Durante 45 dias os blumenauenses estiveram divididos entre os afazeres diários e as aparições de cinco candidatos a prefeito e 194 concorrentes a vereador em busca de um voto. Desde ontem, porém, o foco passou a ser um só: a disputa pelo Executivo. Por mais quatro semanas, Jean Kuhlmann (PSD) e Napoleão Bernardes (PSDB) serão o centro das atenções. O tempo extra pode ser aproveitado para conhecer o máximo possível dos concorrentes e identificar qual deles tem mais proximidade com o que o eleitor quer para a cidade.
Continua depois da publicidade
Não se deixar levar pela carga emocional das campanhas é uma forma de alcançar um voto mais racional. Para o professor da Furb e doutor em Ciências Sociais Marcos Antônio Mattedi, ambientes como as redes sociais costumam repercutir muito os traços passionais das candidaturas. Acompanhar as eleições com algum distanciamento seria uma forma de interpretar melhor o que cada candidato propõe antes de tomar decisões.
Manter essa relação de independência pode ajudar também a comparar melhor as propostas, que tendem a ser mais aprofundadas com o tempo igual de televisão e o cenário de apenas duas candidaturas. Nesse sentido, é fundamental observar quais ideias têm reais condições de realização, questionando a viabilidade estrutural, legal e financeira das propostas.
– Os dois candidatos estão no campo da centro-direita, então não vai ser uma diferença ideológica que vai ser decisiva para o eleitor, e sim essa análise do que vai ser proposto, de quais são as condições, de onde viriam os recursos para realizar o que se propõe – avalia Mattedi.
A semelhança entre os programas dos partidos e o descontentamento com a falta de diferenças ideológicas entre a maioria das legendas faz com que, para o sociólogo e professor da Furb, Luciano Florit, o eleitor aproveite o tempo do segundo turno para cogitar também um voto nulo ou branco.
Continua depois da publicidade
– O sistema oferece essa opção, então no menu ele tem que colocar essa também. Vou pesquisar esse candidato e esse partido, mas vou refletir também sobre o que significa legitimar esse processo que está aí, com essa classe política. E se eu não quero legitimá-lo então eu voto branco ou nulo. Essa é uma opção legítima do eleitor – defende Florit.
Monitoramento de perto
Quando um eleitor já tem preferência por algum candidato, é natural que observe as propostas dos demais com um olhar mais crítico. Para o cientista político e professor da Univali Fernando Fernandez, despir-se dessa desconfiança pode ser importante para comparar os dois candidatos. Outro aspecto é observar como serão feitos os acordos com os partidos que ficaram de fora do segundo turno. Embora façam parte do jogo, é importante que façam sentido e tenham pontos em comum para um futuro governo.
Outra sugestão é acompanhar de perto os candidatos, de preferência pessoalmente, visitando ao menos uma reunião ou comício. Assim o eleitor pode sentir melhor se pode confiar no que o candidato diz e como ele se comporta no dia a dia.
Napoleão Bernardes (PSDB) em primeiro lugar, Jean Kuhlmann (PSD) em segundo. A segunda eleição da história de Blumenau decidida no segundo turno tem os mesmos personagens, mas as semelhanças param aí. Uma diferença fundamental está na posição de cada concorrente. Em 2012, embora tivesse feito parte da base do governo João Paulo Kleinübing (PSD), Napoleão era vereador e representava uma novidade para a maior parte do eleitorado blumenauense, enquanto Kuhlmann tentava emplacar um projeto de continuidade.
Continua depois da publicidade
Neste ano, o atual prefeito almeja um segundo mandato com uma campanha muito focada em obras feitas nesses quatro anos, enquanto Kuhlmann assume um papel mais claro de oposição.
Para o professor da Furb e doutor em Ciências Sociais Marcos Antônio Mattedi, o cenário deve contribuir com uma campanha mais agressiva neste segundo turno, com críticas mais contundentes. Outra diferença pode estar no debate de propostas. Enquanto em 2012 o grande assunto era a ponte do centro e os traçados diferentes defendidos por Bernardes e Kuhlmann, neste ano a aposta é em um debate sobre qual dos dois tem mais capacidade de realização de obras.
– O segundo turno é bom porque a representatividade é maior, permite que o candidato escolhido de fato seja escolhido pela maioria dos eleitores. Acredito em um altíssimo nível de propostas críveis, aceitáveis e muita troca de ideias, o que é positivo para Blumenau – analisa Fernando Fernandez.
Fique atento
– Não se deixe capturar pelo apelo emocional despertado por candidatos ou redes sociais
– Avalie se as propostas apresentadas têm condições de realização
– Ouça abertamente as propostas dos dois candidatos sem se fechar por uma preferência prévia
– Fique atento à forma com que serão feitos os acordos com quem não foi ao segun do turno
– Visite comícios e reuniões dos dois candidatos para avaliá-los de perto
Como será o segundo turno
A campanha de segundo turno está permitida desde as 17h de ontem e segue até as 22h do dia 29 de outubro. A votação ocorre no dia 30, último domingo do mês.
Continua depois da publicidade
No rádio e na televisão, o horário eleitoral ainda não tem data definida para recomeçar. A legislação prevê dois blocos diários de 20 minutos, divididos igualitariamente entre os candidatos.
Em uma reunião hoje, porém, uma proposta de redução do tempo deve ser apresentada pelos advogados das coligações à Justiça Eleitoral. A data de reinício do horário eleitoral, que deve ser entre os dias 5 e 15, também deve ser confirmada nesta reunião.
O último dia de propaganda na TV é 28 de outubro.
As restrições para eleitores e candidatos durante o período eleitoral são as mesmas do primeiro turno.
Opinião
Disputa equilibra o jogo para ambos os lados
Por Clóvis Reis, colunista do Santa
O segundo turno dá uma espécie de nivelada na eleição. Por um lado, assegura mais tempo de propaganda eleitoral para a oposição. Por outro, reduz a um o número de adversários da situação. Ambas as circunstâncias afetam a correlação de forças da campanha, razão por que o complemento da rodada em certa medida traz benefícios para ambos os lados.
Continua depois da publicidade
Numa campanha que limitou a arrecadação de fundos e criminalizou o marketing e a propaganda, o horário eleitoral joga um papel estratégico para a apresentação dos candidatos. A garantia do mesmo tempo de rádio e televisão para os dois concorrentes melhora as condições de trabalho da oposição e facilita a comparação entre as plataformas de governo.
Por sua vez, a polarização da disputa diminui o número de ataques à situação. Na primeira fase do processo eleitoral, havia um revezamento de críticas ao governo. O jogo combinado entre os adversários constrangia a participação do candidato à reeleição, risco minimizado daqui para frente. Em vez de passar boa parte do tempo se contrapondo às investidas da oposição, o prefeito pode explicar mais detidamente quais são os planos para o segundo mandato.
Em ambos os casos, ganha o eleitor, porque a linha de discussão delineada no primeiro turno foi insuficiente para uma comparação entre os candidatos. A prova disso é a necessidade da nova rodada. A redução do debate a três ou quatro pontos de pauta (creche, posto de saúde e ônibus) enfrenta poucas questões que desafiam o desenvolvimento de Blumenau. Nesse sentido, o segundo tempo da eleição amplia as possibilidades dos candidatos apresentarem e defenderem o seu projeto de futuro para o município.