Por 12 anos, o prédio 406 da rua Orestes Guimarães, na região Central de Joinville, não contou com nenhuma atividade a não ser as ações naturais do tempo que transformavam a segunda unidade educacional pública construída na cidade em um prédio abandonado e condenado. Inaugurado em 1935 para abrigar a Escola de Educação Básica Prof. Germano Timm, exerceu esta função por sete décadas até que um novo prédio para a escola foi inaugurado no terreno ao lado, em 2006. Desativado, foi interditado pela Vigilância Sanitária no ano seguinte, suas portas e janelas foram lacradas e, enquanto promessas de novas utilizações eram jogadas ao vento, a estrutura apodrecia, pedaços da cobertura caíam e a vegetação crescia ao redor.
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Desde o Festival de Dança de 2018, a antiga sede da Escola Germano Timm voltou a ser atingida pela luz do sol e há não só movimentação novamente pelas suas salas de aula, mas também desenvolvimento e evolução. O imóvel foi cedido pelo Governo do Estado de Santa Catarina ao Instituto Festival de Dança de Joinville em 20 de dezembro de 2017, para utilização por 20 anos.
— Passávamos sempre em frente ao prédio e o víamos caindo aos pedaços. Conversando um dia com a Simone Schramm (então secretária executiva da Agência de Desenvolvimento Regional de Joinville) perguntamos: e o Germano Timm? Em uma semana, eu já tinha falado com o governador e [o termo de cessão] já estava publicado no Diário Oficial — recorda o presidente do Instituto Festival de Dança, Ely Diniz.
Apenas sete meses se passaram entre a assinatura do termo de permissão de uso do imóvel e as primeiras aulas de danças em uma estrutura que tinha previsão de orçamento para revitalização de até 2,5 milhões. Baseada em doações e em financiamento coletivo, o restauro do local custou pouco mais de R$ 550 mil. As principais empresas apoiadoras têm seus nomes em placas sobre as portas das seis salas de aula, e os colaboradores que ajudaram via financiamento coletivo tem seu nome estampado em uma parede externa.
— Muita gente que ajudou nem vem a Joinville, nem conhecia o Festival de perto. Os investimentos vieram de São Paulo, de Minas Gerais, do Rio de Janeiro, de tudo quanto é lugar — conta o presidente do Instituto.
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Também sob votação popular, o prédio ganhou o nome Saltare Centro de Dança. Durante as duas semanas de julho em que ocorre o Festival de Dança, a estrutura é exclusiva do evento — neste ano, 36 cursos ocorreram no local. No resto do ano, funciona como escola de dança e incubadora de projetos, atendendo gratuitamente pelo menos 800 estudantes de escolas públicas de Joinville e colaborando na manutenção de grupos de dança e no empreendedorismo dos artistas.
— Ele está vivo, está em atividade o tempo todo. Queremos fazer atividades que as escolas de dança não fazem. Quando mais qualificados forem os professores, melhor será o resultado que teremos no Festival e na dança de Joinville o ano inteiro — avalia Ely.

Árvores cresciam entre o piso
No início do ano passado, quando o Instituto começou a operação de revitalização da antiga escola, levou uma semana apenas para poder "entrar" no prédio e verificar a situação real da estrutura. Após a retirada dos tapumes, era necessário limpar o prédio que havia sido tomado pela vegetação depois de mais de uma década fechado.
— Havia árvores nas salas de aula, que nasceram pelo piso, cresceram e derrubaram o teto. Tiramos muitas caçambas de mato, entulho e lixo. Depois que entramos, corremos atrás da documentação para iniciar o restauro — lembra Victor Aronis, que ficou responsável pela coordenação do processo.
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Ainda que o maior problema, à primeira vista, parecesse as revoadas de todo tipo de cupim que invadiam as madeiras, o concreto e o terreno, nada se comparava ao apodrecimento causado pela falta de ventilação, principalmente no lado direito do prédio. Mesmo assim, boa parte dos caibros de madeira puderam ser recuperados e reutilizados. A antiga escola, que foi registrada como patrimônio cultural de Joinville em 2009, foi restaurada com poucas adaptações da escola original para que fosse transformada em centro de dança, como remoção de paredes que deixaram algumas salas mais espaçosas e colocação de piso próprio para aulas de dança.
— Isso tudo aconteceu em quatro meses, porque a gente não podia mexer no prédio até a liberação do alvará de reforma da prefeitura. Então, fomos limpando e procurando fornecedores até o novo projeto ser aprovado pela Comissão de Patrimônio. Isso foi até março, em junho ficou pronto e, em julho, já estávamos utilizando as instalações para o Festival de Dança — conta Victor.

Aulas são abertas à comunidade
As atividades no Saltare Centro de Dança começaram com o Festival de 2018, mas, em 2019, foram ampliadas para atender a comunidade em projetos sociais. Desde março, o Projeto Passo Cultural recebe aproximadamente 800 crianças do Programa Dançando na Escola, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação. Eles tem aulas gratuitas de balé, danças urbanas, dança contemporânea e jazz.
Há, também, cursos como teatro musical, danças urbanas, balé, dança chinesa, dança contemporânea e jazz, com mensalidades que custam de R$ 100 a R$ 290. Estas aulas são oferecidas por professores que podem atuar de forma independente, sem a necessidade de montar academias ou trabalhar para outros profissionais. Grupo de dança da cidade também podem apresentar projetos para utilizar o espaço gratuitamente, garantindo a eles espaços de reunião e ensaio.
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Outro tipo de empreendedorismo também encontrou raiz no Saltare: criada em 2016 para produção de bolos em pote, a Mães de Sapatilha foi a empresa selecionada para ocupar a sala destinada à cafeteria. Com isso, Soraya Maio, Karina Gondim e Nelci Cesco – vindas de cidades do interior de São Paulo e do Recife para acompanhar os filhos que foram selecionados para estudar na Escola Bolshoi – deixaram a itinerância para abrir a própria lanchonete.
— Acho que conseguimos entender melhor os bailarinos. Eles vêm com pedidos de produtos diferentes, sem carboidrato, sem glúten, e damos um jeito de preparar mesmo se não estiver no cardápio — analisa Soraya.
Agende-se:
O Saltare Centro de Dança está localizado na Rua Orestes Guimarães, 406, América. É possível agendar aula experimental pelo e-mail para festivaldedanca@ifdj.com.br. Os alunos de rede municipal de ensino podem entrar em contato com a secretaria da própria escola para se inscrever no projeto Dançando na Escola.