Uma ilha que era Capital, mas convivia com um certo isolamento do resto de Santa Catarina e até do Brasil. Com hábitos e costumes de cidade pequena, Florianópolis tinha cerca de 40 mil habitantes quando foi conectada ao resto de Santa Catarina através da Ponte Hercílio Luz, em 1926. Um tempo em que os barcos e bateiras eram o principal meio de transporte, em que o trapiche era o ponto mais importante da cidade e que os trajetos eram feitos de carroça até o ponto de saída das balsas que ligavam a ilha ao continente — que então fazia parte de São José.

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A construção da ponte mudou drasticamente a vida em Florianópolis, economicamente e socialmente. A historiadora Norma Bruno lembra que além de um monumento de características únicas no Brasil, a Hercílio Luz foi instalada em uma "aldeia praiana" que não estava acostumada à grandiosidade.

— Pensa o que é uma província como essa, com as suas peculiaridades. Imagina que era uma cidade que tinha mais características de Desterro do que da capital Florianópolis. Os hábitos, os costumes, eram muito provincianos. Eu comparo a ponte àquela grande novidade, como construir uma belíssima casa num bairro simples. Ela era fator de visitação, as pessoas vinham só para conhecer a ponte. Logo depois da inauguração tinha caravanas pra visitar a ponte, ela era realmente algo inusitado — conta Norma.

Naquela época, a história conta que as outras cidades de Santa Catarina consideravam a ilha muito distante para ser o centro administrativo e político do Estado, por isso havia um movimento que pregava a mudança da capital para Lages.

Para consolidar a ilha como a capital que o governo insistiu na obra. Dizem os registros da época que, em 1917, o então engenheiro Hercílio Luz aguardava o horário da balsa no lado continental quando falou às pessoas próximas: "no governo do Estado, mandarei construir uma grande ponte, daquele morro ao do cemitério, para acabar de uma vez para sempre com este suplício".

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Floripa antes da Hercilio Luz
Início da construção da Ponte Hercílio Luz (Foto: Arquivo)

Na época a travessia com balsas era demorada e sequer oferecia cobertura para proteger os passageiros do sol ou da chuva. Em dias de vento forte ou mar agitado o trajeto era impossível e os habitantes ficavam isolados na ilha.

As dificuldades políticas e de mobilidade deixavam claro que era a hora de uma conexão de Florianópolis com o continente, e logo depois de inaugurada a ponte mostrou seu potencial de transformar totalmente o rumo da ilha e dar o início a um novo momento histórico.

— Mudou tudo. revolucionou costumes, a maneira de fazer negócios, criou oportunidades. Uma empresa, por exemplo, logo após a abertura da ponte encomendou quatro carros para 20 passageiros cada, exatamente por causa da ponte. Antes dela quase não transitavam carros na ilha — relembra a historiadora.

Norma conta que, quando a Ponte Hercílio Luz foi inaugurada, os acessos para pedestres ainda não estavam prontos. A vontade de conhecer a estrutura era tanta que os moradores abriram o que chamaram na época de "caminhos de cabra", que eram escadas cavadas na lateral do morro que permitiam o acesso à ponte.

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— A Hercílio Luz virou a grande estrela da cidade, do Estado e até do país, era algo realmente inusitado. Era um exagero a ponte. Especialmente em uma cidade tão pequena e um Estado tão pequeno, era algo digno das grandes capitais, Comparado à Torre Eiffel, de tão majestosa — conta a historiadora.

Confira o vídeo que explica o movimento da ponte Hercílio Luz:

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