Produtores de leite de Santa Catarina alertam para uma crise na cadeia do produto no Estado. O motivo seria um aumento na importação de leite e derivados lácteos registrado desde o início do ano, em especial de países do Mercosul, como Argentina e Uruguai.

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O custo menor de produção do leite nestes países e a valorização do real frente ao dólar nos últimos meses teriam incentivado supermercados catarinenses e brasileiros a comprarem produtos lácteos diretamente de fabricantes argentinos e uruguaios. Segundo dados da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), as importações desses produtos no país cresceram 212% entre janeiro e junho, em relação aos primeiros cinco meses de 2022. O volume de leite importado pelo país já teria somado 850 milhões de litros, quantidade que no ano passado foi atingida só em setembro.

Um dos resultados disso, segundo o vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), Enori Barbieri, tem sido a perda de competitividade das indústrias de leite de SC.

— Como esse leite é produzido mais barato lá e está vindo mais barato para cá, ele começou a tirar lugar de leite brasileiro. Isso está desestimulando os produtores. Empresas de laticínios que operam em Santa Catarina, que é o quarto maior produtor nacional, não conseguem mais competir com essas importações — afirmou.

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Outra consequência tem sido a redução no preço pago pelas indústrias locais aos produtores, adotada para tentar fazer frente aos produtos internacionais. Segundo Barbieri, o valor médio pago por litro, que girava entre R$ 2,60 a R$ 2,80, já teria caído R$ 0,30 (mais de 10%), mas o corte ainda tem sido insuficiente para garantir competitividade.

Segundo o dirigente da Faesc, o quadro vem desestimulando mais famílias a deixarem a atividade de produção de leite, ameaçando a continuidade do setor e até mesmo o trabalho no campo.

O segmento de leite já havia contabilizado o abandono de produtoras no período da pandemia, e agora teme uma evasão maior, passando de pouco menos de 30 mil para 20 mil famílias. Segundo Barbieri, o cenário atual estaria “expulsando” as famílias do campo e retirando um “cheque do mês”, que era a remuneração do leite para a agricultura familiar.

Entidade defende cota para importação

O vice-presidente da Faesc alega que o aumento teria sido influenciado também pela falta de uma cota de importação desse produto. Para o dirigente, o alinhamento diplomático de Brasil e Argentina, com objetivos como favorecer a exportação de produtos brasileiros com mercado entre os argentinos, como itens de linha branca, teria contribuído com o aumento de importações de leite de outros países.

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— Ninguém é contra que se importe, mas de uma maneira que não desequilibre sua produção interna. Todo mundo protege seu mercado. Quando tem muita importação, ou você abandona seus produtores, ou você controla — defende o dirigente.

Além da regulação das importações, a entidade defende também políticas de apoio aos produtores com medidas como redução de tributação, empréstimos e outros incentivos. A pauta já foi apresentada pela Faesc em reunião da CNA e outras entidades do setor produtivo com o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira.

Na semana passada, em entrevista coletiva, o ministro reconheceu que a escalada de importações de leite no país tem atrapalhado a manutenção da atividade de produtos do país e disse que vai solicitar à Câmara de Comércio Exterior (Camex) uma investigação sobre o aumento.

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