A galeria de chefes do Executivo de Joinville foi atualizada nesta semana com a foto do primeiro prefeito da cidade, o João Adolpho Haltenhoff. O fato aconteceu mais de 150 anos após o político ter assumido o cargo, já que até então não tinha-se uma imagem do imigrante alemão e seu rosto ficou desconhecido por décadas.

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Alemão, empresário e juiz de paz: quem era o primeiro prefeito de Joinville

A foto, produzida em 1870, é a única de Haltenhoff que se tem registro. Bastante antiga, de acordo com a prefeitura, foi necessária a utilização de inteligência artificial para recuperar as feições desfocadas pela ação do tempo. Na prática, é como se uma mancha tivesse sido tirada da imagem, realçando os traços e os olhos do primeiro prefeito de Joinville.

Agora, a imagem compõe a galeria de ex-prefeitos que fica exposta no hall da prefeitura. O ato, para o poder Executivo, preenche uma lacuna histórica do município.

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Assista como foi feita recuperação da imagem

A história por trás da foto

Na imagem original, João Adolpho Haltenhoff está acompanhado de outros nove moradores da Colônia Dona Francisca. , como Jacob Richlin e Friedrich Jordan. Em entrevista ao A Notícia, o historiador Dilney Cunha contou que a fotografia foi tirada em um bar-restaurante com boliche, no início da atual Avenida Getúlio Vargas. O estabelecimento era de propriedade de Carl Molitor, que também aparece no registro, junto a outras personalidades importantes da cidade, como Jacob Richlin e Friedrich Jordan.

Foto foi retirada do livro
Foto foi retirada do livro “Joinville: Nossos prefeitos” (Foto: Arquivo Histórico de Joinville/Reprodução)

Após a morte da esposa, em 1874 Haltenhoff deixou Joinville e foi morar com uma das filhas e o genro em Paris. No ano seguinte, o alemão morreu. Desde então, mesmo já reconhecido como o primeiro prefeito de Joinville, faltava uma comprovação técnica e informações acerca da fotografia em que ele aparece.

A responsável por entregar a imagem ao Arquivo Histórico de Joinville foi a advogada Roberta Noroschny, de 46 anos, tataraneta do alemão. E foi neste gesto que, novamente, as memórias de Haltenhoff e de seus descendentes fizeram a diferença para a manutenção da história joinvilense.

— A minha avó tinha uma foto em casa em que algumas personalidades contemporâneas de Haltenhoff apareciam. Como era o bisavô dela, ela o reconheceu na foto e pediu para que eu levasse ao prefeito Udo Dohler na época para compor a galeria dos ex-prefeitos — contou Roberta ao AN.

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Roberta e a avó, Jutta, a guardiã da história
Roberta e a avó, Jutta, a guardiã da história (Foto: Roberta Noroschny/Arquivo pessoal)

Sua avó Jutta Hagemann, inclusive, é figura conhecida na cidade e foi intitulada como a “guardiã da história” pelo conhecimento que tem sobre Joinville. Até pouco antes de falecer, em dezembro de 2018, aos 92 anos, a mulher era frequentemente procurada para contribuir com pesquisas e depoimentos.

Segundo Dilney Cunha, para fazer a comprovação da foto, cruzou a imagem com outros documentos do acervo do Arquivo Histórico e registros da Comunidade Evangélica da cidade.

Alemão, empresário e juiz de paz

A história da família  Haltenhoff  e seus descendentes começa a se fundir com a de Joinville em 1851, quando Adolph, a esposa Dorothea Ruhstrat e as três filhas ingressaram na brigue dinamarquesa Gloriosa — a terceira embarcação a velas atulhada de imigrantes —, que tinha como destino a então Colônia Dona Francisca.

Nascido na pequena cidade de Dassel, perto de Hannover, na Alemanha, deixou o país de origem por causa da crise econômica e política e os inúmeros conflitos que assolavam a Europa Central, especialmente os estados alemães.

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Primeira sede da Câmara de Vereadores de Joinville, na Rua do Príncipe
Primeira sede da Câmara de Vereadores de Joinville, na Rua do Príncipe (Foto: Arquivo Histórico de Joinville)

E, desde que pisou na que viria a ser a maior cidade catarinense, Haltenhoff assumiu o papel de liderança comunitária e política, vindo a atuar como subdelegado e juiz de paz, além de empresário no ramo da olaria. Ajudou a fundar diversas associações como a Sociedade Harmonia, a Harmonie Gesellschaft em alemão, que anos depois fundiu-se com a Harmonia Lyra; foi responsável pela criação do clube de tiros de Joinville — o primeiro do Brasil, segundo a historiadora Elly Herkenhoff —; e a formação da comunidade evangélica.

Mas o marco principal de sua vida aconteceu em 1868 quando, em uma eleição que durou dois dias, Haltenhoff foi o vereador mais votado dos sete que concorriam ao pleito e, consequentemente, tornou-se presidente da Câmara Municipal, cargo responsável por também exercer as funções que hoje são de prefeito.

Para concorrer na primeira eleição, o imigrante precisou naturalizar-se como brasileiro, já que, como acontece na atualidade, estrangeiros não podiam se eleger. O mesmo valia para os eleitores. Por isso, à época, mesmo com uma população com pouco mais de 5 mil habitantes — em sua esmagadora maioria de estrangeiros —, apenas 231 pessoas tiveram o poder de escolha.

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