A Defesa Civil de Blumenau informou que o inverno deve ser mais chuvoso na região em 2023 por causa da influência do El Niño. A chegada do fenômeno traz preocupação sobre como estão as barragens de Taió, Ituporanga e José Boiteux, primordiais para contenção de cheias no Vale do Itajaí.

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De acordo com a Epagri, não é possível determinar com qual frequência ocorre o El Niño, mas o último registro é de 2016. O fenômeno é configurado pelo aquecimento atípico da água superficial na região equatorial do Oceano Pacífico, favorecendo a maior disponibilidade de umidade no Sul do Brasil.

— Estima-se que a chuva ocorrerá de forma mais frequente durante a estação, resultando em acumulados de chuva acima da normalidade em Blumenau, sobretudo no mês de agosto — diz nota emitida pelo AlertaBlu.

Segundo a Epagri, em agosto, a média de chuva deve variar entre 110 e 150 milímetros no Vale do Itajaí.

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Como estão as estruturas das barragens?

Barragem de Ituporanga

Tem capacidade de armazenar 104,03 bilhões de litros. Via de regra, passa a ter comportadas fechadas quando o nível da água em Rio do Sul atinge 4,5 metros. Aspectos como a previsão de milímetros de chuva para as próximas horas nas áreas acima da barragem são considerados no momento da ativação.

No começo do ano passado, a Defesa Civil de Santa Catarina, responsável pela estrutura, informou que havia problema de vedação em uma das comportas e que não seria possível ativar a estrutura em caso de enchente se não fosse feita uma reforma antes.

Porém, em outubro, diante de uma inundação no Alto Vale, o órgão voltou atrás e fechou as comportas.

O governo do Estado chegou a lançar licitação para a obra, mas as empresas interessadas apresentaram valor acima do previsto e não comprovaram capacidade técnica. A Defesa Civil de SC espera publicar ainda no segundo semestre deste ano uma licitação para manutenção das barragens, onde estaria prevista a reforma das comportas de Ituporanga.

O processo exigiria primeiro a instalação do Stop Log, uma espécie de barreira antes das comportas, para impedir a água de chegar na estrutura e permitir a execução do serviço. Para a instalação dessa estrutura seriam necessários três meses. Depois disso viria a obra em si, que deve ser feita em todas as comportas por precaução, mas uma de cada vez.

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Até todas estarem prontas pode levar até 15 meses, conforme informado à comunidade em audiência pública na semana passada em Rio do Sul.

Barragem de Taió

Tem capacidade para 99,96 bilhões de litros. De acordo com a Defesa Civil do Estado, a estrutura de 50 anos precisa de manutenção, mas está em plenas condições de operação. Assim como a barragem de Ituporanga, também tem por base para ativação das sete comportas o nível da água em 4,5 metros em Rio do Sul.

Juntas, elas podem reduzir cerca de um metro e meio a inundação na capital do Alto Vale e aproximadamente 30 centímetros em Blumenau.

Barragem de José Boiteux

Com capacidade de 326 bilhões de litros, é a maior do Brasil para contenção de cheias e tem impacto direto no Médio Vale. A estrutura física está completamente danificada, sem maquinário para operação das comportas e não recebe manutenção há anos por causa de impasses com a comunidade indígena.

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A obra foi construída pelo governo federal dentro da terra Xokleng, legalmente demarcada. Desde então, quando retém a água da chuva, compromete as estradas, casas, escola e plantações na localidade. Um termo de reparação chegou a ser firmado entre indígenas, Estado e União , em 2015, para que ocorressem as reparações, mas ainda não foram todas efetivadas.

Leia também: Linha do tempo explica impasse entre governo e indígenas

O governo do Estado estuda como atender ao acordo e evitar que a barragem seja novamente invadida, como em 2014. Paralelamente, é preciso licitar novamente a obra de reforma. Isso porque chegou a ser publicado o edital em novembro passado, mas saiu no Diário Oficial do Estado em vez do Diário Oficial da União, o que era necessário porque o dinheiro para a obra vem, na maior parte, do governo federal.

Segundo a Defesa Civil de SC, atualmente os orçamentos para reforma e implantação de maquinário na barragem de José Boiteux estão sendo atualizados, mas não há previsão de data para licitação.

Não fosse o bastante, a obra de implantação do canal extravasor não pôde avançar por causa de um sítio arqueológico que exigiu estudos. Quando a situação parecia superada, encontraram uma caverna no caminho por onde a água vai passar, exigindo novas medidas burocráticas.

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Enquanto os impasses não são vencidos, a Defesa Civil de SC diz que é possível operar as comportas usando um caminhão hidráulico. Conforme o plano de ativação das barragens, a estrutura de José Boiteux é ativada quando o nível do Rio Itajaí-Açu chega a seis metros em Blumenau. No ano passado a cidade passou por uma enchente de pequeno porte, com 9,4 metros.

De acordo com o secretário de Estado Armando Schroeder Reis, não houve necessidade de manobra porque o reservatório da barragem estava com baixo nível de água.

O El Niño é um problema?

A meteorologista da Defesa Civil de Santa Catarina, Francine Sacco, ressalta que o fato de o Estado estar sob influência do El Niño não é fator determinante para desastres — como enchentes, por exemplo.

— Isso não quer dizer que vamos ter algum evento extremo — pontua.

Francine conta enquanto atuou no AlertaBlu, em Blumenau, acompanhou um levantamento para ver se havia um predomínio de enchentes em anos de El Niño. Na ocasião, conta a profissional, encontraram quase a mesma quantidade de enchentes entre os anos de El Niño, La Niña e em períodos chamados “Neutros”.

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— Agora, aqui na Defesa Civil do Estado, fizemos o mesmo levantamento, avaliamos os piores desastres que já ocorreram em SC, e observamos que eles aconteceram muito mais em anos de La Niña.

A meteorologista AlertaBlu, Emily Ramos, gravou vídeo explicando a situação.

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