A mãe comunica à família que agora, aos 40 anos, vai começar a trabalhar – ou seja, vai ter um emprego para além das tarefas domésticas. O espanto toma conta da casa. Filhos e marido se perguntam o porquê dessa decisão; eles pensam que encarar o mercado de trabalho nessa altura é maluquice. Afinal, não será fácil competir com jovens recém-formados e cheios de energia. Porém, mulheres nessa faixa etária ainda têm muito a oferecer às empresas e mostram que não existe idade para recomeçar.

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A fase de crescimento econômico que o país atravessa favorece a ascensão desse tipo de trabalhadora. Os dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho e Emprego, mostram que houve um aumento de 4,19% na geração de empregos formais na faixa de 40 a 49 anos, entre 2008 e 2009. No DF, estima-se que 481 mil mulheres com 40 anos ocupem postos remunerados, informa o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

A psicóloga Sabrina Ferroli entende que o empenho dessas mulheres em retornar ao batente nessa fase da vida é fruto de autoconhecimento e clareza de objetivos.

– Elas são de uma geração que abriu mão da vida profissional e da carreira para cuidar da família – explica. – Fazer 40 anos é um momento de repensar um pouco a identidade. Simbolicamente, essa idade representa a chegada da maturidade, qualidade muito bem-vista no mercado de trabalho – enfatiza.

A especialista em recursos humanos Carmem Cavalcanti reforça essa percepção.

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– Aos 40, nós somos mais organizadas, temos maior comprometimento, maior responsabilidade, maior estabilidade emocional e familiar – enumera.

Segundo Carmem, as empresas buscam esse perfil como contraponto ao arrojo e à impulsividade dos mais jovens.

Currículo reciclado

O aumento da expectativa de vida da brasileira, que hoje está em 77 anos, também contribui para a entrada tardia no mercado de trabalho. Afinal, os 40 representam a meia-idade, momento em que ainda é possível uma reviravolta. Esse foi o caso da técnica em edificações Maria Aparecida Barbosa Alves, 44, cujo primeiro emprego foi conquistado há menos de um ano.

Equipada com botas e capacete, a orgulhosa contratada coordena um equipe de jovens em um dos ambientes mais masculinos do mundo: uma obra. Com ares de mãe, ela se refere aos auxiliares como “meus meninos”. Cida, como é conhecida, conta que foi justamente o jeitão família que adiou o início da vida profissional.

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– Sempre tive vontade de trabalhar, mas preferi criar minhas filhas, ensinar valores para elas. Acredito que consolidei a família e, agora, é hora de investir na carreira. Tudo no tempo certo – explica.

Cida seguiu à risca uma das principais dicas dos especialistas: atualizou-se antes de se candidatar a uma vaga. Ano passado, começou um curso técnico no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e, por meio dele, conseguiu o tão desejado emprego. Sabrina Ferroli diz que, antes de entregar currículo, é preciso investir na carreira.

– Para voltar ao mercado, a mulher deve suprir as falhas na formação. Cursos de línguas, de informática ou uma pós-graduação podem ser decisivos.

Para Carmem Cavalcanti, a briga é dura, mas vale a pena.

– Não tem como fugir de cursos de formação, tanto os acadêmicos quanto os profissionais. O mercado é exigente – reconhece.

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A reciclagem é fundamental, principalmente se a postulante a uma vaga estiver parada há muito tempo. Cida, por exemplo, optou por refazer o curso técnico que havia começado há 24 anos.

– Não vou mentir. Eu tive que prestar muita atenção. Uma coisa ou outra eu sabia, mas a maior parte mudou – conta.

Administração de pessoas

As especialistas em recursos humanos ouvidas pela reportagem foram unânimes em afirmar que as mulheres com mais de 40 anos têm um perfil desejado pelas empresas. Uma característica muito requisitada atualmente é a habilidade relacional. Em outras palavras, os empregadores procuram pessoas capazes de se relacionar bem com colegas e chefes, que tornem o ambiente de trabalho o mais agradável possível.

Carmem Cavalcanti entende que a mulher de 40 anos contemporânea é mais ativa, saudável e preparada, mas mantém a habilidade de gerenciar conflitos.

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– A experiência é decisiva, essas mulheres administraram brigas de filhas, problemas com marido, disputas familiares durante toda a vida. Elas sabem lidar com pessoas.

Apesar da importância da maturidade e da experiência, Sabrina Ferroli ressalta que essas não podem ser as tábuas de salvação.

– Essas características são diferenciais, mas não podem ser o principal. O importante é mostrar que você atende os resquisitos desejados pela empresa e que é compentente.

Por essa razão, é interessante pesquisar quais são os critérios avaliados pelas empreseas. Perder um tempo triando entre as oportunidades que se encaixam no seu perfil pode ser a garantia de sucesso.

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– É preciso planejar cada passo para encontrar o melhor caminho – atesta Cavalcanti.

Dicas para entrar no mercado depois dos 40

:: Faça um bom currículo

:: Invista em cursos de reciclagem

:: Acredite que você ainda é capaz

:: Estudo nunca é demais

:: Descubra quais empresas contratam pessoas mais velhas

:: Não minta jamais

:: Fale de forma segura

:: Demonstre vontade de aprender

:: Realize várias entrevistas e sempre peça um retorno

:: Aprenda novas línguas

Fonte: Rhaiz Soluções em RH