Luana
(Foto: NSC Total)

Está em alta o debate sobre como o setor de tecnologia pode ser mais atrativo para as mulheres — e mais do que isso, para as mães. As mulheres correspondem por apenas 20% dos cargos nas empresas de tecnologia, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do IBGE. Isso é um problema para elas, já que provavelmente a tecnologia será a atividade econômica que mais irá crescer nas próximas décadas, e para as companhias, que não conseguem preencher todas as vagas abertas e precisam conquistar mais gente.

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Este artigo compila o que aprendi nos últimos quatro anos como mulher, mãe e participante do ecossistema de tecnologia catarinense. Alguns pontos importantes: quero deixar claro que tenho os meus privilégios e que o texto é sobre a minha percepção sobre ter um filho e trabalhar. Logo, não posso falar sobre a experiência dos homens nisso tudo.

Eu engravidei jovem — para padrões de classe média — estava com apenas 23 anos quando soube da notícia. Tornando as coisas ainda mais caóticas, estava no último ano da faculdade de engenharia quando tudo aconteceu. Você já deve saber a essa altura que “é preciso uma vila para criar uma criança”. Mas, na prática, será que funciona?

Ser a jovem grávida em um ambiente totalmente machista foi muito complicado e muito solitário. Na minha percepção, a engenharia é, sim, um ambiente machista. Não foi lá que encontrei a vila. Seguimos mesmo assim.

Como é ser mãe e procurar emprego?

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Enfim, pari. Uma grande experiência. Pule o calendário para quatro meses depois e estou à procura por um estágio de fim de curso.

Eu estava ciente do preconceito que mulheres podem sofrer durante entrevistas de emprego. Já havia escutado relatos de mulheres aos 30 anos tendo que falar sobre suas vidas pessoais e dizer se estão ou não prestes a engravidar.

Pela primeira vez, ser uma mãe jovem foi uma vantagem pra mim: não se esperava que eu já tivesse um filho, então ninguém tocava nesse assunto. Me encontrei em um grande dilema: sou obrigada a dizer que tenho uma filha durante uma entrevista de emprego?

Resolvi fazer um teste e entrei em diversos processos seletivos ao mesmo tempo. Em alguns, eu fui sincera já na primeira entrevista, enquanto nos outros, continuei até as etapas finais sem falar nada. Por sorte, uma das empresas em que fui sincera desde início me aceitou e estou aqui até hoje!

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Como é ser mãe e trabalhar?

Realmente não entendo por que existe a resistência em contratar mães. Acho que uma mãe, por toda a experiência que passa com a criança, desenvolve uma série de habilidades muito úteis para o mercado de trabalho.

Não, não estou falando de multi-tasking, que é péssimo. Quando você compreende um bebê de quatro meses, não é tão difícil entender seus clientes, chefes e colegas de trabalho, não é mesmo? Você tem uma profissional que se comunica melhor, que se importa com o seu emprego e busca estabilidade.

Me considero uma boa mãe e uma boa profissional, mas tem um obstáculo que não consigo ultrapassar: ainda não consigo estar em dois lugares ao mesmo tempo.

Que tal ajudar as mulheres da sua empresa que são mães? Aquele lance de uma pessoa levanta a outra? Tirar o discurso feminista do papel?

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Algumas dicas para as empresas de tecnologia que querem ser mais inclusivas com as mulheres e mães:

Não pergunte, durante o processo seletivo, se a mulher tem ou planeja ter filhos;

– Tenha a possibilidade de horários flexíveis e home office, que já são uma realidade em diversas empresas de TI;

– Tenha licença maternidade remunerada de seis meses;

– Tenha um berçário e um local adequado para tirar leite.

– Deixo algumas dicas para os colegas de trabalho também:

– Seja uma rede de apoio e priorize happy hours e eventos que sejam adequados também para as crianças;

– Não agende reuniões cedo ou tarde demais, nos horários em que a criança não está na escola;

– Não faça horas extras sem informar à gestão. Não há como competir com alguém que trabalha mais horas que você;

Não trate as mães de forma diferente do que você faz com os outros colegas de trabalho.

E, claro, tenho algumas sugestões para as mães. Para as que já trabalham no setor, é importante não se cobrar demais, procurar deixar o trabalho no trabalho e ser franca quando os colegas estiverem sendo inadequados. E para aquelas que estiverem procurando um emprego é importante manter o Linkedin atualizado, procurar indicação de pessoas que já estão no mercado de trabalho e não se deixar abalar pela pergunta sobre os filhos no processo seletivo.

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Já sabemos que a diversidade é positiva para empresas. Pessoas com diferentes vivências contribuem com diferentes pontos de vista. Torne possível que mães trabalhem na sua empresa: mais do que oferecer horários flexíveis e benefícios, tenha uma gestão sensível e empática.

Tech Power
(Foto: Reprodução)

Luana Pereira é integrante da Tech Power, uma iniciativa que busca ampliar a participação e liderança feminina no setor tecnológico da Grande Florianópolis por meio da comunicação. O projeto foi criado por mulheres que trabalham na Dialetto, empresa de assessoria de imprensa e marketing digital especializada em tecnologia. Saiba mais.