Neste domingo (22), cerca de 3,7 mil índios Kaingang e Guarani da Terra Indígena Xapecó, a maior de Santa Catarina, vão eleger o cacique, o vice-cacique e o capitão. Os escolhidos já serão empossados no domingo e comandarão a região pelos próximos quatro anos.

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Uma comissão eleitoral formada pela comunidade indígena com apoio da Fundação Nacional dos Índios (Funai) e do Ministério Público Federal (MPF) discutiu as normas do pleito. A Justiça Eleitoral respeitou a vontade dos indígenas quanto aos locais das seções, oferecendo suporte para mesários e equipes de trabalho.

A eleição era para ser por urna eletrônica, mas, segundo o Tribunal Regional Eleitoral, a lista completa dos eleitores não foi entregue pela Fundação Nacional do Índio (Funai) até esta quinta-feira (19), requisito exigido no convênio firmado com o tribunal. Com isso, o pleito será realizado com cédula de papel. Segundo a Funai, a lista de indígenas aptos para votar nas eleições “foi elaborada pela própria comunidade indígena sem interferência da fundação”.

— Não temos dúvidas sobre o sistema com urnas informatizadas, pois sempre funcionou de forma correta e não há motivo que nos leve a desconfiar do processo — defendeu o cacique Gentil Belino, que concorre à reeleição na terra indígena localizada em meio aos municípios de Ipuaçu e Entre Rios.

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Desde que foi eleito, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tenta desacreditar a urna e o sistema eleitoral brasileiro. O equipamento é utilizado há 26 anos no Brasil, é seguro e não há qualquer evidência de fraude.

A disputa contará com três chapas, quatro locais de votações e cinco seções. A votação ocorrerá das 8h às 17h. Para votar, os eleitores não precisam de título eleitoral, mas apresentar CPF ou RG. Os jovens que completarem 16 anos no dia 22, data da escolha, também podem participar. Os cerca de 50 Guarani que vivem na aldeia Limeira têm igualmente o direito de votar.

A apuração ocorre a partir das 17h de domingo na Câmara de Vereadores de Ipuaçu.

Para auxiliar o deslocamento dos indígenas que moram em aldeias menores e que não terão urnas, a prefeitura de Ipuaçu colocou ônibus à disposição. A prefeita Clori Peroza (PT) explica que os horários foram previamente combinados e para que não ocorra nenhuma interferência na disputa eleitoral dispensou os funcionários indígenas que trabalham na prefeitura.

— Respeitamos todo o processo e à distância observamos o que os próprios indígenas decidiram. Consideramos muito interessante o fato de terem optado pela eleição informatizada, devido à agilidade e segurança do processo — diz a prefeita.

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Quem são os candidatos

Escola em forma de arte, ginásio em formato de tatu

Na tribo indígena (TI) Xapecó, a maior de Santa Catarina, vivem cerca de 5,3 mil Kaingang e um grupo de Guarani. A sede da TI fica a 16 quilômetros de distância do centro de Ipuaçu. Trata-se da maior reserva em extensão territorial de Santa Catarina: dos 15.623 hectares de área, 63% abrangem o município de Ipuaçu. Os 37% restantes fica em Entre Rios.

É também a maior terra indígena agricultável do Estado. Além da plantação de milho e soja, os indígenas têm lavouras de subsistência de mandioca, feijão, batata doce, abóbora, hortaliças, melancia, melão. Famílias também criam gado leiteiro e de corte, suínos, galinhas.

O que você precisa saber sobre votação que escolherá presidente

Para se ter uma ideia da importância da disputa: mais da metade dos 7,5 mil habitantes do município é indígena. É comum a eleição de indígenas paro cargos do executivo e legislativo local. Nesta eleição haverá mais eleitores do que em pelo menos 30 entre os 295 municípios do Estado.

Há anos o lugar atrai visitantes (para entrar é preciso autorização da Funai ou do cacique) para observar o anfiteatro, o ginásio de esportes e o colégio. As obras procuraram caracterizar o modo de vida Kaingang: a escola de ensino fundamental e médio em forma de oca, e o ginásio de esportes em formato de tatu.

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