Transitar em uma cidade como Joinville no horário de pico definitivamente exige cautela e paciência, afinal, é neste momento que boa parte das pessoas volta para casa após a jornada de trabalho. Para marcar o encerramento da Semana do Trânsito, que termina nesta segunda-feira, o jornal “A Notícia” repetiu o teste de mobilidade feito por jornalistas da empresa em 2009 e 2013. O objetivo era comparar os tempos de deslocamento e ver o que melhorou ou piorou.
Continua depois da publicidade
O único que teve um melhor desempenho foi o ônibus. Em 2013, ele era o modal mais lento, sendo necessário 38 minutos para fazer o percurso do teste. Agora, ele foi o segundo mais rápido, com 31 minutos. A implantação de corredores exclusivos, especialmente na Getúlio Vargas, foi determinante para essa melhora no tempo de deslocamento.
Em compensação, o mesmo corredor restringiu o acesso dos carros, que antes tinham três pistas para transitar e agora têm apenas duas. No teste feito pela equipe do “AN”, apenas nos dois quilômetros da Getúlio, foram gastos 20 minutos. Com uma pista a menos e sem ciclovias ou ciclofaixas em todo o trecho, carros, motos e bicicletas levam a pior na comparação com os ônibus.
O trajeto foi o mesmo realizado nos testes anteriores. Percorremos o trecho de 8,5 quilômetros de extensão entre o Terminal Norte, no bairro Santo Antônio, e o Terminal Sul, no bairro Floresta, de carro, de ônibus, de moto e de bicicleta. O horário escolhido também foi o mesmo, das 18 horas, assim como o dia da semana, uma terça-feira.

Da mesma forma que em 2009 e em 2013, iniciamos o trajeto na rua Blumenau, passamos pela Nove de Março, entramos na avenida Juscelino Kubitschek, prosseguimos pela avenida Getúlio Vargas e chegamos no Terminal Sul da rua Santa Catarina com os quatro modais. Somando-se os tempos de todos eles, concluiu-se que o trânsito ficou 21,6% mais lento no comparativo com 2013 e impressionantes 84,8% em relação a 2009. O tempo gasto, em média, para percorrer os 8,5 quilômetros também subiu: neste ano, foram necessários 36 minutos e 30 segundos, em média, seis minutos e 30 segundos a mais do que em 2013 e 16 minutos e 45 segundos a mais na comparação com 2009.
Continua depois da publicidade
Gastando mais tempo, a média de velocidade dos quatro meios de transporte caiu de 17 km/h para 15 km/h quatro anos depois. O pior desempenho ficou com o carro, que registrou velocidade média de 9,81 km/h. Para efeito de comparação, uma pessoa que fizesse o mesmo trajeto correndo, em ritmo moderado, chegaria antes no ponto final.
Dos quatro modais, o mais rápido foi a da motocicleta, que completou o percurso em 25 minutos; em segundo lugar, chegou o ônibus, com 31; em terceiro, a bicicleta, com 38; e, em quarto, o carro, com 52 minutos. É bom lembrar que, embora a frota de veículos tenha crescido menos nos últimos anos (14,54% no período), o acréscimo de veículos nas ruas é significativo e ajuda a explicar os constantes congestionamentos.
Confira nas próximas páginas o relato dos jornalistas do “AN” que fizeram o teste de mobilidade deste ano.
Andar de ônibus também exige paciência
Por Gabriela Florêncio
Utilizar o transporte coletivo em Joinville é uma tarefa que exige paciência. Como usuária frequente, observo diversos aspectos, que vão desde relação custo-benefício até a educação de outros passageiros, a ser considerada ao embarcar no ônibus. Peguei a linha 0200 Norte/Sul para fazer o teste. O ônibus percorreu quase todo o trecho por um corredor exclusivo, o que torna o trajeto um pouco mais ágil e menos cansativo. No último teste de mobilidade feito por “AN”, o “zarco” demorou 37 minutos para completar o percurso. Desta vez, fizemos em 31 minutos.
Continua depois da publicidade

