A situação econômica da Argentina e a eleição presidencial no país vizinho, que tem segundo turno da disputa marcado para o próximo dia 19, pode ter reflexos na vinda de turistas argentinos para a temporada de verão no litoral de Santa Catarina.
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Lideranças do setor turístico catarinense apontam que a expectativa é de mais uma temporada com forte presença de argentinos nas praias do Estado. O processo seria uma continuação da retomada das viagens após as restrições da pandemia de Covid-19, já experimentada no verão passado.
O primeiro termômetro disso foi sentido na tradicional Feira Internacional de Turismo (FIT), em Buenos Aires, em que cidades de Santa Catarina divulgam os destinos catarinenses a operadoras de turismo do país vizinho. Outro fator que justifica o otimismo dos empresários é o número maior de voos diretos entre Buenos Aires e Florianópolis: a previsão é de que a capital catarinense tenha até 10 voos diários diretos com a Argentina, de quatro companhias e para três aeroportos diferentes.
— Tanto as informações das empresas aéreas quanto da parte terrestre indicam que teremos aumento significativo de turistas argentinos e do Mercosul nesta temporada de verão em Santa Catarina — projeta o secretário de Estado de Turismo, Evandro Neiva.
Inflação em alta é desafio para argentinos
Apesar disso, as dificuldades econômicas enfrentadas na Argentina são novamente um desafio. O país que registrou 138% de inflação ao ano até outubro e sofre com a desvalorização do peso em relação ao dólar tem ainda um elemento adicional neste ano: a acirrada eleição presidencial, com a disputa entre o peronista Sergio Massa, atual ministro da Fazenda, e o ultradireitista Javier Milei.
A expectativa de lideranças do setor é de que o resultado da eleição em si não seja determinante na decisão dos argentinos de virem ou não para as praias de Santa Catarina. No entanto, o período eleitoral já deixou um reflexo: o adiamento das reservas.
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O subsecretário de Turismo, Cultura e Esporte de Florianópolis, Francisco dos Anjos, explica que essa decisão mais tardia de reserva já vem ocorrendo nos últimos anos, mas está sendo registrada também neste ano no caso dos hermanos.
— A partir do dia 20, os argentinos vão estar decidindo o que farão no verão. Alguns já realizaram [as reservas], mas muitos ainda têm a decisão de compra mais em cima da hora — avalia.
O presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares da região (SHRBS), Luciano Pereira Oliveira, também observa movimento semelhante.
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— Percebemos que estão vindo argentinos. Muitos anteciparam reservas antes do primeiro turno, alguns já querendo adiantar o pagamento para não correr risco de alguma flutuação. Sentimos essa demanda antecipada, e agora deu uma reduzida. Ainda estão entrando pedidos de reserva, mas em menor número, por existir uma incerteza de como a coisa vai andar após as eleições — avalia.
A situação faz com que municípios como Florianópolis estudem ações para estimular a decisão final de fechamento das reservas nas próximas semanas. Uma reunião nesta quarta-feira (8) deve discutir medidas, mas a previsão é de que as apostas sejam em mídias digitais e focadas nas novidades do Réveillon, como a virada do ano sem fogos.
Nesta semana, uma ação do Destino Floripa e Região, antigo Convention & Visitors Bureau, já reuniu um grupo de jornalistas e influenciadores argentinos para divulgar os atrativos turísticos.
“Cenário do turismo vai continuar rodando”
A perspectiva do setor turístico em Florianópolis é de que esse adiamento nas reservas em razão da campanha e da indefinição eleitoral seja o principal reflexo, sem que o resultado da eleição afete necessariamente a decisão dos argentinos de viajar ou não para Santa Catarina.
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— Não é porque vai ganhar Massa ou Milei que vai aumentar muito ou reduzir muito o número de turistas. Pode haver uma queda, mas talvez não tão expressiva se ganhar um candidato A ou B. Eles vão continuar [vindo], o cenário do turismo vai continuar rodando. As pesquisas sempre disseram que é muito mais um câmbio favorável ou desfavorável que prejudica ou não a vinda. Não é a política diretamente, mas a consequência dela — avalia o subsecretário de Florianópolis.
O dirigente afirma que a expectativa atual é manter o patamar de turistas argentinos que Florianópolis recebeu no ano passado, com possível incremento de 5% a 10%. Outra preocupação é no aumento do ticket médio gasto pelos turistas estrangeiros na cidade.
— Não há nenhuma perspectiva de explosão, nem de redução drástica do turismo argentino, nem se ganhar A, nem se ganhar B — avalia.
O presidente do sindicato dos hotéis, bares e restaurantes de Florianópolis lembra que em 2022 a Argentina já enfrentava cenário econômico difícil e, mesmo assim, vieram em grande número à capital catarinense durante a temporada de verão.
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— Ano passado já existia um receio de que eles não viriam porque a situação estava crítica, mas no final houve uma surpresa positiva, os argentinos vieram em grande número, mesmo com a situação difícil deles, e foram muito importantes para o resultado do nosso verão — pontua Oliveira.
O secretário de Turismo de Balneário Camboriú — outro destino queridinho dos argentinos em Santa Catarina —, Thiago Velasques, considera natural que a incerteza gerada pela questão política faça os argentinos esperarem um pouco mais para definir suas compras. Ele se baseia nos bons números da temporada passada e em novidades como os voos diretos para Florianópolis e Navegantes como fatores que devem motivar os argentinos a vir ao Estado.
— Acredito que tendo a eleição, estabilizando esse processo, o argentino vai estar nesta temporada aqui. Quem decidiu viajar já veio se programando, então esperamos sim um grande fluxo de argentinos para esta temporada — projeta.
Argentinos em SC
Jan-Fev/2019: 104.415
Dez/2019 a Fev/2020: 121.183
Dez/2020 a Fev/2021: 1.607
Dez/2021 a Fev/2022: 65.143
Dez/2022 a Fev/2023: 154.375
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Fonte: Sistema Almanach, da Secretaria de Estado do Turismo
Percentual de turistas argentinos no total de visitantes em SC
2013: 11,0%
2014: 7,4%
2015: 7,6%
2016: 18,1%
2017: 10,7%
2018: 23,5%
2019: 20,6%
2020: 14,8%
2021: 0,2%
2022: 10,4%
2023: 12,4%
Fonte: Pesquisa Verão 2023 Fecomércio
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