Para alguns a felicidade é aquela caminhada incessante na esteira que nunca para de rolar, causando angústia, cansaço, desânimo e insatisfação. Torna-se doença. É tudo que se quer na vida, mas ao mesmo tempo não se sabe exatamente o que é. E você, sabe o que é felicidade? Dona Zenaide sabe.

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Moradora do Pântano do Sul, em Florianópolis, é referência na comunidade e constrói a própria felicidade no dia a dia. Aos 77 anos, já passou por muitas dificuldades. Perdeu filho, o bar dela foi totalmente destruído por um incêndio, cuidou de oito filhos sozinha. Mas a alegria dela é própria, vem de dentro, não depende do meio externo. É genuína e peculiar.

E a peculiaridade corrobora com a definição: a felicidade é, antes de tudo, um estado subjetivo. Cada um tem uma definição para si. Se você perguntar a 500 pessoas o que é felicidade, você vai ter 500 respostas diferentes. E isso não é por acaso. A felicidade é a soma de nossas experiências: pequenos prazeres materiais, prazeres momentâneos causados por experiências com o prazer de sentir-se de bem com a vida, ter um propósito. Estudos científicos comprovam que a felicidade nos torna pessoas mais saudáveis e produtivas. 

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Em tempos de se viver na correria, de redes sociais onde todos se comparam e poucos mostram os estados emocionais verdadeiros, e na entrada de um novo ano – onde há vários ressignificados –, fica o convite para pensar na felicidade e atuar para que ela seja nossa parceira. Especialistas indicam que isso nos garante um prazer inigualável em estar vivos, além de contribuir para a saúde e longevidade.

Uma comunidade feliz gera mais soluções que problemas. Apesar de no Brasil, os estudos sobre a felicidade serem relativamente novos, no mundo a preocupação com a felicidade vem de longe. Em 16 de junho de 1776, a Declaração de Direitos da Virgínia, nos Estados Unidos, marcou a transformação da felicidade em direito humano fundamental. A declaração do “bom povo da Virgínia”, no artigo “I” diz:

– Todos os homens são, por natureza, igualmente livres e independentes, e têm certos direitos inatos, dos quais, quando entram em estado de sociedade, não podem por qualquer acordo privar ou despojar seus pósteros e que são: o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e de possuir a propriedade e de buscar e obter felicidade e segurança.

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A Declaração de Direitos da Virgínia acabou contribuindo para que o tema felicidade como um direito humano passasse a integrar a Constituição norte-americana. A felicidade ainda é citada na Constituição de outros países, como França, Japão e Coreia do Sul. No Butão, país localizado no Sul da Ásia, a felicidade não só é direito como contribuiu para o surgimento de uma nova forma de medir o crescimento do país. 

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O artigo 9 da Constituição do Reino do Butão, obriga o cumprimento do Índice Nacional de Felicidade Bruta (INFB), que mede a qualidade de vida das pessoas levando em consideração o bem-estar, educação e cultura. No Brasil, algumas tentativas de transformar a felicidade em direito humano fracassaram, mas o tema continua na pauta de poucos políticos.

PIB dá lugar ao FIB

 Baseados em estudos, alguns países mudaram a forma de calcular o índice de desenvolvimento. Hoje o desenvolvimento da maioria dos países é medido pelo Produto Interno Bruto (PIB). O PIB mede a riqueza produzida pelo país em um determinado período. Também temos o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que analisa a desigualdade de renda e social e a qualidade de vida.

No Butão, país do Sul da Ásia, surgiu a Felicidade Interna Bruta (FIB). O Butão, como já vimos nas páginas 6 e 7, reconheceu na Constituição a importância da felicidade e por isso acabou desenvolvendo a FIB. O índice se baseia em qualidade de vida: bem-estar psicológico, saúde, uso do tempo, vitalidade comunitária, educação, cultura, meio ambiente, governança e padrão de vida. Países como Austrália, Butão, Reino Unido, Tailândia e Canadá já adotaram a FIB. 

Esse novo índice deixa claro que somente o acúmulo de riquezas materiais e econômicas não devem determinar o crescimento de um país. Ser um país desenvolvido não se resume apenas ao indicador econômico, mas sim e, principalmente, à qualidade de vida dos habitantes. Um povo feliz gera crescimento muito mais completo. 

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Felicidade pode ser construída?

Trazendo tudo isso para o nosso mundo particular é importante que se desmistifique a máxima de que felicidade é uma característica genética, ou que dependa da riqueza de bens materiais. Não é. Por ser subjetiva, a felicidade é difícil de ser ensinada, mas pode ser aprendida. Não é algo que possa ser passado de um para o outro.

> A felicidade na essência

A professora de psicologia da Universidade da Califórnia-Riverside, Sonja Lyubomirsky, desenvolveu estudos e comprovou: a genética é responsável por 50% da variação dos nossos níveis de felicidade. Os outros 50% são divididos da seguinte forma: 10% por questões circunstanciais, ou seja, renda, escolaridade, ambiente onde vivemos. E os outros 40% são determinados por nossas atitudes e pensamentos. É justamente aí que podemos atuar para a construção de nossa felicidade.

