O amor dos pais não é estático: ele muda com o tempo e com os filhos. Por isso, os pais precisam atualizar seu modo de sentir e amar. Para a psicóloga Elizabeth Monteiro, autora do livro Criando Adolescentes em Tempos Difíceis (Summus Editorial, 176 pág., R$ 39,10), no mundo de hoje, é preciso proteger os adolescentes e oferecer-lhes oportunidades de independência. Leia trechos da entrevista com a autora:

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Meu Filho – Como os pais podem se adequar à época em que os filhos adolescentes estão vivendo?

Elizabeth Monteiro – Os pais precisam assistir à programação de TV que os filhos assistem, conversar com os amigos e pais dos amigos dos filhos, conhecer os professores, conhecer os lugares que os filhos frequentam e ler, ler muito tudo o que estiver ao alcance deles.

Meu Filho – Como ajudar os adolescentes a evitar ameaças do mundo contemporâneo sem ser superprotetor?

Elizabeth – Todo tipo de ajuda é um processo que deve se iniciar na infância, mas vale a pena lembrar que sempre é tempo de começar ou recomeçar este processo. Toda e qualquer aprendizagem começa na família, que é uma comunidade. Vivendo as experiências familiares de medo, frustração, insegurança, confiança ou desconfiança é que ajudaremos nossos filhos a enfrentar o mundo lá fora. Não adianta superprotegê-lo, impedindo-o de se colocar em risco, mas o que devemos fazer é prepará-lo para enfrentar as situações de risco. Por exemplo, não adianta você impedi-lo de sair sozinho, por medo e de assaltos. O que você precisa fazer é ensiná-lo como agir se estiver frente a um assaltante. Hoje em dia, não basta dizer para que não se drogue. É preciso lhe dar um bom modelo. Se você fuma, bebe ou usa os seus remedinhos para sentir-se bem, está mostrando a este filho que você também se droga.

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Meu Filho – Quais os principais defeitos dos pais hoje?

Elizabeth – Os pais estão “terceirizando” os filhos: delegando para a escola a função de educá-los, para os avós ou funcionários a função de cuidar, e a nós, psicoterapeutas, a função de resolver as suas dificuldades. Penso que os pais não sabem mais quais são os seus papéis e as suas funções: cabe aos pais educar e dar bons exemplos, porque é assim que se educa.

Meu Filho – Quais os principais desafios dos pais na educação dos adolescentes?

Elizabeth – Creio que é saber ouvir. Os adolescentes se queixam de não serem ouvidos e entendidos. É preciso saber que eles não precisam que os pais concordem com tudo. Eles precisam saber que foram ouvidos e entendidos em sua lógica de pensar, mesmo que o adulto pense de outra forma.

Meu Filho – A relação das mães com os filhos podem contribuir com os desvios de comportamento dos adolescentes?

Elizabeth – Absolutamente. Os adolescentes passam por várias mudanças hormonais e na estruturação cerebral. Além disso, são frutos de pai e mãe, ambiente que os cerca e carregam também uma certa carga hereditária. As mães levam a culpa porque são aquelas que acabam ficando com a mais dura função.

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Meu Filho – Como incentivar a autonomia dos filhos sem fazer com que eles encontrem caminhos inadequados?

Elizabeth – A autoestima é a principal responsável pelas boas escolhas. Filhos criados com respeito, aceitação e admiração têm a autoestima elevada e dificilmente irão escolher um caminho que lhes seja prejudicial.