biossegurança I e II. Os principais deles são o Laboratório de Imunobiologia e o Laboratório de Imunobiologia aplicada, ambos na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Atualmente, os profissionais responsáveis trabalham em pelo menos cinco projetos sobre o SARS-CoV-2, o novo coronavírus, mas encontram dois obstáculos principais: falta de laboratório com nível de biossegurança 3 (NB-3) e financiamento insuficiente.
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A diferença é que o laboratório NB-3 é altamente controlado, para que todos os patógenos não saiam de lá pelo ar. No prédio novo do CCB (Centro de Ciências Biológicas) está prevista a elaboração de um deles. Entretanto, faltam equipamentos. Entre eles um que permita a manutenção da diferença de pressão e garanta que os patógenos fiquem contidos apenas naquele ambiente. O outro é uma autoclave de barreira, que através de altas temperaturas esteriliza equipamentos e lixo antes de sair para o ambiente externo. O valor necessário para a construção de um espaço adequado gira em torno de R$ 1,5 milhão. Até agora conseguiram R$ 450 mil pelo CNPq. Daniel Mansur, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenador do Laboratório de Imunobiologia, ressalta a importância do investimento.
— A construção de um laboratório NB-3 é fundamental para que possamos fazer testes funcionais com o SARS-CoV-2, assim como estarmos preparados para eventuais novas epidemias.
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