Mais de 1 milhão de mulheres não fizeram exames de rastreio do câncer de mama do Brasil em 2020. A estimativa é do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e traduz em números o que na prática vemos ao nosso redor. Todos conhecemos alguém que está em tratamento contra um câncer de mama ou que viveu recentemente um drama com a doença. Histórias que muitas vezes são vitoriosas e cheias de superação. Já outras são marcadas pela dor.
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O câncer de mama é o segundo que mais atinge mulheres no Brasil, ficando atrás apenas dos tumores de pele. Por ser bastante agressivo quando já está avançado, ele é também o que mais mata. Só em Santa Catarina, em 2019, os tumores de mama representaram 16,6% das mortes de mulheres por câncer. Atrás, estão tumores descobertos no pulmão e no pâncreas.
Como a maioria dos tumores, os de mama, se diagnosticados ainda no início, têm altas chances de cura. Só que a pandemia do coronavírus atrasou muitos diagnósticos. Segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia, mais de 1 milhão de brasileiras não fizeram os exames para diagnosticar o câncer de mama em 2020.
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Estimativas apontam que ano longo deste ano mais de 66 mil mulheres receberão, ou já receberam, diagnóstico da doença no Brasil. Do total, 3,3 mil delas são moradoras de Santa Catarina. Para a mastologista Maira Caleffi, chefe do serviço de mastologia do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, e que desde 2006 coordena uma rede nacional de apoio ao diagnóstico do câncer de mama, a Femama, ao invés de avançar, o Brasil regrediu no diagnóstico e tratamento precoce.
– Nós deveríamos, em 2021, estar falando de novas tecnologias na detecção da doença, exames de tipagem genética dos tumores pelo SUS, mas estamos tendo que falar de rastreamento e de buscar essas mulheres para fazerem os exames anuais. As consequências deste atraso estão aí, estamos encontrando nos consultórios muitos casos avançados da doença – pondera.
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Em julho do ano passado, enquanto o mundo tentava entender o que era a Covid-19, que já causava mortes e fechava fronteiras, o mundo da Simone Pereira dos Santos parou com um diagnóstico. Ela estava com um tumor de 2 centímetros na mama direita, um carcinoma invasivo. A batalha que viria depois do diagnóstico era contra o relógio, para que ela conseguisse fazer o quanto antes a cirurgia de retirada do tumor e iniciar o tratamento com quimioterapia. O diagnóstico que confirmou a doença só veio dois meses depois da mamografia e biópsia.

O caminho percorrido pela moradora de Florianópolis, de 56 anos e com dois filhos, teve muito medo e apreensão, assim como o de outros pacientes que descobriram tumores nos últimos 18 meses. Por causa da pandemia, muitos blocos cirúrgicos estavam fechados. Simone só tinha conseguido agendar cirurgia para o mês de setembro de 2020. E até lá foi fazendo toda a bateria de exames que os médicos exigiram. No meio do caminho, houve uma desistência e a cirurgia acabou acontecendo antes, no dia 28 de agosto do ano passado.
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– Acho que o diagnóstico e a palavra câncer é o que mais assusta. Durante todo o processo, mesmo com a pandemia fiquei focada no meu processo da doença. Tomei todos os cuidados com a Covid-19, minha família também, mas minha saúde era a prioridade. Quando acende a luzinha vermelha você pensa, opa tenho que pensar mais em mim. Você percebe que tem que priorizar a saúde e a vontade de lutar, vencer eu sempre acreditei que daria tudo certo – diz.
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Simone encerrou a quimioterapia, mas segue o tratamento com doses hormonais. Neste último ano, tornou-se voluntária na Associação Brasileira de Portadores de Câncer (Amuuc), entidade que dá apoio a pacientes com câncer e tem sede em Florianópolis. Hoje ela ajuda outras mulheres que receberam diagnóstico de câncer de mama e se permite comemorar os resultados positivos do tratamento. Sabe que tem muita coisa pela frente, mas cada batalha vencida é motivo de festejar a vida.
– O que nos mantém em pé é a vida, levantar todo o dia e agradecer, não tudo o que você tem ou o que você conquistou, mas agradecer por quem você é – conclui.
Importância do diagnóstico precoce
O mastologista do Centro de Pesquisas Oncológicas de Santa Catarina (Cepon), Carlos Gustavo Crippa, reforça a importância do diagnóstico precoce. Ele lembra que para as mulheres com mais de 40 anos ou que tenham casos da doença na família, a mamografia é o principal exame que vai detectar o aparecimento dos tumores, mas que os exames de rastreio do câncer de mama começam ainda nos consultórios ginecológicos, feitos por profissionais.
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– Quanto mais precoce for o diagnóstico, menor será o impacto do tratamento nesta mulher e maiores as chances de cura, chegando a 95% em alguns casos. Em muitos casos podemos até evitar a quimioterapia e usar terapias menos agressivas. Isso é extremamente benéfico para a qualidade de vida desta paciente.
*Colaborou Mariana de Ávila, da NSC TV
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