Cheguei ao Terminal Norte 15 minutos antes do embarque. Aos poucos, uma pequena multidão se formou ao meu lado devido ao atraso de dois coletivos. Por volta das 17h50, eles chegaram à plataforma. Embarquei no segundo ônibus, presumindo que ele partiria mais vazio. Dito e feito. O primeiro lotou rapidamente e saiu. A previsão de saída do coletivo era às 17h53, mas ele partiu às 18h.
O ônibus parou em todos os 23 pontos espalhados pelo trajeto. Na sexta parada, da rua Blumenau, próximo à Quintino Bocaiuva, o fluxo de passageiros começou a aumentar. No oitavo ponto, o fundo do coletivo já estava cheio. Durante o trajeto, pegamos poucos pontos de engarrafamento. Um deles ocorreu em frente ao Hospital Dona Helena – onde a via volta a ser compartilhada com outros veículos – e também na rua Santa Catarina, por causa do grande fluxo de veículos que convergem para as laterais.
Durante o caminho, a falta de educação no trânsito dos motoristas e motociclistas também causou pontos de lentidão. Alguns cortaram a frente do ônibus para acessar as ruas transversais ou o fluxo da rua. Contabilizei pelo menos seis casos desses. O pior deles aconteceu próximo ao Hospital São José, quando um carro entrou rapidamente na frente do coletivo. Após uma freada brusca (e inesperada), os passageiros chacoalharam para frente e para trás, gerando queixas e lamentações. Neste ponto do trajeto, as pessoas já se espremiam devido a lotação. Ainda bem que havia ar-condicionado nesta linha – pelo menos neste horário, o que propiciou um pouco de conforto aos passageiros.
Em determinados pontos do trajeto, como na altura da rua Augusto Schmidt, onde havia um grande buraco, o coletivo precisou trafegar com a velocidade reduzida por causa das condições do asfalto. A vantagem de utilizar o transporte coletivo – em locais onde há corredor exclusivo – é deixar para trás filas de carros ocupados por até cinco pessoas, enquanto o coletivo transporta cerca de cem pessoas com mais agilidade.
Continua depois da publicidade
De bike, o tempo todo ligado
Por Hassan Farias
Percorrer os 8,5 km entre os terminais Norte e Sul de bicicleta é um grande desafio para quem não costuma pedalar com frequência. Então, antes de se aventurar, é importante levar uma garrafinha de água para se hidratar e um pano para secar o suor porque a viagem é desafiadora. Tive de estar atento o tempo inteiro aos demais veículos porque praticamente todo o percurso tem que ser feito pelo corredor de ônibus, já que não há ciclofaixas ou ciclovias. Além disso, em ruas como a Blumenau e a Santa Catarina, os motoristas que saíam das vias laterais estavam mais preocupados em ficar à frente dos carros do que dar passagem aos ciclistas.

Saí do Terminal Norte às 18h e acessei a rua Blumenau, seguindo sempre pelo corredor de ônibus. O percurso até a rua Nove de Março foi feito em 13 minutos. Poderia até ter sido mais rápido se não fosse necessário ficar atrás dos ônibus quando eles paravam para pegar passageiros. O mesmo problema se repetiu na avenida Getúlio Vargas. Outro fator que impõe paradas são os sinaleiros. Um dos pontos mais perigosos é o cruzamento da rua Blumenau com a rua dos Ginásticos. Ali, o corredor não tem continuação e o ciclista fica espremido entre carros e a calçada.
O risco de um acidente é muito grande. Outro problema está relacionado aos desníveis e buracos no asfalto dos corredores. Na avenida JK também não há faixa para ciclistas e o percurso também precisa ser feito pelo corredor. O maior desafio é a subida perto da Catedral, que requer força nas pernas. No início da avenida Getúlio Vargas, o cuidado para atravessar o cruzamento deve ser redobrado porque os sinaleiros têm vários estágios e os carros parecem sair de todos os lugares.
Na Getúlio Vargas, tive, mais uma vez, de dividir espaço com os ônibus, apesar de o corredor estar em boas condições. À direita da via, também foi preciso tomar cuidado com os veículos estacionados. Dois pontos desconfortáveis no trajeto foram a passagem do trilho de trem, perto da rua Santa Catarina, e a subida no final da Getúlio. Mais uma vez, os batimentos cardíacos aceleraram a cada pedalada.
Continua depois da publicidade
A parte final da viagem exigiu muito esforço e atenção, principalmente por causa da péssima qualidade do asfalto no corredor de ônibus. Todo o trecho estava com remendos, desníveis ou buracos. O cruzamento com a avenida Antônio Ramos Alvim, onde há um sinaleiro e os carros chegam de todos os lados, é um ponto de alerta. Concluí o trajeto em 38 minutos e, por sorte, voltei para o jornal de carro porque as pernas não aguentavam mais.
Moto ainda é a mais rápida, mas há muitos perigos
Por Juliano Souza
Atravessar a cidade de Norte a Sul com um motocicleta, no horário de pico, não é um trabalho fácil. Dessa vez, o teste foi feito por mim, pilotando um Honda Biz, que tem baixa potência, mas que não influencia muito no desempenho final, pois a velocidade máxima permitida no trecho percorrido é de 60 km/h. O que é muito mais importante é ter agilidade para pilotar a moto e um nível de atenção muito grande.

