Na memória de Eduardo Paul Cunha, o Duda Cunha, há uma passagem da infância tão interessante quanto emblemática. Nascido em Blumenau, filho de uma conhecida família ligada à advocacia, ele recorda que aos 10 anos fez a primeira incursão ao universo do empreendedorismo. Para aumentar a mesada, juntou-se a um amigo e por alguns dias vendeu cerveja na orla de Balneário Camboriú, cidade que hoje o tem como um de seus maiores representantes.

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– Eu queria fazer por mim mesmo. Nem precisava andar muito, pois como (a cerveja) estava escassa, numa espécie de crise naquele momento, eu vendia rápido. Nós tínhamos dinheiro e essa grana era para comprar um lanche, um refrigerante e o fliperama, que era sucesso na época. Foi uma brincadeira que durou, sei lá, 15 dias – relembra com um largo sorriso no rosto.

Aos 36 anos, o blumenauense se firmou entre os empresários que dominam o entretenimento catarinense e, através do Green Valley, colocou a região na lucrativa rota da música eletrônica global. É um dos reis das baladas que atraem turistas vindos de todos os cantos.

O club instalado desde novembro de 2007 em uma região até então impensável, mas não menos bela, na vizinha Camboriú, se tornou referência mundial, já recebeu os principais DJs do mundo – os DJs são atualmente o que os rockstars foram até os anos 1990 – e esteve nas três posições principais do pódio que a conceituada revista inglesa DJ Mag estabelece escolhendo os 100 melhores do mundo. O movimentado balneário do Litoral Norte de Santa Catarina figura ao lado de Ibiza, na Espanha, e Londres, na Inglaterra, como uma das mecas da e-music.

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Mas antes de entrar nesse universo Duda fez o caminho completo até o Direito. O pai é advogado e a irmã, juíza. Formou-se na Furb e fez especializações em gestão e estratégia empresarial. Desde o primeiro dia de aula encarou um estágio no escritório do patriarca.

– Me perguntam se eu não advogo mais. Eu sempre respondo que advogo todos os dias, o tempo todo. Inclusive, acho que todo mundo deveria fazer Direito – defende.

Foto: Marco Favero

Logo depois da formatura, ele montou um escritório de ações para operar na Bolsa de Valores na capital paulista. Nessa época, começou a viver na ponte aérea São Paulo-Santa Catarina, o que segue fazendo religiosamente toda semana. Se não bastasse, viu na democratização dos celulares outra oportunidade de negócios. Com o pai, criou uma rede de lojas para prestar assistência técnica aos consumidores do novo hábito.

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O que pode ser chamado de um embrião do Green Valley surgia naquele momento. Para a conclusão de uma pós-graduação, criou ao lado de um sócio uma balada, a Red, na cidade onde nasceu:

– A gente estudou o que estava faltando em Blumenau. Eu sempre gostei de sair à noite, sempre tive vários contatos. Depois de um tempo, passamos adiante. Foi uma grande experiência, mas chegou uma hora em que a gente teve que eleger as prioridades, pois a atividade na Bolsa estava me tomando bastante tempo – relembra, sentado no escritório do Green Valley decorado de maneira clássica e cercado de mármore, localizado na movimentada Avenida Brasil.

Anos depois, foi chamado por um grupo de empresários, atuais sócios e parceiros, Eduardo Philips, Ricardo Tollazzi e Ricardo Flores, para conhecer os planos de instalação de um club.

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– Vim passar um fim de semana por aqui, olhei o projeto, fiz algumas mudanças que eu achava importantes, sentamos e conversamos, foi uma decisão muito rápida. Eles me levaram para ver o terreno. Balneário estava decadente na noite, não tínhamos mais a Barra Sul, todas aquelas casas já tinham fechado – comenta.

Até então, a região sul da orla ostentava até a metade dos anos 2000 uma das áreas mais movimentadas do entretenimento catarinense.

Profissionalismo e seriedade nas festas

Quando o Green Valley abriu as portas, em 2007, o inglês Carl Cox comandou as picapes. Desde então, o DJ já perdeu as contas de quantas vezes se apresentou em Santa Catarina. Apesar do sucesso da primeira festa, Duda considera o Carnaval do ano seguinte como a consolidação da marca e do conceito do novo espaço. O público entendeu do que se tratava a proposta. Já havia na Praia Brava, em Itajaí, o Warung, estabelecido como referência na área.

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O club fez turnês mundo afora e também realiza, desde 2012, em parceria com o Grupo RBS, o Dream Valley, um festival de música eletrônica realizado dentro do Beto Carrero World, em Penha.

Dentro da estrutura organizacional, o blumenauense se define como o presidente do conselho da empresa. Cada sócio tem uma função, além de investidores, eles atuam fortemente no âmbito social que um empreendimento como esse exige.

