O que leva homens e mulheres a traírem? Existe explicação para o adultério? Expusemos a questão a nossos leitores em uma enquete online. Diante das opções fornecidas, 40% deles admitiram que trairiam, mas somente se descobrissem que foram traídos. Essa é a hipótese do olho por olho. A justificativa do desgaste natural da relação aparece em segundo lugar, com 20% dos votos. Mais atrás vêm os absolutamente leais, responsáveis por 18% das respostas. Por fim, aparecem os 12% de volúveis, que admitem pular a cerca sem qualquer motivo específico – basta ter vontade.

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Há quem arrisque razões biológicas. Um estudo realizado na Grã Bretanha, em 2006, concluiu que algumas pessoas seriam geneticamente programadas para a infidelidade. Após analisar várias irmãs gêmeas, o professor Tim Spector, da Unidade de Pesquisa de Gêmeos do Hospital St. Thomas, concluiu que, se uma delas tivesse um histórico de infidelidade, as chances de a outra também ser infiel seriam de 55%. Mas atenção: não se trata de uma sentença infalível. A bagagem hereditária pode ser moldada por fatores não biológicos, como a cultura.

Outra linha de pesquisa associa fidelidade e inteligência. Publicado este ano na revista especializada Social Psychology Quartely, o levantamento deixou os machos na defensiva. Após analisar atitudes sociais e o QI de milhares de homens adultos e adolescentes, o especialista em psicologia evolutiva Satoshi Kanazawa, da London School of Economics, observou que aqueles que dão importância à monogamia são também os de QI mais alto. Em outros termos: a fidelidade masculina seria parte da evolução da humanidade.

No Brasil, quem investiga o assunto é a antropóloga Mirian Goldenberg. Seus estudos corroboram o velho ditado: “O que os olhos não veem o coração não sente”. Em seu livro mais recente, Por que homens e mulheres traem? (Ed. Bestbolso), ela diz que a traição só ganha status de problema quando vem à tona. No mais, as causas são muito variadas.

– Existem aqueles que se dizem poligâmicos por natureza, outros que consideram da natureza masculina trair. Também existem casos de pessoas que amam e traem porque buscam serem desejadas por outros, buscam aventura, cumplicidade e intimidade, mas estão felizes no casamento – enumera.

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1.279 foi o número de entrevistas realizadas por Mirian Goldenberg em sua pesquisa. Foram ouvidos homens e mulheres entre 18 e 40 anos, com nível universitário e renda familiar acima de R$ 2 mil.

47% das mulheres adúlteras disseram ter traído após a perda da intimidade com o parceiro.

60% dos homens infiéis traíram por se sentirem incompreendidos pela mulher.

O outro lado

Após descobrir um caso de cinco anos entre a melhor amiga e o marido, a advogada Vivian Oliveira imprimiu todos os e-mails que comprovaram a traição e chamou a amiga para sua casa. A conversa, além de trocas de tapas e chutes, foi registrada num vídeo que circulou na internet e repercutiu na mídia.

Online

Segundo a antropóloga Mirian Goldenberg, a internet é um espaço privilegiado para a traição. Nas redes sociais e por e-mail, homens e mulheres compartilham assuntos pessoais.

– As pessoas buscam na internet algo que não têm mais com os parceiros. Esse foi o caso de uma das mulheres que entrevistei. Ela preferia a ilusão de intimidade com o caso que alimentava a distância do que a falta de intimidade com o parceiro com quem era casada.

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Sem reconciliação

Escapadelas famosas

Sandra Bullock e Jesse James

A mídia atribui à maldição do Oscar a separação das últimas atrizes que receberam a estatueta. O mesmo aconteceu com Sandra Bullock. Logo após a premiação, as traições do marido da atriz vieram à tona. Jesse James teve um caso de 11 meses com a modelo Michelle McGee, mas outras confirmaram casos com o então marido da atriz. Apesar do pedido público de desculpas, Sandra Bullock pediu o divórcio.

Elba Ramalho e Gaetano Lopes

Boatos em torno da separação da cantora Elba Ramalho e do empresário Gaetano Lopes davam conta que a paraibana havia sido infiel. Revoltada com as fofocas, ela foi à imprensa dizer que, na verdade, foi ela quem não suportou as sucessivas traições do ex-marido. Questionada se a diferença de idade foi um problema, a cantora rebateu: “Não é questão de idade. É questão de caráter”.

A manutenção da estabilidade

O terapeuta de casais Enrique Maia dá algumas dicas preciosas para o casal evitar uma traição.

Preservar um espaço saudável de individualidade – a cumplicidade precisa estar viva. Você pode compartilhar problemas com um colega de trabalho, mas não substituir essas conversas pelas que você tem com o parceiro ou a parceira: isso é uma brecha para uma possível traição.

Estar atento ao período que dedicam para ficar juntos. Deve-se estabelecer um tempo para vivências positivas, para que o casal viaje ou curta um momento a sós e não apenas fazer tarefas e cumprir obrigações.

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Evitar o distanciamento e a indiferença. Quando se perde a cumplicidade, um desses fatores entra em cena e pode ser uma porta para a relação extraconjugal.

Levar em consideração a vida sexual também como um termômetro. No entanto, cada caso é um caso: há casais que transam uma vez por mês e estão satisfeitos, outros têm uma frequência maior e sentem que a baixa é um indicativo de que algo não vai bem.

Manter um diálogo franco. Isso abre espaço para que as insatisfações sejam ditas e resolvidas pelo casal.

Um conceito particular

Para os rapazes do site Papo de Homem, o conceito de traição deve ser definido pelo casal.

– Tem casais que consideram que se a mulher ficar com outra garota numa balada, isso não caracteriza uma traição. E há casais que consideram pensamentos e fantasias com outros como infidelidade – observa Philipe Kling, 34 anos, autor de textos do site que explicam a infidelidade masculina. Da mesma forma, alguns especialistas acreditam que a exclusividade sexual não mais será considerada prova de infidelidade.

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Para a antropóloga Mirian Goldenberg, no entanto, a traição não depende de um acordo. Durante as pesquisas, ela encontrou apenas dois casais que afirmaram ter uma “relação aberta”. Na opinião do terapeuta de casais Enrique Maia, a monogamia continua sendo algo muito forte na cultura ocidental.

– Pode haver uma liberdade maior dentro do relacionamento conjugal. Isso quer dizer: não te obrigo a estar comigo, mas quero exclusividade, não por imposição, mas por uma questão de escolha.

O livre arbítrio seria a tônica das relações. Consequentemente, pular a cerca deixaria de ser uma fuga para frustrações.

– Casar-se mais tarde, deixar os filhos para depois, ser independente economicamente e buscar mais intimidade são fatores que facilitariam a escolha mais certa. Para que trair se eu quero essa pessoa? – conclui a antropóloga.

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