Quem passa pela região central de Joinville, próximo à Prefeitura, e observa o monumento da Barca Colon e a estrutura urbana ali estabelecida, não imagina que há 168 anos, quando os primeiros imigrantes chegaram, encontraram apenas um barracão rodeado por mata nativa, com o rio passando ao lado e muitas aves exóticas.

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Foi naquele 9 de março de 1851, na então Colônia Dona Francisca, que chegaram os primeiros colonizadores suíços, alemães e noruegueses que atravessaram o Atlântico para viver um sonho, fugir de perseguições políticas, ou simplesmente recomeçar.

A Barca Colon aportou em São Francisco do Sul no dia 6 de março de 1851 trazendo a primeira leva de imigrantes. Até o dia 10 de março, as 118 pessoas – 75 suíços, 43 alemães e 61 noruegueses – foram sendo transportados em pequenas canoas pelo rio Cachoeira até a desembocadura do rio Mathias. Sete dos que embarcaram em Hamburgo não chegaram com vida por aqui. As condições de viagem eram realmente muito duras. Muitos dos que chegaram, morreram aqui, por causa do clima e das doenças tropicais.

Até o final de 1851, dos 461 habitantes da colônia, 45 faleceram. Eram doenças como tifo, disenteria bacilar e pragas nativas (como o bicho-de-pé, mutucas e mosquitos) que enterravam os sonhos de vida nova de muitos colonos.

A maioria destes primeiros colonos que chegaram à Colônia Dona Francisca com a Barca Colon não vieram para o Brasil estimulados pelo espírito pioneiro. Vieram porque o país de origem passava por uma profunda crise econômica. Eram cidadãos desesperados e desprezados, até que resolveram encarar o desafio desta nova pátria porque não tinham outra opção.

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Para compreender o panorama que fez a Colônia Dona Francisca se transformar na maior cidade de Santa Catarina, é preciso voltar alguns anos antes de 1851. A série de acontecimentos que levaram os europeus a explorarem este pedaço de terra se inicia com o casamento, em 1843, da princesa brasileira Dona Francisca Carolina (quarta filha de D. Pedro 1º e dona Leopoldina e irmã de D. Pedro 2º) com o príncipe francês François Ferdinand Philippe de Orléans, filho do rei da França, Luís Filipe 1º.

Com a união, o casal recebeu as terras na região Sul do Brasil, equivalentes a 25 léguas, denominado Domínio Dona Francisca, que era o dote da princesa, que nunca colocou os pés em Joinville.

A Europa, continente dos príncipes, vivia um momento tumultuado. A Revolução Francesa de 1789 gerou agitações políticas e financeiras, além da insatisfação do povo. O clima não melhorou até 1830, quando outra revolução levou Luís Felipe Luís Filipe 1º, pai do príncipe François, ao poder. Os pedidos de “liberdade, igualdade e fraternidade” prosseguiram sem ser atendidos e, em 1848, o rei foi deposto.

Nesse momento, o Domínio Dona Francisca volta ao radar da família real, como uma possibilidade de comercializar terras e aumentar a renda financeira, que havia diminuído consideravelmente com o exílio na Inglaterra.

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No Brasil, alguns setores das lideranças políticas viam a imigração com bons olhos. Era uma maneira de substituir mão de obra escravizada por assalariada. Assim, o contrato de colonização foi firmado em 5 de maio de 1849, entre o casal real e o senador Christian Mathias Schroeder, de Hamburgo, que ficaria responsável pela colonização das oito léguas concedidas na região, a ser batizada Colônia Dona Francisca, hoje Joinville.

* Textos: Letícia Caroline Jensen, especial para o AN