A lentidão do trânsito e o tráfego intenso de veículos, além de pedestres atravessando a pista, complicam muito a pilotagem do motociclista no horário do teste. Para conduzir a moto no dia da avaliação, o clima ajudou. O céu estava com poucas nuvens e, quando iniciamos o trajeto, em frente ao Terminal Norte, no bairro Santo Antônio, havia claridade ainda. No início da rua Blumenau, havia pouco movimento e o trânsito estava bastante tranquilo. O problema se agravou em frente ao Hospital Dona Helena, onde o trânsito afunila e muitos carros mudam de faixa, o que acaba diminuindo os espaços para a passagem das motos. O jeito foi seguir o fluxo de carros até achar uma brecha.
O trânsito melhorou após passar o cruzamento com a rua 15 de Novembro, e assim prosseguiu pela Nove de Março e o começo da avenida Juscelino Kubitschek. O pior congestionamento peguei no fim desta via e por quase toda a extensão da avenida Getúlio Vargas. Sem dúvida, foi o trecho mais difícil a ser percorrido de moto. Em todos os cruzamentos, havia mais veículos entrando do que saindo da avenida, o que ampliava o congestionamento.
Continua depois da publicidade
A única saída para o motociclista, nessas situações, é entrar no corredor central formado entre os carros, mas com muita cautela e atenção para não sofrer acidentes. Assim, a moto leva vantagem sobre os demais veículos. Vale destacar, porém, que os pontos de perigo estão espalhados por toda a via. Em frente ao Hospital São José e arredores, houve muitos pedestres que atravessaram a avenida pelo meio dos carros. Isso aumenta o risco de acidentes por causa da falta de visibilidade.
Além disso, muitos carros mudam de faixa sem acionar o sinal de pisca-alerta. O último trecho do percurso, na rua Santa Catarina, foi o mais fácil, apesar de ter alguns pontos de congestionamento nos semáforos. Porém, a parada é curta e, seguindo o fluxo de carros até o Terminal Sul, a chegada foi bastante tranquila.
Quem sai de carro fica preso ao trânsito
Por Jean Balbinotti
Fazer o trajeto de carro entre o Terminal Norte, no bairro Santo Antônio, e o Terminal Sul, no Floresta, no horário de pico, é uma tarefa estressante nos dias atuais. Além do grande volume de veículos, as limitações das vias deixam motoristas apressados, e o risco de acidentes aumenta.

Saí de carro, na companhia do fotógrafo Maykon Lammerhirt, do Terminal Norte às 18h. Nesse momento, achei, equivocadamente, que estava em vantagem pela tranquilidade do trânsito. Não havia pontos de lentidão na rua Blumenau e o tráfego fluía com incrível naturalidade. Mas bastou chegar no cruzamento com a rua Emílio Artmann para a minha percepção mudar. Ali, alguns carros já estavam parados. Mais adiante, com o sinaleiro aberto, fiquei com a passagem trancada por alguns segundos no cruzamento com a Marechal Deodoro. Completei o trecho em 12 minutos.
Continua depois da publicidade
Depois de percorrer 250 metros da rua Nove de Março e acessar a avenida Juscelino Kubitschek (JK), foram necessários 14 minutos para passar 700 metros. Alguns fatores contribuíram para a lentidão. Na JK, há um colégio particular e muitos veículos entram e saem do local para pegar os alunos nos finais de tarde. Há também um entroncamento movimentado com a Ministro Calógeras. Já estava chateado com a demora para atravessar esse trecho quando percebi que o pior ainda estaria por vir.
A avenida Getúlio Vargas é o trecho mais movimentado entre os dois terminais. Em quase toda a extensão da avenida, a velocidade máxima foi de 20 km/h. Ela é o principal acesso para a zona Sul e ali estão situados o maior hospital de Joinville (São José), inúmeros pontos comerciais e um corredor exclusivo para ônibus. Com isso, a passagem para veículos fica restrita a duas faixas de rolamento, o que gera um estrangulamento. O lado esquerdo da via é destinado a estacionamento até a parte final da Getúlio, quando há um acesso para a rua Monsenhor Gercino.
Cheguei à rua Santa Catarina já cansado após incontáveis trocas de marcha. Neste trecho, alguns carros usaram a faixa exclusiva para ônibus para ganhar tempo. Percorri os 2,3 km finais do trajeto de forma mais rápida. Apesar do movimento intenso, os veículos trafegam nas velocidades permitidas e não identifiquei pontos de lentidão, apesar das duas lombadas eletrônicas. A sensação que fica é que, em horário de pico, não vale a pena andar de carro nesse trajeto. É estressante e exige cuidados para não se envolver em acidentes.