Estudos de Tal Ben-Shahar (1970), doutor em psicologia e filosofia na Universidade de Harvard, afirmam que a nossa felicidade é o resultado de cinco aspectos: bem-estar físico, emocional, relacional, espiritual e intelectual. O bem-estar físico é a combinação de um sono de qualidade, alimentação e atividade física. O bem-estar emocional é conseguir externar nossas emoções. É aquela permissão para nós sermos “seres-humanos” com erros e acertos e nos permitir sentir e vivenciar os momentos sem que precisemos esconder nossas emoções.

Já o bem-estar relacional é ter bons relacionamentos, ter amizades positivas, relacionamentos sinceros e que nos fazem bem. O bem-estar espiritual é viver uma vida com sentido. O que realmente importa para mim? Qual meu propósito? O bem-estar intelectual não está ligado a ser culto ou ter muito conhecimento sobre várias áreas, mas sim, como uso meu intelecto para admirar a beleza, para fazer escolhas conscientes.

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Entenda como o nosso organismo trabalha a felicidade

O exemplo da dona Zenaide

Dona Zenaide, proprietária de um restaurante na beira da praia do Pântano Sul, atribui a felicidade à conexão com a natureza. 

– A coisa é simples: é só tu viver com a natureza, acompanhar ela, estar perto dela o tempo todo – explica.

Ela teria muitos motivos para sucumbir à tristeza. Não se formou em nenhuma faculdade a não ser a faculdade da vida. Decidiu se separar do marido em uma época em que poucas mulheres tomavam esta atitude, ainda mais com oito filhos para criar. Para dar conta das despesas, começou a vender pastel em uma barraquinha na praia. Muitos anos depois a barraquinha se transformou em um restaurante.

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Moradora do Pântano do Sul, em Florianópolis, Dona Zenaide é referência na comunidade e constrói a própria felicidade no dia a dia (Foto: Tiago Ghizoni)

Em janeiro de 2017, início da temporada de verão, o estabelecimento pegou fogo e ficou totalmente destruído. O restaurante era a única fonte de renda de Zenaide que, na época, além dos filhos tinha também 11 netos. No dia do incêndio, ela não quis ver as ruínas. Um tempo depois retomou o fôlego e abriu um quiosque no terreno do restaurante para vender quitutes.

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As sementes que ela plantou foram tão verdadeiras que uma rede de ajuda foi formada pela comunidade e por clientes do Brasil e do Exterior. Em apenas um ano para o restaurante estava de pé novamente.

– Quando você faz o bem, você recebe de volta o mesmo bem. Tudo o que aconteceu me fortaleceu. Quando o bar pegou fogo, que queimou, teve gente que disse pra mim: “Zenaide tu destes cinco passos para trás”. Mas eu dei é seis passos para a frente, porque vejo muito futebol e quando o jogador tem que cobrar pênalti, ele precisa recuar para ter força no pé e fazer a bola entrar no gol. Se não, a bola não entra, não tem força – pondera Zenaide.

> Felicidade também se aprende

Durante a pandemia ela enfrentou mais um momento muito difícil: perdeu um filho para a Covid-19. 

– Perdi meu filho ainda não faz um ano, com 51 anos de idade. Mas não posso ficar chorando por ele, ele não volta mais e se eu acredito em Deus, nós estamos de passagem. Isso faz parte, é para você ficar ainda mais forte. A gente quando nasce e vai aprender a andar, quantas vezes cai e vai se fortalecendo? É caindo que (a gente) vai se levantando – diz ela.

Dona Zenaide e o inseparável quepe
Dona Zenaide e o inseparável quepe – (Foto: Tiago Ghizoni)
Aos 77 anos, a moradora de Florianópolis passou por muitas dificuldades
Aos 77 anos, a moradora de Florianópolis passou por muitas dificuldades – (Foto: Tiago Ghizoni)
Dona Zenaide perdeu filho, o bar dela foi totalmente destruído por um incêndio, cuidou de oito filhos sozinha, mas a alegria dela é própria
Dona Zenaide perdeu filho, o bar dela foi totalmente destruído por um incêndio, cuidou de oito filhos sozinha, mas a alegria dela é própria – (Foto: Tiago Ghizoni)
A história de Zenaide é a personificação do que a ciência vem comprovando em estudos: a felicidade contagia e ser feliz não é estar sorrindo o tempo todo, é saber lidar com os momentos de tristeza e não negá-los
A história de Zenaide é a personificação do que a ciência vem comprovando em estudos: a felicidade contagia e ser feliz não é estar sorrindo o tempo todo, é saber lidar com os momentos de tristeza e não negá-los – (Foto: Tiago Ghizoni)

O exemplo de Zenaide também serve para mostrar que uma pessoa feliz atrai ainda mais pessoas. É magnético. Ela está sempre com o quepe de marinheira no comando do astral do restaurante, e sempre com uma poesia na ponta da língua. Durante a reportagem, não titubeou em mostrar os versos: 

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– Prá você eu vou falar/ a felicidade está em qualquer lugar/ É só tu se sentir feliz e começa a espalhar/ Quem tá por perto de ti também vai se alegrar – declamou ela.

> A felicidade é amarela

A história de Zenaide é a personificação do que a ciência vem comprovando em estudos: a felicidade contagia e ser feliz não é estar sorrindo o tempo todo, ser feliz é saber lidar com os momentos de tristeza e não negá-los. É aprender com eles, se fortalecer. Em resumo: felicidade é estar de bem com a vida que você leva. E isso Zenaide está muito bem!

*Lígia Gastaldi é pós-graduada em psicologia positiva, ciência do bem-estar e autorrealização

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