Dados são a nova moeda do momento. Estamos ouvindo de tudo no crescente hype desta matéria-prima tecnológica e suas múltiplas aplicações na sociedade. Mas o que acontece quando cientistas de dados usam seus conhecimentos para lidar com a complexidade de problemas socioambientais?

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Grandes empresas como Google, Uptake e Uber já estão propondo as primeiras respostas a essa pergunta. A crescente interdependência entre indivíduos e organizações aumenta a complexidade dos problemas que estamos enfrentando como sociedade. Mas, ao mesmo tempo, gera uma densa malha de dados a ser compreendida.

Quanto mais infraestrutura de tecnologia, competências técnicas e habilidade para lidar com problemas complexos, mais poder de navegação um indivíduo ou organização tem em um futuro analítico. No mundo da ciência de dados para impacto positivo, há três atuações principais:

Para empresas, a filantropia de dados

Imagine a quantidade de dados que uma grande empresa de telefonia coleta de seus usuários em um determinado país. O total de ligações, seus posicionamentos e duração; total de SMS mandados e recebidos, cobertura de dados móveis. Agora imagine também o potencial positivo disso na gestão de crises que envolvem toda a população, como no caso de catástrofes climáticas, compartilhando informações com governos para estimar a partir do sinal de rede móvel o número de pessoas que estavam em uma determinada área atingida e ajudar com as buscas.

Ou ainda: imagine o potencial de uso de dados coletados por aplicativos de navegação GPS e como eles podem ser úteis para entender melhor as dinâmicas de deslocamento em cidades, contribuindo para políticas públicas de mobilidade urbana. A filantropia de dados, então, é feita por empresas que já coletam grandes quantidades de dados e deixam disponíveis extratos anônimos para serem usados com impacto socioambiental positivo.

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Para organizações de impacto, a cultura analítica

Nem sempre organizações de impacto — ONGs, Negócios Sociais, Institutos, Fundações e outros atores que têm como base das suas atividades impacto socioambiental — geram quantidades realmente massivas de dados. Porém, tanto um olhar estratégico para o small data interno quanto para as diversas fontes de dados secundários disponíveis é fundamental para sair do achismo e prestar contas à sociedade em relação ao impacto positivo gerado.

Para que organizações de impacto melhorem a performance, deem escala ao seu impacto e proponham intervenções mais precisas usando dados, é necessário desenvolver uma mentalidade analítica, baseada em valores humanos como ética, propósito e colaboração, e tornar sua atuação mais efetiva e clara.

Para cientistas de dados, o Ubuntu

Não a distribuição Linux, mas o conceito de interdependência entre indivíduo e comunidade. Profissionais que usam dados na academia, no mercado, no governo ou em qualquer outro âmbito da sociedade são profissionais capacitados em organizar minúsculos pedaços de informação para deles extrair grandes conclusões e direcionamentos. São profissionais que têm ferramentas poderosas para lidar com a complexidade gigantesca da quantidade de dados que geramos todos os dias e, igualmente, tem um enorme potencial de transformação quando dedicam suas competências para uma situação-problema social ou ambiental.

O mundo está descobrindo que cientistas de dados têm nas suas mãos a oportunidade de canalizar todo o seu conhecimento para iniciativas que visam ao bem comum. Dentre novas possibilidades que estão surgindo está a do Social Good Brasil (SGB), organização precursora de tendências para impacto e inovação social que desenvolve projetos levantando a bandeira do uso de dados para o bem comum, que está localizada em Florianópolis (SC).

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Com a crença de que a tecnologia impulsiona o impacto quando é unida às competências humanas necessárias, a ideia de democratizar esse conhecimento sobre dados e como utilizá-los para gerar impacto positivo é um dos grandes objetivos do SGB. Por isso, no Festival SGB, encontro anual que conecta inovação, competências do futuro e tecnologias para o bem comum, um palco dedicado exclusivamente ao tema de “Data for Good”, ou Dados para o Bem, que acontecerá paralelamente ao palco principal. Para saber mais informações, acesse: sgb.org.br/festival.

As possibilidades são infinitas quando indivíduos e organizações estão profundamente comprometidos em unir forças para intervir de forma incisiva em problemas complexos da nossa sociedade. Não há mais dúvidas que estamos caminhando para um futuro analítico, porém cabe a nós criá-lo desde já da forma mais colaborativa, igualitária e radicalmente diversa.

Texto por Bruno Evangelista, coordenador do Laboratório SGB.