A menina tinha seus 13 anos quando a mãe, sem autorização, se apossou de sua agenda. As páginas do caderno colorido escondiam um diário, com anotações e impressões que a garota fazia do seu dia a dia. Página a página, a mãe descobriu as reclamações da filha sobre a família, os amores de escola e as aventuras ao lado das amigas da oitava série do primeiro grau (era 1997). Foi lá pelas páginas do mês de agosto que a mãe teve uma surpresa: relatos detalhados sobre o envolvimento do grupinho com os garotos que fumavam maconha na saída da escola. No diário, a menina contava que não quis experimentar a droga, mas que suas três melhores amigas fumavam com certa frequência. Uma delas, contava o diário, estaria namorando o “traficante” do colégio.
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A mãe e o pai da garota agendaram uma reunião com os pais das colegas. Uma crise sem precedentes na vida e na amizade das quatro jovens. “Odiei meus pais por isso. Eles me tiraram da escola em que eu estudava desde os 2 anos e me matricularam em uma escola católica. Foi o fim do mundo para mim. Isso me afastou muito da minha mãe. Entendo o instinto de proteção, mas com minha filha farei diferente”, acredita a servidora pública Ana (nome fictício), hoje com 28 anos.
Ana diz que não fuxicaria a agenda da filha. Tentaria construir uma relação aberta, em que houvesse liberdade para que o assunto drogas fosse tratado. Ilusão? Para a psicóloga e pedagoga Elizabeth Monteiro, autora do livro Criando adolescentes em tempos difíceis (Ed. Summus), os pais não podem tudo. Eles precisam saber que são o modelo de identidade dos filhos. Pais abusivos, agressivos e invasivos criam filhos com essas características.
“Mentir ensina a mentir. Enganar ensina a enganar. Desconfiar ensina a não confiar. Os pais precisam ser discretos com relação ao que acontece na vida dos filhos. Pedir licença para adentrar ao quarto deles e tocar em certos assuntos. Remexer em suas coisas sem um motivo muito forte? Jamais. Aliás, isso é uma regra básica de educação e de convivência social”, explica a especialista, que lida com jovens há quase 40 anos. O assunto é polêmico e divide opiniões.
Para estar presente na vida do filhos, sem invasão de privacidade:
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– Acompanhe a vida escolar deles.
– Leve-os e busque-os nas festas.
– Receba os amigos deles em casa.
– Mantenha um diálogo franco, no qual eles se sintam ouvidos, mesmo que vocês não concordem.
– Mostre mais atitudes e menos sermão.
– Proponha atividades conjuntas.
– Lembre-se: o poder dos pais sobre os filhos não está na autoridade nem na amizade. Está em uma postura amiga, na qual a firmeza não exclui a delicadeza.