As reviravoltas entre os pré-candidatos à presidência Sergio Moro (União Brasil) e João Doria (PSDB) registradas nesta quinta-feira (31) movimentam também a política de Santa Catarina. As mudanças ocorrem na reta final do prazo para troca de partidos e renúncias a quem deseja concorrer nas eleições 2022.
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Gean Loureiro ganha companhia de Moro

O União Brasil, partido ao qual Moro se filiou nesta quinta ao deixar o Podemos, tem o agora ex-prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro, como pré-candidato ao governo de Santa Catarina. Gean renunciou à prefeitura da Capital na noite desta quinta para poder concorrer em outubro.
A chegada de Moro ao partido de Gean pode ter poucos reflexos sobre o projeto do ex-prefeito da Capital. Especialmente se Moro cumprir o objetivo de não concorrer a presidente, como anunciou em nota nesta quinta. Por ora, o ex-ministro é agora apontado como candidato a deputado federal no novo partido. Dessa forma, teria pouca influência sobre a imagem da eventual candidatura de Gean ao governo de SC. Caso insista em concorrer à presidência, no entanto, Moro acabaria tendo o nome vinculado ao projeto de Gean agora que são companheiros de partido.
De qualquer forma, Gean segue evitando aproximação entre pré-candidatos a presidente. A assessoria dele chegou a informar nesta quinta que ele “nem estava sabendo” da entrada de Moro ao partido que ele integra e afirmou que “o foco dele é aqui”, em referência a Santa Catarina.
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A mudança de casa por Sergio Moro encontra resistência de parte do União Brasil. O deputado federal catarinense Fábio Schiochet, que presidia o PSL e hoje é 1º vice-presidente do União Brasil no Estado, não escondeu a insatisfação com a decisão do ex-ministro da Justiça.
— Se Moro quiser vir para ser candidato a deputado federal em São Paulo, tudo certo. Agora, ele como candidato a presidente, acho péssima a ideia de ele vir — pontuou.
Schiochet diz que já declarou apoio à reeleição do presidente Jair Bolsonaro e que, até a chegada de Moro, a tendência no partido era de neutralidade, permitindo aos integrantes que quisessem apoiar diferentes candidaturas a presidente. Na avaliação dele, Moro não conseguiria se viabilizar como candidato.
— Não decola, a terceira via não vai decolar. Então a gente vai pegar tempo de TV, toda uma estrutura, para uma eleição natimorta? Não vai chegar. A eleição está polarizada —analisou Schiochet.
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Distanciamento entre Moro e Moisés

A mudança de partido de Sergio Moro modifica também o cenário para a candidatura à reeleição do atual governador Carlos Moisés (Republicanos). O Podemos, legenda da qual o ex-ministro se desfiliou nesta quinta, fez um evento na quarta-feira para selar o apoio à reeleição de Moisés em SC. A deputada Paulinha, que chegou a ser líder de Moisés na Assembleia Legislativa, também se filiou ao partido.
Nos bastidores, a informação foi de que apesar de receber o apoio do Podemos, Moisés não faria campanha para Moro. Isso porque o novo partido do governador, o Republicanos, vai apoiar a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). Ainda assim, a presença de Moro como candidato a presidente pelo Podemos poderia estimular alguma divisão interna entre os apoiadores da candidatura de Moisés.
Moisés já fez acenos simpáticos a Moro em outras ocasiões. Lamentou a saída dele do Ministério da Justiça em abril de 2020, em meio a um embate com Bolsonaro, dizendo que na época “os brasileiros perdiam” e que o trabalho do ex-juiz “sempre foi correto e ético”. Após a saída, chegou a convidar o ex-ministro para ocupar um cargo no governo de SC. Com Moro fora do Podemos, no entanto, qualquer relação dele com a candidatura de Moisés deve sair de cena.
O presidente do Republicanos em SC, deputado Sérgio Motta, afirma que o partido vai seguir o que a direção nacional definir, que deverá ser o apoio a Bolsonaro. Isso inclui o apoio do governador à reeleição de Bolsonaro, apesar de falas de Moisés que causaram um distanciamento dele para o presidente na primeira metade do mandato.
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Como outro pré-candidato a governador, Jorginho Mello (PL), também deve explorar a proximidade com o presidente Bolsonaro na campanha, o comando do Republicanos de SC cogita que o presidente deve se manter neutro no primeiro turno no Estado.
PSDB de Doria não deve ter Lummertz em SC

O PSDB de Santa Catarina ainda recalcula a rota depois de ver frustrada a possível aliança com PSD e PP, que teria João Rodrigues como candidato a governador, Clésio Salvaro a vice e o empresário Luciano Hang na disputa pelo Senado. Com a recusa do prefeito de Criciúma, o partido deu um passo atrás e voltou ao cenário em que apresenta como pré-candidatos o empresário Vinícius Lummertz e outros três nomes tradicionais do partido: Leonel Pavan, Paulo Bauer e Marcos Vieira.
Nesse momento, a indefinição desta quinta-feira João Doria sobre deixar ou não o governo de São Paulo para concorrer a presidente interfere pouco. Segundo o presidente do partido em SC, Rogério Pacheco, o momento requer cautela no posicionamento do PSDB.
Com Doria no páreo, a tendência seria o nome de Vinícius Lummertz ganhar força, na medida em que ele é atual secretário de Turismo do presidenciável no governo de São Paulo. No entanto, o tucano confirmou nesta quinta que não vai renunciar ao cargo na gestão paulista para concorrer. Isso porque, na visão dele, o partido não estaria interessado em ter candidatura própria, e sim em compor coligação com outra legenda, como a que foi articulada na semana passada com João Rodrigues e Hang.
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— Como minha visão e coerência é essa [de candidatura própria], então eu abro mão. Não posso permanecer em banho-maria, enquanto o partido negocia de manhã e de tarde com lados diferentes da política. Para isso, não me inspira sair do governo para ir para situação de pré-candidatura a governador, enquanto se está buscando outras posições — afirmou o ex-ministro do Turismo do governo Temer.
Sem Lummertz, o partido ficaria com os nomes tradicionais da legenda como Leonel Pavan e Paulo Bauer como pré-candidatos. Mas a direção do partido admite abertamente a possibilidade de compor com um lugar de vice, por exemplo, como a que ocuparia na aliança frustrada com João Rodrigues. Os tucanos atualmente só têm um distanciamento maior de PT e PL. Há conversas com outras frentes, como MDB, PP, União Brasil e agora o Republicanos de Carlos Moisés.
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