Em dia de conflito nas ruas e posse de ministro suspensa pela Justiça, a Câmara instalou a comissão de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O cenário está indefinido, mas a tendência é de divisão. A fidelidade dos partidos aliados será decisiva para determinar vitória ou derrota do governo, mas a interpretação é de que há margem para traições.

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Foram escolhidos os 65 membros titulares e 65 suplentes para o colegiado, que terá a tarefa de elaborar e votar um parecer sobre o afastamento da petista. Independente de o relatório determinar afastamento ou arquivamento, a palavra final será do plenário. Para o processo seguir ao Senado, serão precisos 342 votos.

Comissão do impeachment é aprovada

Rosso e Arantes transitam com desenvoltura tanto na base quanto na oposição. Os dois são líderes das bancadas dos seus partidos, ambos com ministérios, e frequentes em reuniões no Palácio do Planalto. Contudo, são aliados do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um dos principais algozes do PT e patrocinador do impeachment. Rosso e Arantes são habitues dos jantares na residência oficial do peemedebista.

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Jovair Arantes (PTB-GO) foi eleito relator da comissão
Jovair Arantes (PTB-GO) foi eleito relator da comissão (Foto: Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados / Divulgação)

Nas manifestações da primeira reunião, dentre as siglas dilmistas, apenas PT, PC do B e PDT se manifestaram claramente contra o impeachment. As demais adotaram discursos neutros. Líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ) falou em serenidade e não deu uma certeza de voto. Junto com o PT, o PMDB tem o maior número de integrantes na comissão: são oito, sendo cinco governistas e três oposicionistas.

No PMDB, a estratégia foi declinar de qualquer cargo de condução da comissão. A justificativa é de que o partido é ¿interessado¿ no processo, já que a queda de Dilma irá beneficiar Michel Temer, eventual herdeiro da presidência.

Durante o encontro inaugural, houve reclamação do PT e do PC do B contra Eduardo Cunha. As siglas disseram que ele acordou apenas com a oposição a indicação de três vice-presidentes, dois de oposição e um governista do PR, sigla que tem alguns de seus parlamentares fazendo manifestações em plenário em favor de um rompimento com o governo. Há análises de que Cunha manobrou para formar maioria na comissão.

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Diante do cenário indefinido, os oposicionistas demonstram confiança.

— Largamos com maioria pró-impeachment — apostou Antônio Imbassahy (PSDB-BA).

— A campanha pelo impeachment é golpe e o voto popular deve ser preservado. Não há crime de responsabilidade — rebateu o líder do PT, Afonso Florence (BA).

A presidente Dilma foi notificada nesta quinta-feira sobre a abertura do processo. Quinze volumes foram enviados pela Câmara ao Planalto, com a inclusão da delação premiada do senador Delcídio Amaral (ex-PT) aos fatos iniciais do impeachment, focados nas pedaladas fiscais.

Rosso, em seu primeiro discurso como presidente, adotou tom conciliador.

— Serenidade, respeitando o regimento interno desta casa e a Constituição, preservando os direitos dos envolvidos nesse processo e respeitando a representatividade que cada parlamentar carrega no seu mandato – disse o líder do PSD.

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— Como relator, terei de agir como magistrado – afirmou o relator Jovair.

Calendário

— A próxima reunião da comissão de impeachment foi convocada para segunda-feira, às 17h, para a discussão de calendário de atividades.

A presidente Dilma Rousseff foi notificada nesta quinta-feira. Agora, ela tem dez sessões da Câmara para apresentar sua defesa. Depois, serão mais cinco sessões para que a comissão emita seu parecer.