– Lembro que quando cheguei implementei uma visão mais profissional. A noite sempre teve uma fama de que não tem uma seriedade, abre em um dia, no outro dia não sabe se vão abrir. Isso é uma coisa que eu não gosto. Sempre prezei pela credibilidade, coloquei consultoria no negócio. A festa dos outros é o nosso trabalho, isso às vezes confunde e requer muita seriedade.

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Gestor polivalente

Entre o escritório na região central de BC – onde os rapazes circulam de bermuda e camiseta para combinar com o espírito da cidade – e o empreendimento em Camboriú, Duda e seus sócios empregam 40 funcionários fixos, além de uma média de outras 400 pessoas envolvidas em cada festa entre postos diretos e indiretos de trabalho. Mas ele faz questão de ressaltar os bastidores:

– Quando eu lanço uma festa, ela tem que ser projetada, executada e finalizada. As pessoas confundem muito porque o Green Valley está sempre cheio. Festa cheia nem sempre é sinônimo de faturamento. Qual o consumo? Quantas cortesias? Depende da data, do mês, das intempéries. Fazemos alguns estudos das outras festas, a gente tem um histórico, os DJs que vieram, os preços, o consumo, o cachê, mas nem sempre a gente consegue refletir no tíquete médio. É muito vulnerável. Sempre temos o risco de perder dinheiro.

Mesmo com os riscos, o empresário viu nesse setor outras oportunidades de negócios. Atualmente, mantém sociedade no Maria?s, casa de shows e eventos instalada ao lado do Green Valley, e nas casas de sertanejo universitário Wood?s, com filiais em BC, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre, entre outras cidades Brasil afora, e na Field?s, em Florianópolis. Ou seja, Duda Cunha está atrelado aos dois gêneros musicais que predominam nas baladas do país. Em outra área, ele comanda as 20 filiais da corretora de câmbio MultiMoney. Aí entende-se o fato de o empresário comentar que mora em um avião.

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Vamos ao clichê? O que é uma boa festa?

– Para mim, é uma festa recheada de bons amigos, com isso você pode fazer uma dentro da própria festa. A mesma festa pode ser boa pra mim e ruim pra você. Evidentemente, estar cercado de bons amigos é o sucesso – revela, apontando que gosta de receber sua turma nas residências de São Paulo e Balneário Camboriú.

Duda tem inclusive um kit completo de DJ para brincar, para tocar de Lulu Santos a Roberto Carlos, dos DJs que frequentam seu club às duplas sertanejas contratadas por suas equipes.

Quando não está trabalhando, o que não deve ocupar somente as horas de sono, Duda pratica pilates e ginástica funcional, além de se aventurar em caminhadas para manter o físico e a saúde. Gosta de praticar ainda paddle e tênis. Até arrisca um futebolzinho, mas é raro.

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_ Sou workaholic. Gosto muito do que faço, sou apaixonado pelo meu trabalho. Mas, hoje em dia, com o passar do tempo a gente vai amadurecendo. Esse equilíbrio é o grande diferencial. Não desejo ser o homem mais rico do cemitério. O cara rico é um cara que consegue administrar o seu tempo como, por exemplo, se permitir tirar a tarde para pegar uma praia.

Assim finaliza para retornar, já no fim de um dia atribulado, aos compromissos da movimentada agenda. Tão movimentada quanto as noites do Green Valley.

O que eu vivo em SC

Duda Cunha contabiliza as horas do dia em projetos e metas cumpridas. Apesar da rotina bastante comprometida, o empresário destaca alguns locais que gosta de frequentar quando está em Balneário Camboriú. Como uma espécie de embaixador do lifestyle da região, são dicas que ele também gosta de apresentar aos amigos visitantes do litoral.

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Praia Brava

No limite entre Balneário Camboriú e Itajaí, a praia é uma das mais badaladas do Sul do país. Reduto de Surfistas e belas mulheres, a democrática faixa de areia também recebe famílias inteiras para dias de sol e mar. Duda garante que recupera as energias com um banho nas águas revoltas e geladas. Para ele, não há melhor lugar para tal ritual.

Foto: Marcos Porto

Lago da Sereia

Duda Cunha é um homem dos clássicos. Apesar de citar o contemporâneo Number Seven, na Barra Norte, e o certeiro Chez Raymond, em Cabeçudas, em Itajaí, o empresário destaca o Lago da Sereia como um dos restaurantes Prediletos. Instalado na Barra Sul, em plena Avenida Atlântica, o estabelecimento é especializado em frutos do mar. Para comer camarão, arroz, batata frita e pirão.

Foto: Marcos Porto

Interpraias

Impossível visitar BC e não circular na rodovia que leva às outras praias do balneário. Para fugir da ultramovimentada Praia Central, o caminho é uma ode às belezas naturais da região. Serpenteando mata de um lado e águas cristalinas de outro, os visitantes podem escolher entre Laranjeiras, Taquaras, Estaleiro e Estaleirinho. Em cada uma, um tipo de público com opções de restaurantes e bares. Dá até para ficar em silêncio absoluto e totalmente sozinho na agreste Taquarinhas.

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Foto: Marcos Porto