Uma mulher de chapéu e óculos escuros sai de uma loja e ameaça entrar no carro. Antes abre a porta e os vidros do carro, liga o ar-condicionado. No banco, uma toalha tenta suavizar o calor no contato com a pele. A 100 metros dali, a mãe Sidonia e a filha Beatriz caminham pela Rua XV de Novembro com três protetores para painéis de carros recém-comprados.
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Nas sacolas plásticas, filtros solares e sombrinha. Quem caminha pela rua parece participar de um jogo em que só vale andar debaixo das marquises. Nas lojas, o ar-condicionado ganha status de semidivindade para quem entra com a sensação de estar cozinhando no meio do sol e dos pavers.
Em um ponto de ônibus da Avenida Beira-Rio, Maristela e José Odir esperam um ônibus para a Itoupava Central com dois ventiladores na caixa. São os dois mais novos reforços para a outra dupla de ventiladores que não vinha dando conta de afastar o calor dos últimos dias em Blumenau.
Perto dali, a sorveteria desponta como um oásis na árida Rua XV, e vende feito água. Mesmo assim, atrás do balcão e faturando mais, até Flávio desejava que o calor fosse um pouco menor, para que mais gente estivesse na rua.
Essas foram algumas das cenas da quinta-feira em que Blumenau teve a máxima de 41,6 ºC. A temperatura registrada às 15h30 foi mais alta já alcançada desde a criação do sistema Alertablu, em 2014.
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Até então, o recorde havia sido registrado em 27 de dezembro de 2016, quando os termômetros marcaram 41,3 ºC.
A maior sensação térmica, também segundo o Alertablu, foi de 46,1 ºC, às 16h.
Para quem precisava trabalhar, o calor castigou ainda mais. Se carregar meios-fios de 90 quilos de concreto já não é algo fácil, fazer isso embaixo de um sol de mais de 40 graus é missão para poucos.
O mestre de Obras José Carlos da Rosa e os funcionários Paulo Neves, 36 anos, e Daniel Costa da Rosa, 19, são três trabalhadores que matavam no peito esse desafio na tarde desta quinta. Mangas longas, calças e chapéus para evitar contato com o sol. Paulo é de Manaus e minimiza o calor de Blumenau, diz que aqui pelo menos “é só nesta época do ano”.
– A gente para, toma uma água e continua. Aos poucos acostuma, a gente chega em casa à noite e nem sente – conta o colega de trabalho Daniel.
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O lado bom do dia quente nos recantos naturais da Nova Rússia
Como nem só de trabalho vive o homem, ainda mais nos últimos dias de férias coletivas da maioria das empresas, muita gente desfrutou do lado bom da quinta-feira de calor extremo em Blumenau: os recantos naturais da região da Nova Rússia, no bairro Progresso, em Blumenau.
Nas curvas do rio às margens da Rua Santa Maria, famílias inteiras se refrescavam com a companhia dos amigos e desfrutavam da tranquilidade do lugar com caixas térmicas com bebidas e outros reforços que visitantes mais planejados conseguiram lembrar. Em apenas um dos recantos instalados no local, o Paraíso do Miguel, onde os visitantes pagam R$ 8 para usar a estrutura do espaço, o proprietário Luiz Juvenal Leite, 57 anos, explica o que leva tanta gente ao local.
– Muita gente fica ali na “hidro” (uma queda d’água que de fato parece massagear os banhistas), outros preferem ficar nas pedras ou mergulhar naquela outra ponta. Aqui as pessoas entram mais em contato com a natureza, preferem o sossego de poder vir aqui, aproveitar o dia em um lugar calmo e voltar para casa ao fim do dia – explica Luiz.
Ele estima que mais de 300 pessoas passaram pelo local na tarde de calor desta quinta. Visitantes como André Jorge Pereira e Ana Paula Gieland. O casal mora no bairro Jordão, a poucos quilômetros do local, e troca de olhos fechados a praia por um dia de descanso nas águas da Nova Rússia.
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A relação com o local é tanta que Ana Paula fez o ensaio de grávida tendo as belezas naturais do local como paisagem. Nesta quinta, os dois levaram o pequeno Pedro Eduardo, já com 2 anos, para transformar o dia de calor intenso em uma tarde de diversão.
– A gente foge um pouco da muvuca, da BR, do trânsito, o lugar é mais tranquilo, a água é mais limpa. Não é tão quente, tem comida e bebida se você quiser comprar. É sempre nossa primeira opção de verão – conta Ana Paula.
Calor continua, mas temperatura diminui nesta sexta-feira
O temporal que era previsto para o fim da tarde na cidade acabou se afastando da região e o dia terminou mesmo com calor. Para esta sexta-feira, a meteorologista do sistema Alertablu Taciana Weber explica que, devido a tempo instável e nebulosidade e à influência de sistemas de baixa pressão, a temperatura deve ser menor do que foi nesta quinta, com a máxima na casa dos 34 ºC. No fim de semana, essa diminuição deve se acentuar mais e levar os termômetros para a casa dos 30 ºC.